Brasília from Todos os contos

Written in Portuguese by Clarice Lispector

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Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado. Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo. Nós somos todos deformados pela adaptação à liberdade de Deus. Não sabemos como seríamos se tivéssemos sido criados em primeiro lugar e depois o mundo deformado às nossas necessidades. Brasília ainda não tem o homem de Brasília. Se eu dissesse que Brasília é bonita veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia veem nisso uma acusação. Mas a minha insônia não é bonita nem feia, minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. É ponto e vírgula. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério. – Quando morri, um dia abri os olhos e era Brasília. Eu estava sozinha no mundo. Havia um táxi parado. Sem chofer. Ai que medo. – Lucio Costa e Oscar Niemeyer, dois homens solitários. – Olho Brasília como olho Roma: Brasília começou com uma simplificação final de ruínas. A hera ainda não cresceu.

Além do vento há uma outra coisa que sopra. Só se reconhece pela crispação sobrenatural do lago. – Em qualquer lugar onde se está de pé, criança pode cair, e para fora do mundo. Brasília fica à beira. – Se eu morasse aqui deixaria meus cabelos crescerem até o chão. – Brasília é de um passado esplendoroso que já não existe mais. Há milênios desapareceu esse tipo de civilização. No século IV a.C. era habitada por homens e mulheres louros e altíssimos que não eram americanos nem suecos e que faiscavam ao sol. Eram todos cegos. É por isso que em Brasília não há onde esbarrar. Os brasiliários vestiam-se de ouro branco. A raça se extinguiu porque nasciam poucos filhos. Quanto mais belos os brasiliários, mais cegos e mais puros e mais faiscantes, e menos filhos. Os brasiliários viviam cerca de trezentos anos. Não havia em nome de que morrer. Milênios depois foi descoberta por um bando de foragidos que em nenhum outro lugar seriam recebidos: eles nada tinham a perder. Ali acenderam fogo, armaram tendas, pouco a pouco escavando as areias que soterravam a cidade. Esses eram homens e mulheres, menores e morenos, de olhos esquivos e inquietos, e que, por serem fugitivos e desesperados, tinham em nome de que viver e morrer. Eles habitaram as casas em ruínas, multiplicaram-se, constituindo uma raça humana muito contemplativa. – Esperei pela noite como quem espera pelas sombras para poder se esgueirar. Quando a noite veio percebi com horror que era inútil: onde eu estivesse eu seria vista. O que me apavora é: vista por quem? – Foi construída sem lugar para ratos. Toda uma parte nossa, a pior, exatamente a que tem horror de ratos, essa parte não tem lugar em Brasília. Eles quiseram negar que a gente não presta. Construção com espaço calculado para as nuvens. O inferno me entende melhor. Mas os ratos, todos muito grandes, estão invadindo. Essa é uma manchete invisível nos jornais. – Aqui eu tenho medo. – A construção de Brasília: a de um Estado totalitário. – Este grande silêncio visual que eu amo. Também a minha insônia teria criado esta paz do nunca. Também eu, como eles dois que são monges, meditaria nesse deserto. Onde não há lugar para as tentações. Mas vejo ao longe urubus sobrevoando. O que estará morrendo, meu Deus? – Não chorei nenhuma vez em Brasília. Não tinha lugar. – É uma praia sem mar. – Em Brasília não há por onde entrar, nem há por onde sair. – Mamãe, está bonito ver você em pé com esse capote branco voando. (É que morri, meu filho). – Uma prisão ao ar livre. De qualquer modo não haveria para onde fugir. Pois quem foge iria provavelmente para Brasília. – Prenderam-me na liberdade. Mas liberdade é só o que se conquista. Quando me dão, estão me mandando ser livre. – Todo um lado de frieza humana que eu tenho, encontro em mim aqui em Brasília, e floresce gélido, potente, força gelada da Natureza. Aqui é o lugar onde os meus crimes (não os piores, mas os que não entenderei em mim), onde os meus crimes gélidos têm espaço. Vou embora. Aqui meus crimes não seriam de amor. Vou embora para os meus outros crimes, os que Deus e eu compreendemos. Mas sei que voltarei. Sou atraída aqui pelo que me assusta em mim. – Nunca vi nada igual no mundo. Mas reconheço esta cidade no mais fundo de meu sonho. O mais fundo de meu sonho é uma lucidez. – Pois como eu ia dizendo, Flash Gordon… – Se tirassem meu retrato em pé em Brasília, quando revelassem a fotografia só sairia a paisagem. – Cadê as girafas de Brasília? – Certa crispação minha, certos silêncios, fazem meu filho dizer: puxa vida, os adultos são de morte. – É urgente. Se não for povoada, ou melhor, superpovoada, será tarde demais: não haverá lugar para pessoas. Elas se sentirão tacitamente expulsas. – A alma aqui não faz sombra no chão. – Nos primeiros dois dias fiquei sem fome. Tudo me parecia que ia ser comida de avião. – De noite estendi meu rosto para o silêncio. Sei que há uma hora incógnita em que o maná desce e umedece as terras de Brasília. – Por mais perto que se esteja, tudo aqui é visto de longe. Não encontrei um modo de tocar. Mas pelo menos essa vantagem a meu favor: antes de chegar aqui, eu já sabia como tocar de longe. Nunca me desesperei demais: de longe, eu tocava. Tive muito, e nem aquilo que eu toquei, sabe. Mulher rica é assim. É Brasília pura. – A cidade de Brasília fica fora da cidade. – Boys, boys, come here, will you, look who is coming on the street all dressed up in modernistic style. It ain’t nobody but… (Aunt Hagar’s Blues, Ted Lewis and his Band, com Jimmy Dorsey na clarineta.) – Essa beleza assustadora, esta cidade, traçada no ar. – Por enquanto não pode nascer samba em Brasília. – Brasília não me deixa ficar cansada. Persegue um pouco. Bem-disposta, bem-disposta, bem-disposta, sinto-me bem. E afinal sempre cultivei meu cansaço, como a minha mais rica passividade. – Tudo isso é hoje apenas. Só Deus sabe o que acontecerá em Brasília. É que aqui o acaso é abrupto. – Brasília é mal-assombrada. É o perfil imóvel de uma coisa. – De minha insônia olho pela janela do hotel às três horas da madrugada. Brasília é a paisagem da insônia. Nunca adormece. – Aqui o ser orgânico não se deteriora. Petrifica-se. – Eu queria ver espalhadas por Brasília quinhentas mil águias do mais negro ônix. – Brasília é assexuada. – O Primeiro instante de ver é como certo instante da embriaguez: os pés não tocam na terra. – Como a gente respira fundo em Brasília. Quem respira começa a querer. E querer é que não pode. Não tem. Será que vai ter? É que não estou vendo onde. – Não me espantaria cruzar com árabes na rua. Árabes antigos e mortos. – Aqui morre minha paixão. E ganho uma lucidez que me deixa grandiosa à toa. Sou fabulosa e inútil, sou de ouro puro. E quase mediúnica. – Se há algum crime que a humanidade ainda não cometeu, esse crime novo será aqui inaugurado. E tão pouco secreto, tão bem adequado ao planalto, que ninguém jamais saberá. – Aqui é o lugar onde o espaço mais se parece com o tempo. – Tenho certeza de que aqui é o meu lugar certo. Mas é que a terra me viciou demais. Tenho maus hábitos de vida. – A erosão vai desnudar Brasília até o osso. – O ar religioso que senti desde o primeiro instante, e que neguei. Esta cidade foi conseguida pela prece. Dois homens beatificados pela solidão me criaram aqui de pé, inquieta, sozinha, a esse vento. – Fazem tanta falta cavalos brancos soltos em Brasília. De noite eles seriam verdes ao luar. – Eu sei o que os dois quiseram: a lentidão e o silêncio, que também é a ideia que faço da eternidade. Os dois criaram o retrato de uma cidade eterna. – Há alguma coisa aqui que me dá medo. Quando eu descobrir o que me assusta, saberei também o que amo aqui. O medo sempre me guiou para o que eu quero. E porque eu quero, temo. Muitas vezes foi o medo que me tomou pela mão e me levou. O medo me leva ao perigo. E tudo o que eu amo é arriscado. – Em Brasília estão as crateras da Lua. – A beleza de Brasília são as suas estátuas invisíveis. 

Estive em Brasília em 1962. Escrevi sobre ela o que foi agora mesmo lido. E agora voltei doze anos depois por dois dias. E escrevi também. Aí vai tudo o que eu vomitei. 

Atenção: vou começar. 

Esta peça é acompanhada pela valsa Sangue Vienense, de Strauss. São 11h20 da manhã do dia 13. 

 

Brasília: Esplendor 

Brasília é uma cidade abstrata. E não há como concretizá-la. É uma cidade redonda e sem esquinas. Também não tem botequim para a gente tomar um cafezinho. É verdade, juro que não vi esquinas. Em Brasília não existe cotidiano. A catedral pede a Deus. São duas mãos abertas para receber. Mas Niemeyer é um irônico: ele ironizou a vida. Ela é sagrada. Brasília não admite diminutivo. Brasília é uma piada estritamente perfeita e sem erros. E a mim só me salva o erro. 

A igreja de São Bosco tem vitrais tão esplêndidos que me quedei muda sentada no banco, não acreditando que fosse verdade. Aliás a época que estamos atravessando é fantástica, é azul e amarela, e escarlate e esmeralda. Meu Deus, mas que riqueza. Os vitrais têm luz de música de órgão. Essa igreja tão assim iluminada é no entanto acolhedora. O único defeito é o inusitado lustre redondo que parece coisa de novo-rico. A igreja ficaria pura sem o lustre. Mas que é que se há de fazer? Ir de noite, bem no escuro, roubá-lo? 

Depois fui à Biblioteca Nacional. Atendeu-me uma jovem russa que se chama Kira. Vi rapazes e moças estudando e namorando: coisa totalmente compatível. E louvável, é claro. 

Paro um instante para dizer que Brasília é uma quadra de tênis. 

Faz lá um friozinho revigorante. Que fome, mas que fome. Perguntei se havia muito crime na cidade. Disseram-me que no satélite de Grama (é mesmo este o nome?) há uns três homicídios por semana. (Interrompi os crimes para comer). A luz de Brasília me deixou cega. Esqueci os óculos escuros no hotel e fui invadida por uma terrível luz branca. Mas Brasília é vermelha. E é completamente nua. Não há jeito da gente não ser exposta nessa cidade. Embora haja ar sem poluição: respira-se bem, um pouco bem demais, o nariz seco. 

Brasília nua me deixa beatificada. E doida. Em Brasília tenho que pensar entre parênteses. Me prendem por viver? É isso mesmo. 

Eu não passo de frases ouvidas por acaso. Na rua, ao atravessar o trânsito, ouvi assim: “Foi por necessidade”. E no cinema Roxy, no Rio de Janeiro, ouvi duas mulheres gordas dizerem: “De manhã ela dormia e de noite acordava”. “Ela não tem resistência física.” Em Brasília tenho resistência física, enquanto que no Rio sou meio mole, meio doce. E ouvi a frase seguinte das mesmas mulheres gordas que eram baixas: “Que é que ela tem que fazer lá?” E foi assim, minha gente, que fui expulsa. 

Brasília tem euforia no ar. Eu disse para o chofer do táxi amarelo: hoje parece segunda-feira, não é? “É”, respondeu ele. E nada mais foi dito. Eu queria tanto dizer a ele que estive na adoradíssima Brasília. Mas ele não quis saber. Às vezes sobro. 

Então fui ao dentista, ouviu, Brasília? eu me cuido. Devo ler revista odontológica só porque estou na sala de espera do dentista? Depois que sentei na magnífica cadeira de morte do dentista, cadeira elétrica, e vi uma máquina me olhando, chamada “Atlante 200”. Olhou foi à toa, porque eu não tinha cárie. Brasília não tem cárie. É terra forte, essa. E não é de brincadeira. Joga alto e é para ganhar. Eu e Merquior demos grandes gargalhadas que ainda me ressoam no Rio. Fui irremediavelmente impregnada por Brasília. 

Prefiro o entrelaçamento carioca. Fui delicadamente acarinhada em Brasília mas morri de medo de ler a minha palestra. (Noto aqui um acontecimento que me espanta: estou escrevendo no passado, no presente e no futuro. Estarei sendo levitada? Brasília sofre de levitação.) Eu me meto em cada uma, que vou te contar. Mas é bom porque é arriscado. Acreditem ou não: enquanto eu lia as palavras, eu por dentro rezava. Mas, de novo, é bom por ser arriscado. Agora me pergunto: se não há esquinas, onde ficam as prostitutas de pé fumando? ficam sentadas no chão? E os mendigos? têm carro? pois só se pode andar de carro lá. 

A luz de Brasília leva às vezes ao êxtase e à plenitude total. Mas também é agressiva e dura – ah, como eu gostaria da sombra de uma árvore. Brasília tem árvores. Mas ainda não convencem. Parecem de plástico. 

Vou agora escrever uma coisa da maior importância: Brasília é o fracasso do mais espetacular sucesso do mundo. Brasília é uma estrela espatifada. Estou abismada. É linda e é nua. O despudoramento que se tem na solidão. Ao mesmo tempo fiquei com vergonha de tirar a roupa para tomar banho. Como se um gigantesco olho verde me olhasse implacável. Aliás Brasília é implacável. Senti-me como se alguém me apontasse com o dedo: como se pudessem me prender ou tirar meus documentos, a minha identidade, a minha veracidade, o meu último hálito íntimo. Ai se a radiopatrulha me pega e me sova! aí eu lhes digo a pior palavra da língua portuguesa: sovaco. E eles caem mortos. Mas para ti, meu amor, sou mais delicada e digo baixinho: axilas… 

Brasília tem cheiro de pasta de dentes. E quem não é casado, ama sem paixão. Simplesmente transa sexo. Mas quero voltar, quero tentar decifrar o seu enigma. Quero sobretudo conversar com os universitários. Quero que eles me convidem para participar dessa aridez luminosa e cheia de estrelas. Será que alguém morre em Brasília? Não. Nunca. Nunca ninguém morre porque lá não se pode fechar os olhos. Lá há hibernação: o ar deixa uma pessoa entorpecida durante anos, uma pessoa que depois vive de novo. O clima é desafiador e chicoteia um pouco a gente. Mas falta magia em Brasília, falta macumba. Não quero que Brasília me rogue praga: pois pega. Rezo. Rezo muito. Ai que Deus bom. Tudo lá é às claras e quem quiser que se vire. Embora os ratos adorem a cidade. Qual será a comida deles? ah, já sei: eles comem carne humana. Escapei como pude. E parecia teleguiada. 

Dei inúmeras entrevistas. Modificaram o que eu disse. Não dou mais entrevistas. E se o negócio é mesmo na base da invasão de minha intimidade, então que seja paga. Disseram-me que nos Estados Unidos é assim. E tem mais: eu sozinha, é um preço, mas se entra o meu precioso cachorro, cobro mais. Se me distorcerem, cobro multa. Desculpem, não quero humilhar ninguém mas não quero ser humilhada. Eu disse lá que iria possivelmente à Colômbia e escreveram que eu ia à Bolívia. Trocaram o país à toa. Mas não tem perigo: de minha vida mesma eu só concedo dizer que tenho dois filhos. Não sou importante, sou uma pessoa comum que quer um pouco de anonimato. Detesto dar entrevistas. Ora essa, sou uma mulher simples e um pouquinho sofisticada. Misto de camponesa e de estrela no céu. 

Adoro Brasília. É contraditório? Mas o que é que não é contraditório? Só se anda de carro pelas ruas despovoadas. Quando eu tinha carro e dirigia, vivia me perdendo. Nunca sabia onde vir e aonde chegar. Sou desorientada na vida, na arte, no tempo e no espaço. Que coisa, por Deus. 

Lá as pessoas se jantam e se almoçam – é para ter gente que as povoe. Isto é bom e muito agradável. É a humanização lenta de uma cidade que por algum motivo oculto é penosa. Gostei muito, me acariciaram tanto em Brasília. Mas havia pessoas que queriam que eu fosse embora a jatíssimo. Eu lhes atrapalhava a rotina. Para essas pessoas eu era uma novidade incômoda. Viver é dramático. Mas não há escapatória: nasce-se. 

Como será quem nasce em Brasília quando crescer e virar homem? Porque a cidade é habitada por forasteiros nostálgicos. Os exilados. Os que nascem lá serão o futuro. Futuro faiscante como aço. Se eu ainda estiver viva, aplaudirei o produto estranho e altamente novo que surgirá. Será proibido fumar? Será proibido tudo, meu Deus? Brasília parece uma inauguração. Todos os dias é inaugurada. Festejos, minha gente, festejos. Que se ergam as bandeiras. 

Quem me quer em Brasília? Então quem me quiser que me chame. Não já, porque ainda estou atordoada. Mas daqui a algum tempo. A serviço. Brasília é a serviço. Quero falar com a camareira que me disse ao descobrir quem eu era: eu tinha tanta vontade de escrever! Eu disse: vá, mulher, e escreva. Respondeu: mas eu já sofri tanto. Eu disse severamente: pois vá e escreva sobre o que você sofreu. 

Porque é preciso que alguém chore em Brasília. Os olhos dos habitantes são secos demais. Então – então eu estou me oferecendo para chorar. Eu e minha camareira, nós, as coleguinhas. Ela me disse: quando vi a senhora senti um arrepio no braço. Disse-me que era médium. 

É. Estou arrepiada. E sinto calafrios. Que Deus me acuda. Estou muda que nem uma lua. 

Brasília é tempo integral. Tenho medo, pânico dela. É lugar ideal para se tomar sauna. Sauna? Sim. Porque lá não se sabe o que fazer de si. Olha para baixo, olha para cima, olha para o lado – e a resposta é um berro: nããããããão! Brasília dá um fora na gente que mete medo. Por que me sinto tão culpada lá? que foi que fiz? e por que não ergueram bem no centro da cidade um grande Ovo branco? É que não tem centro. Mas o Ovo faz falta. 

Que roupa se usa em Brasília? Metálica? 

Brasília é o meu martírio. E não tem substantivo. É só adjetivo. E como dói. Ah, meu Deusinho, me dá um substantivinho, pelo amor de Deus! Ah, não quer dar? então faz de conta que eu nada falei. Sei perder. 

Oh aeromoça, vê se me dá um sorriso menos número! Isso é lá sanduíche que se coma? todo desidratado? Mas faço como Sérgio Porto: me disseram que num avião a aeromoça lhe perguntou: o senhor aceita um cafezinho? E ele respondeu: aceito tudo a que tenho direito. 

Em Brasília nunca é de noite. É sempre implacavelmente de dia. Castigo? Mas que foi que fiz de errado, meu Deus? Não quero saber, diz Ele, castigo é castigo. 

Em Brasília não se tem praticamente onde cair morto. Mas tem uma coisa: Brasília é proteína pura. Eu disse ou não disse que Brasília é uma quadra de tênis? Pois Brasília é sangue numa quadra de tênis. E eu? onde estou? eu? pobre de mim, com o lençol manchado de escarlate. Me mato? Não. Vivo como bruta resposta. Estou aí para quem me quiser. 

Mas Brasília é som oposto. E ninguém nega que Brasília é: goooooooool! Embora entorte um pouco o samba. Quem é? quem é que canta aleluia e eu ouço com alegria? Quem é que atravessa como espada afiadíssima a futura e sempre futura cidade de Brasília? Repito: proteína pura, que és. Me fertilizou. Ou sou eu mesma a cantar? Me ouço comovida. Há Brasília no ar. No ar infelizmente sem o apoio indispensável de esquina para se viver. Será que eu já disse que em Brasília não se vive? se mora. Brasília é osso seco de puro espanto no sol inclemente da praia. Ah cavalo branco mas que crina agreste. Ai, não posso mais esperar. Um aviãozinho, por favor. E o lívido luar que entra pelo quarto adentro e me assiste, eu, pálida, branca, sestrosa. 

Estou sem esquina. Meu rádio de pilha não pega música. Que é que há? Assim também não. Me repito? E dói? 

Pelo amor de Seus (até errei de susto a palavra Deus), pelo amor de Deus, por favor me desculpem os que moram em Brasília por eu estar dizendo o que forçadamente digo, eu, uma humilde escrava da verdade. Não quero ofender ninguém. É apenas uma questão de luz branca demais. Tenho olhos sensíveis, fico invadida pela claridade alva e tanta terra vermelha. 

Brasília é um futuro que aconteceu no passado. 

Eterna como uma pedra. A luz de Brasília – estou me repetindo? – a luz de Brasília fere o meu pudor feminino. É só isso, minha gente, é só isso. 

Fora disso, viva Brasília! Eu ajudo a hastear a bandeira. E perdoo a bofetada que me dão no meu rosto pobre. Ai, coitadinha de mim. Tão sem mãe. É dever ter mãe. É coisa da natureza. Sou a favor de Brasília. 

No ano 2000 vai ter festa lá. Se eu ainda estiver viva, quero participar da alegria. Brasília é uma alegria geral exagerada. Um pouco histérica, é verdade, mas não faz mal. Gargalhadas no corredor escuro. Eu gargalho, tu gargalhas, ele gargalha. Três. 

Em Brasília não tem poste para cachorro fazer pipi. Falta tanto um pipi-dog. Mas Brasília é joia, meu senhor. Lá tudo funciona como deve. Brasília me encerra em ouro. Vou é ao cabeleireiro. Estou falando do Rio. Alô, Rio! Alô! Alô! estou realmente assustada. Que Deus me acuda. 

Mas tem hora que vou lhe dizer, meu amigo, tem hora em que Brasília é um cabelo na sopa. Sou muito ocupada, Brasília, vá para o diabo e me deixe em paz. Brasília fica em lugar nenhum. A atmosfera é de indignação e você sabe por quê. Brasília: antes de nascer já nasceu, a prematura, a nascitura, o feto, eu enfim. Ai que safadeza. 

Em Brasília não entra qualquer um, não. É preciso nobreza, muita sem-vergonhice e muita nobreza. Brasília não é. É apenas o retrato de si própria. Eu te amo, oh extrósima! oh palavra que inventei e que não sei o que quer dizer. Oh furúnculo! pus cristalizado mas de quem? Atenção: há esperma no ar. 

Eu, a escriba. Eu, a infeliz definidora por destino. Brasília é o contrário de Bahia. Bahia é nádegas. Ah que saudade da embebida praça de Vendôme. Ah que saudade da praça Maciel Pinheiro em Recife. Tanta pobreza de alma. E tu a exigires de mim. Eu, que nada posso. Ah que saudade de meu cachorro. Tão íntimo que ele é. Mas um jornal tirou o retrato dele e ele ficou na boca da rua. Eu e ele. Nós, irmãozinhos de São Francisco de Assis. Calados fiquemos: é melhor para nós. 

Ai que te pego, Brasília! E vais sofrer torturas terríveis nas minhas mãos! Você me incomoda, ó gélida Brasília, pérola entre os porcos. Oh apocalíptica. 

E de repente a grande desgraça. O estrondo, Por quê? Ninguém sabe. Oh Deus, como é que eu não vi logo? pois não é que Brasília é a “A Saúde da Mulher”? Brasília diz que quer mas não quer: negaceia. Brasília é um dente quebrado bem na frente. E é cúpula também. Tem um motivo principal. Qual é? segredo, muito segredo, sussurros, cochichos e chichos. Diz-que-diz que não acaba mais. 

Saudável, saudável. Aqui sou professora de Educação Física. Dou trambolhões. É isto mesmo: faço o inferno. Brasília é o inferno paradisíaco. É uma máquina de escrever: toc-toc-toc. Quero dormir! me deixem em paz!!! Estou can-sa-da. De ser in-com-pre-en-sí-vel. Mas não quero que me compreendam senão perco a minha intimidade sagrada. É muito grave o que estou falando, muito grave mesmo. Brasília é o fantasma de um velho cego com cajado fazendo toc-toc-toc. E sem cachorro, coitado. E eu? como posso ajudar? Brasília se ajuda. É um violino fino, fino, fino. Falta violoncelo. Mas que estrondo. Não se precisava disso, não. Eu afianço. Embora Brasília não tenha fiador. 

Quero voltar a Brasília para o apartamento 700. Assim ponho o pingo no “i”. Mas Brasília não flui. Ela é ao contrário. Assim: iulf (flui). 

Ela é doida porém funciona. Como detesto a palavra “porém”. Só uso porque é preciso. 

Quando anoitece Brasília se torna Zebedeu. Brasília é farmácia noite e dia. 

A moça me revistou toda no aeroporto. Eu perguntei: tenho cara de subversiva? Ela disse rindo: até que tem. Nunca me apalparam tanto, Virgem Maria, até que é pecado. Foi um tal de passar a mão em mim que nem sei como aguentei. 

Brasília é magra. É toda elegante. Usa peruca e cílios postiços. É pergaminho dentro de Pirâmide. Não envelhece. É Coca-Cola, meu Deus, e vai me sobreviver. Que pena. Para a Coca-Cola, é claro. Socorro! Socorro! help me! Sabe qual é a resposta de Brasília ao meu pedido de socorro? É oficial: aceita um cafezinho? E eu? fico sem socorro? Me trate bem, ouviu? assim… assim… bem devagarzinho. Isso. Isso. Que alívio. Felicidade, meu bem, é alívio. Brasília é um pontapé no traseiro. É lugar para português enriquecer. E eu que jogo no bicho e não ganho? 

Mas que nariz bonito Brasília tem. É delicado. 

Você sabia que Brasília é etc.? Pois fique sabendo. Brasília é XPTR… quantas consoantes você quiser mas nenhuma vogal para se descansar. E Brasília, ó meu senhor, me desculpe, mas Brasília ficou por isso mesmo. 

Olhe, Brasília, não sou dessas que andam por aí, não. Mais respeito, faça o favor. Sou uma viajante espacial. Muito respeito eu exijo. Muito Shakespeare. Ah que eu não quero morrer! Ai, que suspiro. Mas Brasília é a espera. E eu não aguento esperar. Fantasma azul. Ah, como incomoda. É como tentar lembrar-se e não conseguir. Quero esquecer Brasília mas ela não deixa. Que ferida seca. Ouro. Brasília é ouro. Joia. Faiscante. Tem coisa sobre Brasília que eu sei mas não posso dizer, não deixam. Adivinhem. 

E que Deus me acuda. 

Vai, mulher, vai e cumpre o teu destino, mulher. Ser a mulher que sou é dever. Estou neste instante-já hasteando as bandeiras – mas que minuano! – e eu dizendo viva! 

Ai que cansaço. 

Em Brasília é sempre domingo. Mas agora vou falar bem baixinho. Assim: meu amor. Meu grande amor. Tenho dito? Você é que responde. Vou terminar com a palavra mais bonita do mundo. Assim bem devagarzinho: amor mas que saudade. A-m-o-r. Beijo-te. Assim como flor. Boca a boca. Mas que ousadia. E agora – agora paz. Paz e vida. Estou viva. Talvez eu não mereça tanto. Estou com medo. Mas não quero terminar com medo. Êxtase. Yes, my love. Entrego-me. Sim. Pour toujours. Tudo – mas tudo é absolutamente natural. Yes. Eu. Mas sobretudo você que é culpada, Brasília. No entanto eu te desculpo. Não tens culpa de ser tão bela e patética e pungente e doida. Sim, está soprando um vento de Justiça. Então eu digo à Grande Lei Natural: sim. Ó espelho partido: quem é mais bonita que eu? Ninguém, responde o espelho mágico. Sim, bem sei, somos nós duas. Sim! sim! sim! Eu disse sim. 

Peço humildemente socorro. Estão me roubando. Todo o mundo é eu? Espanto geral. Isso não é ventania não, senhor, é ciclone. Estou no Rio. Desci afinal do disco voador. E lá me vem uma amiga a me dizer – olá Carmem Miranda! – a me dizer que existe uma música chamada Boneca de Piche que diz assim mais ou menos: venho apertado com meus calos quentes, quase afogado no meu colarinho, pra ver meu benzinho. 

Aterrissei. Estou com voz fraca mas digo o que Brasília quer que eu diga: bravo! bravíssimo! E chega. Vou agora viver no Rio com o meu cachorro. Peço o favor de fazerem silêncio. Assim: si-lên-cio. Estou tão triste. 

Brasília é um olho azul cintilanterríssimo que me arde no coração. 

Brasília é Malta. Onde fica Malta? Fica no dia do supernunca. Alô! alô! Malta! Hoje é domingo em Nova Iorque. Em Brasília, a fúlgida, já é terça-feira. Brasília simplesmente pula segunda-feira. Segunda é dia de se ir ao dentista, que é que se há de fazer, o que é chato também tem que ser feito, ai de mim. Em Brasília aposto que ainda se dança, que coisa. São seis e vinte da tarde, já quase noite. Às 6h20 não acontece nada. Alô! Alô! Brasília quero resposta, tenho pressa, acabo de assumir a minha morte. Estou triste. O passo é grande demais para as minhas pernas no entanto compridas. Me ajudem a morrer em paz. Como eu disse ou como não disse, quero uma mão amada que aperte a minha na hora de eu ir. Vou sob protesto. Eu. A fantasmagórica. Meu nome não existe. O que existe é um retrato falsificado de um retrato de outro retrato meu. Mas a própria já morreu. Morri no dia 9 de junho. Domingo. Depois de ter almoçado na preciosa companhia dos que amo. Comi frango assado. Estou feliz. Mas falta a verdadeira morte. Estou com pressa de ver Deus. Rezem por mim. Morri com elegância. 

Tenho alma virgem e portanto preciso de proteção. Quem me ajuda? O paroxismo de Chopin. Só você pode me ajudar. No fundo sou sozinha. Há verdades que nem a Deus eu contei. E nem a mim mesma. Sou um segredo fechado a sete chaves. Por favor me poupem. Estou tão só. Eu e meus rituais. O telefone não toca. Dói. Mas é Deus que me poupa. Amém. 

Vocês sabem que eu sei falar língua de cachorro e de planta também? Amém. Mas minha palavra não é a última. Existe uma que não posso pronunciar. E minha história é galante. Sou uma carta anônima. Não assino o que escrevo. Os outros que assinem. Não sou credenciada. Eu? Mas logo eu? Nunca! Preciso de um pai. Quem se candidata? Não, não preciso de pai, preciso do meu igual. Espero a morte. Mas que vento, meu senhor. Vento é coisa que não se pode ver. Pergunto a Nosso Senhor Deus Jeová sobre sua cólera em forma de vento. Só Ele pode explicar. Ou não pode? Se Ele não pode, estou perdida. Ai que te amo e amo tanto que te morro. 

Lembram que falei na quadra de tênis com sangue? Pois o sangue era meu, o escarlate, os coágulos eram meus. 

Brasília é corrida de cavalos. Eu não sou cavalo não. Que Brasília se dane e corra sozinha sem mim. 

Brasília é hiperbólica. Estou suspensa até à última ordem. Eu vivo de teimosa que sou. Aterrissei mesmo. There is no place like home. Como é bom voltar. Ir é bom mas voltar é mais melhor. Isso mesmo: mais melhor. 

O que é supletivo em Brasília? Não sei não, meu senhor. Só sei que tudo é nada e que nada é tudo. Meu cachorro dorme. Eu sou o meu cachorro. Eu me chamo Ulisses. Estamos ambos cansados. Tão, tão cansados. Ai de mim, ai de nós. Silêncio. Durma você também. Ah cidade espantada. Ela se espanta com ela mesma. Estou rançosa. Vou é reclamar como Chopin reclamou sobre a invasão da Polônia. Afinal tenho direitos. Eu sou eu, é assim que os outros dizem. E se dizem, por que não acreditar? Adeus. Estou enfastiada. Vou reclamar. Vou reclamar para Deus. E se Ele puder, que me atenda. Sou uma necessitada. Saí de Brasília com uma bengala. Hoje é domingo. Até Deus descansou. Deus é uma coisa engraçada: Ele se pode a si mesmo e se precisa a si próprio. 

Vim para casa, é verdade, mas não é que minha cozinheira faz literatura? Eu lhe perguntei cadê a Coca-Cola na geladeira. Ela me respondeu, nega bonita que é: ela estava tão cansadinha, então eu botei ela para descansar, coitadinha. Uma vez, há séculos, contei a Paulo Mendes Campos uma frase que minha empregada de então tinha me dito. E ele escreveu qualquer coisa assim: cada um tem a empregada que merece: Minha empregada tem uma voz linda e canta para mim quando eu peço: “Ninguém me ama”. Ela desenha, faz literatura. Tão humilde que fico. Pois não mereço tanto. 

Eu não sou nada. Sou um domingo frustrado. Ou estou sendo ingrata? Muito me foi dado, muito me foi tirado. Quem ganha? Não sou eu não. É alguém hiperbólico. 

Brasília, seja bicho um pouco também. É tão bom. Tão bom mesmo. Não ter pipi-dog é uma ofensa a meu cachorro que nunca irá a Brasília por motivos óbvios. São quinze para as seis. Hora nenhuma. Até Kissinger está dormindo. Ou está num avião? Não há como adivinhar. Feliz aniversário, Kissinger. Feliz aniversário, Brasília. Brasília é um suicídio em massa. Brasília, você está se coçando? eu não, não caio nessa porque quem começa não para de se. Você sabe o resto. 

O resto é paroxismo. 

Ninguém sabe, mas meu cachorro não só fuma como bebe café e come flor. E bebe cerveja. Toma também remédio contra depressão. Parece um mulatinho. O que ele quer é cadela. Ele é de classe média. Eu não deixei o jornal saber tudo. Mas agora é a hora da verdade. Também você tenha a coragem de ler. É um cachorro que só lhe falta escrever. Come caneta e estraçalha papel. Melhor que eu. Ele é filho animal. Nasceu de instantâneo contato da Lua com uma égua. Égua do sol. Ele é uma coisa que Brasília não é. Ele é: bicho. Eu sou bicho. Tenho tanta vontade de me repetir, só para chatear. Meu Deus, voltei atrás no tempo. São exatamente vinte para as seis. E respondo à máquina: yes. A máquina monstruosa. É um telescópio. Que ventania. É ciclone? É. 

Mas que lugar para se ser bonito. Hoje é segunda-feira, dia 10. Como vê, eu não morri. Vou ao dentista. Semana perigosa, essa. Eu falo a verdade. Não a verdade toda, como disse. E se Deus sabe, isso é com Ele. Ele que se arrume. Não sei mas vou me arrumar como posso. Como aleijado. Viver de graça é que não se pode. Pagar para viver? Tenho sobrevida. Igual ao vira-lata Ulisses. Quanto a mim acho que. 

Que vergonha. É meu caso de vergonha pública. Tenho três bisontes na minha vida. Um mais um mais um mais um mais um. O quarto me mata em Malta. Na verdade o sétimo é o mais brilhante. Bisonte, para quem não sabe, é animal de caverna. Desempenho as minhas histórias. Calor humano. Cidade sem medo, essa. Deus é a hora. Vou durar ainda. Ninguém é imortal. Vê lá se encontra um que não morre. 

Morri. Morri assassinada por Brasília. Morri para pesquisar. Rezem por mim porque eu morri de costas. 

Olha, Brasília, fui embora. E que Deus me acuda. É que sou um pouco antes. É só isso. Juro por Deus. E sou um pouco depois também. Que é que há de se fazer. Brasília é vidro partido no chão da rua. Cacos. Brasília é ferrinho de dentista. E muito motocicleta também. Sem deixar de ser ova de peixe, bem frita e bem salgada. Acontece que sou tão ávida da vida, tanto quero dela e aproveito-a tanto e tudo é tanto – que me torno imoral. Isso mesmo: sou imoral. Que bom ser imprópria até dezoito anos. 

Brasília faz ginástica todos os dias às 5 da manhã. Só os baianos de lá é que entram nessa. Fazem poesia. 

Brasília é o mistério classificado em arquivos de aço. Tudo lá se classifica. E eu? quem sou? como é que me classificaram? Deram-me um número? Sinto-me numerificada e toda apertada. Mal caibo dentro de mim. Eu sou um euzinho muito mixa. Mas com certa classe. 

Ser feliz é uma responsabilidade tão grande. Brasília é feliz. Tem essa ousadia. O que será de Brasília no ano, digamos, de 3000? Quanta ossada. Ninguém se lembra do futuro porque não pode ser. As autoridades não deixam. E eu, quem sou? obedeço de puro medo ao mínimo soldado que apareça na minha frente e me diga: considere-se prendida. Ai vou chorar. Sou por um triz. On the verge of

Está se vendo que não sei descrever Brasília. Ela é Júpiter. É palavra bem aplicada. É gramatical demais para o meu gosto. E o pior é que ela exige gramática but I don’t know, sir, I don’t know the rules

Brasília é um aeroporto. Os alto-falantes anunciando fria e cortesmente a partida dos aviões. 

Que mais? é que não se sabe o que fazer em Brasília. Só fazem os que trabalham danadamente, os que danadamente fazem filhos e danadamente se reúnem em jantares de grandes delicadezas. 

Fiquei hospedada no Hotel Nacional. Apartamento 800. E bebi Coca-Cola no quarto. Vivo – boba que sou fazendo propaganda de graça. 

Às sete horas da noite falarei só por alto da vanguarda literária brasileira, já que não sou crítica. Deus me livre de criticar. Tenho um medo seco de enfrentar pessoas que me ouvem. Eletrizada. Aliás Brasília é eletrizada e é computador. Com certeza vou ler depressa demais para acabar logo. Vou ser apresentada à audiência por José Guilherme Merquior. Merquior é sadio demais. Fico honrada e ao mesmo tempo tão humilde. Afinal, quem sou eu para enfrentar um público exigente? Farei o que puder. Uma vez fiz uma palestra na PUC e Affonso Romano de Sant’Anna, não sei que diabo lhe deu a esse ótimo crítico, me fez uma pergunta: dois e dois são cinco? Por um segundo fiquei atônita. Mas me ocorreu logo uma anedota de humor negro: É assim: o psicótico diz que dois e dois são cinco. O neurótico diz: dois e dois são quatro mas eu simplesmente não aguento. Houve então sorrisos e relaxamento. 

Amanhã volto para o Rio, cidade turbulenta de meus amores. Gosto de viajar de avião: amo a velocidade. Com seu Vicente consegui que corresse em Brasília bem depressa com o carro. Sentei-me ao lado dele e conversamos muito. Até logo mais: vou ler enquanto espero que venham me buscar para a conferência. Em Brasília dá vontade de ser bonita. Tive vontade de me enfeitar. Brasília é arriscada e eu amo o risco. É uma aventura: me deixa face a face com o desconhecido. Vou dizer palavras. As palavras nada têm a ver com as sensações. Palavras são pedras duras e as sensações delicadíssimas, fugazes, extremas. Brasília humanizou-se. Só que não aguento essas ruas redondas, essa falta vital de esquinas. Lá, mesmo o céu é redondo. As nuvens são agnus dei. Brasília tem o ar tão seco que a pele do rosto fica seca, as mãos ásperas. 

A máquina do dentista chamada “Atlante 200” fala assim comigo: tchi! tchi! tchi! Hoje é dia 14. Quatorze me deixa suspensa. Brasília é quinze vírgula um. O Rio é um, mas unzinho. Atlante 200 não morre? Não, não morre. É como eu quando estou hibernada em Brasília. 

Brasília é guindaste alaranjado pescando coisa muito delicada: um pequeno ovo branco. Esse ovo branco sou eu ou uma criancinha que nasce hoje? 

Sinto que estão fazendo macumba contra mim: quem quer roubar a minha pobre identidade? Só faço o seguinte: peço socorro e bebo um cafezinho. Depois eu fumo. Como e quanto fumei em Brasília! Brasília é cigarro Hollywood com filtro. Brasília é assim: ouço neste instante o ruído da chave na fechadura da porta de entrada e de saída. Mistério? mistério, sim senhor. Vou abrir e sabe quem era? era ninguém. Brasília é alguém, tapete vermelho, fraque e cartola. 

Brasília é uma tesoura de aço puro. Economizo quanto posso para o dinheiro dar. E já fiz o meu testamento. Digo nele um bocado de coisas. 

Brasília é barulho de gelinho no copo de uísque, às 6 horas da tarde, hora de ninguém. 

Querem que eu diga a Brasília: viva? digo viva com o copo na mão. No Rio, na copa de minha casa, matei um mosquito que tremulava no ar. Por que esse direito de matar? Ele era apenas um átomo voando. Nunca mais vou esquecer esse mosquito cujo destino eu tracei, eu, a sem destino. 

Estou cansada, ouvindo de madrugada a Ministério da Educação que também é de Brasília. No momento ouço Danúbio Azul em cujas águas me debruço séria e atenta. 

Brasília é ficção científica. Brasília é Ceará ao avesso: ambos contundentes e conquistadores. 

E é coro infantil em manhã azulíssima e supergelada, os meninos abrindo as boquinhas redondas e entoando um Te Deum todo inocente, acompanhado de música de órgão. Quero que isso aconteça na igreja dos vitrais às 7 horas da noite. Ou às 7 horas da manhã. Prefiro de manhã, se bem que o crepúsculo em Brasília seja ainda mais bonito que o pôr do sol involuntário de Porto Alegre. Brasília é um primeiro lugar no vestibular. Eu já fico contente com um segundinho segundo lugar. 

Vejo que escrevi sete em número: 7. Pois Brasília é 7. É 3. É quatro. É oito, nove – pulo os outros, e no 13 me encontro com Deus. 

O problema é que o papel branco exige que eu escreva. Vou e escrevo. Sozinha no mundo, no alto de um morro. Eu queria ser regente musical, mas diz que mulher não pode ser por não ter resistência física. Ah, Schubert, adoce um pouco Brasília. Eu sou tão boa para Brasília. 

Neste instante-já são dez para as sete. Me muero. A casa é sua, meu senhor, e o serviço que lhe dou é serviço de luxo. Aproveite quem quiser. Brasília é uma nota de 500 cruzeiros que ninguém quer trocar. E o centavo número 1? esse reivindico para mim. É tão raro. Dá boa sorte. E dá privilégio. Quinhentos cruzeiros me atravessam a garganta. 

Brasília é diferente. Brasília convida. E se me convidam, eu atendo. Brasília usa piteira com brilhantes. 

Mas é um lugar-comum dizerem: quero dinheiro e quero morrer de repente. Mesmo eu. Mas S. Francisco tirou toda a roupa e ficou nu. Ele e meu cachorro Ulisses nada pedem. Brasília é um pacto que fiz com Deus. 

Só peço um favor, Brasília, de você: não entre numa de falar esperanto. Não vê que as palavras ficam deturpadas em esperanto como em tradução mal traduzida? Yes, my Lord. I said yes, sir. I almost said: my love, em vez de my Lord. But my love is my Lord. There is no answer? O.K., I can stand It. Mas como dói. Dói muito ser ofendida por uma falta de resposta. Aguento. Mas não me pisem nos pés porque dói. E sou familiar, eu sou você, não faça cerimônia. Vai ser assim: eu o trato de senhor doutor e você me trata de tu. Você é tão galante, Brasília. 

Brasília tem Jardim Botânico? e tem Jardim Zoológico? Faz falta, porque não é só de gente que vive o homem. Ter bicho é essencial. 

Cadê a tua trágica ópera, Brasília? Opereta eu não aceito, é nostálgica demais, é soldadinho de chumbo que eu, embora menina, brinquei com. O blue me estraçalha mansamente o coração que no entanto é tão quente como o próprio blue

Brasília é Lei Física. Relaxe-se, minha senhora, tire a cinta, não se afobe, tome um golinho de água com açúcar – e então experimente ser um pouco a Lei Natural. A senhora vai se deleitar. 

Existe por acaso uma matéria de estudo chamada Matéria da Existência do Tempo? Pois devia existir. 

Pois não é que passaram água oxigenada no chão de Brasília. Pois passaram: para desinfetar. Mas eu sou, graças a Deus, bem infectada. Mas fiz radiografia dos pulmões e disse para o médico: meus pulmões devem estar pretos de fumaça. Ele respondeu: pois até que não, estão clarinhos. 

E assim vai se indo. Estou de repente muda e sem assunto. Respeitem o meu silêncio. Eu não pinto, não senhora, eu escrevo e quanto. 

Em Brasília não sonhei. Será culpa minha ou em Brasília não se sonha? E a camareira? que foi feito dela? Eu também já sofri, ouviu, mulher-camareira? Sofrimento é privilégio dos que sentem. Mas agora estou pura alegria. São quase seis horas da manhã. Acordei às quatro da madrugada. Estou alerta. Brasília é alerta. Prestem atenção ao que digo: Brasília não vai terminar nunca. Eu morro e Brasília permanece. Com nova gente, é claro. Brasília é novinha em folha. 

Brasília é Marcha Nupcial. O noivo é um nordestino que come o bolo inteiro porque está com fome há várias gerações. A noiva é uma velha senhora viúva, rica e rabugenta. Deste insólito casamento que assisti, forçada pelas circunstâncias, saí derrotada pela violência da Marcha Nupcial que parece Marcha Militar e que me mandou me casar também e eu não quero. Saí cheia de band-aids, com o tornozelo torcido, a nuca doendo e uma grande ferida me doendo no coração. 

Tudo o que eu disse é verdade. Ou é simbólico. Mas que sintaxe difícil Brasília tem! A cartomante disse que eu iria a Brasília. Ela sabe de tudo, dona Nadir, do Méier. Brasília é pálpebra batendo que nem borboleta amarela que um dia desses vi na esquina de minha casa. Borboleta amarela é bom augúrio. Lagartixa não diz sim nem não. Mas S. tem um medo de lagartixa que se pela. Eu tenho mais medo é de ratos. No Hotel Nacional me garantiram que não tinha rato. Aí, então, fiquei. Com garantia, fico muito. 

Trabalhar é sina. Olha, Jornal de Brasília, inclua astrologia nos seus planos. Afinal a gente tem que saber a quantas anda. Sou toda mágica e minha aura é azul forte que nem os doces vitrais da igreja de que falei. Tudo em que eu toco, nasce. 

Amanhece aqui no Rio. Uma bela e fria manhã seca. Que bom que todas as noites tenham manhãs radiosas. O horóscopo de Brasília é fulgente. E quem quiser, que aguente. 

São quinze para as seis. Escrevo ouvindo música. Qualquer uma serve, não crio problemas. Eu agora queria era ouvir um fado bem adstringente cantado por Amália Rodrigues em Lisboa. Ah que saudade de Capri. Sofri tanto em Capri. Mas perdoei. Não faz mal: Capri, como Brasília, é linda. Estou é com pena de Brasília porque ela não tem mar. Mas há maresia no ar. Banho de piscina eu desprezo. Banho de mar dá coragem. Um dia desses fui à praia e entrei no mar com emoção. Bebi sete goles de água salgada do mar. A água estava friazinha, delicada, de ondinhas que também eram agnus dei. Aviso que vou comprar um chapéu de feltro no estilo antigo, com copa pequena de abas viradas. E também um xale verde de croché. Brasília não é croché, é tricô feito por máquinas especializadas que não erram. Mas, como eu disse, sou erro puro. E tenho alma canhota. Me enrolo toda no croché verde-esmeralda, me enrolo toda. Para me proteger. Verde é a cor da esperança. E terça-feira pode ser um desastre. Em minha última terça-feira chorei porque fui ofendida. Mas em geral terça-feira é bom. Quanto à quinta-feira, é doce e um pouquinho triste. Ride, palhaço, enquanto a casa pega fogo. Mais tout va très bien, madame la marquise. Só que. 

Será que em Brasília tem faunos? Está resolvido: compro é chapéu verde para combinar com o meu xale. Ou não compro nenhum? sou tão indecisa. Brasília é decisão. Brasília é homem: E eu, tão mulher. Vou andando às trambolhadas. Esbarro aqui, esbarro ali. E chego enfim. 

A música que estou ouvindo agora é toda pura e sem culpa. Debussy. Com ondinhas frescas do mar. 

Brasília tem gnomos? 

A minha casa no Rio está cheia deles. Todos fantásticos. Experimente um só gnomo e você fica viciado. Duende também serve. Anão? tenho pena. 

Já resolvi: não preciso de chapéu nenhum. Ou preciso? Meu Deus, que será de mim? Brasília, me salve que estou precisando. 

Um dia eu era criança que nem Brasília. E queria tanto um pombo-correio. Pra mandar carta para Brasília. Recebem? sim ou não? 

Sou inocente e ignorante. E quando estou em estado de escrever, não leio. Seria demais para mim, não tenho força. 

No avião viajei com um senhor português, comerciante não sei de quê, mas que foi muito delicado: segurou minha maleta pesada. Na volta de Brasília viajei com um senhor que conversou comigo tão bem, uma conversa tão boa, que eu disse: é incrível como o tempo passou depressa e já chegamos. Ele disse: para mim o tempo também passou depressa. Este homem um dia encontrarei. Ele vai me ensinar. Sabe de muita coisa. 

Estou tão perdida. Mas é assim mesmo que se vive: perdida no tempo e no espaço. 

Morro de medo de comparecer diante de um Juiz. Emeretíssimo, dá licença de eu fumar? Dou, sim senhora, eu mesmo fumo cachimbo. Obrigada, Vossa Eminência. Trato bem o Juiz, Juiz é Brasília. Mas não vou abrir processo contra Brasília. Ela não me ofendeu. 

Estamos em plena copa do mundo. Tem um país africano que é pobre e ignorante e perdeu da Iugoslávia de 9 a zero. Mas a ignorância é outra: ouvi dizer que nesse país ou os rapazes pretos ganham ou morrem. Que falta de socorro. 

Eu sei morrer. Morri desde pequena. E dói mas a gente finge que não dói. Estou com tanta saudade de Deus. 

E agora vou morrer um pouquinho. Estou tão precisada. 

Sim. Aceito, my Lord. Sob protesto. 

Mas Brasília é esplendor. 

Estou assustadíssima. 

Published January 8, 2021
From Clarice Lispector, Todos os contos, prefácio e organização de Benjamin Moser, Editora Rocco, 2016
© Clarice Lispector
© Editora Rocco, 2016

Brasília from The Complete Stories

Written in Portuguese by Clarice Lispector


Translated into English by Katrina Dodson

Brasília is constructed on the line of the horizon. Brasília is artificial. As artificial as the world must have been when it was created. When the world was created, a man had to be created especially for that world. We are all deformed by our adaptation to the freedom of God. We don’t know how we would be if we had been created first and the world were deformed after according to our requirements. Brasília does not yet have the Brasília man. If I said that Brasília is pretty they would immediately see that I liked the city. But if I say that Brasília is the image of my insomnia they would see this as an accusation. But my insomnia is neither pretty nor ugly, my insomnia is me myself, it is lived, it is my astonishment. It is a semicolon. The two architects didn’t think of building beauty, that would be easy: they erected inexplicable astonishment. Creation is not a comprehension, it is a new mystery. —When I died, one day I opened my eyes and there was Brasília. I was alone in the world. There was a parked taxi. Without a driver. Oh how frightening. —Lúcio Costa and Oscar Niemeyer, two solitary men. —I regard Brasília as I regard Rome: Brasília began with a final simplification of ruins. The ivy has yet to grow. 

Besides the wind there is something else that blows. One can only recognize it by the supernatural rippling of the lake. —Wherever people stand, children might fall, and off the face of the world. Brasília lies at the edge. —If I lived here I would let my hair grow to the ground. —Brasília has a splendored past that now no longer exists. This type of civilization disappeared millennia ago. In the 4th century bc it was inhabited by extremely tall blond men and women who were neither Americans nor Swedes and who sparkled in the sun. They were all blind. That is why in Brasília there is nothing to stumble into. The Brasilianaires dressed in white gold. The race went extinct because few children were born. The more beautiful the Brasilianaires were, the blinder and purer and more sparkling, and the fewer children. The Brasilianaires lived for nearly three hundred years. There was nothing in the name of which to die. Millennia later it was discovered by a band of outcasts who would not have been welcomed anywhere else: they had nothing to lose. There they lit fires, pitched tents, gradually digging away at the sands that buried the city. These were men and women, smaller and dark, with darting and uneasy eyes, and who, being fugitives and desperate, had something in the name of which to live and die. They dwelled in ruined houses, multiplied, establishing a deeply contemplative race of humans. —I waited for nightfall like someone waiting for the shadows so as to steal out. When night fell I realized in horror that it was no use: no matter where I was I would be seen. What terrifies me is: seen by whom? —It was built with no place for rats. A whole part of us, the worst, precisely the one horrified by rats, that part has no place in Brasília. They wished to deny that we are worthless. A construction with space factored in for the clouds. Hell understands me better. But the rats, all huge, are invading. That is an invisible headline in the newspapers. —Here I am afraid. —The construction of Brasília: that of a totalitarian State. —This great visual silence that I love. My insomnia too would have created this peace of the never. I too, like those two who are monks, would meditate in this desert. Where there’s no place for temptation. But I see in the distance vultures hovering. What could be dying, my God? —I didn’t cry once in Brasília. There was no place for it. —It is a beach without the sea. —In Brasília there is no way in, and no way out. —Mama, it’s lovely to see you standing there in that fluttering white cape. (It’s because I died, my son). —An open-air prison. In any case there would be nowhere to escape. Because whoever escapes would probably go to Brasília. —They imprisoned me in freedom. But freedom is only what can be conquered. When they grant it to me, they are ordering me to be free. —A whole side of human coldness that I possess, I encounter in myself here in Brasília, and it blossoms ice-cold, potent, ice-cold force of Nature. This is the place where my crimes (not the worst, but those I won’t ever understand in myself ), where my ice-cold crimes find space. I am leaving. Here my crimes would not be those of love. I am leaving on behalf of my other crimes, those that God and I comprehend. But I know I shall return. I am drawn here by whatever frightens me in myself. —I have never seen anything like it in the world. But I recognize this city in the furthest depths of my dream. The furthest depths of my dream is a lucidity. —Well as I was saying, Flash Gordon … —If they took my picture standing in Brasília, when they developed the photograph only the landscape would appear. —Where are Brasília’s giraffes? —A certain cringing of mine, certain silences, make my son say: gosh, grown-ups are the worst. —It’s urgent. If it doesn’t get populated, or rather, overpopulated, it will be too late: there will be no place for people. They will feel tacitly expelled. —The soul here casts no shadow on the ground. —For the first couple of days I wasn’t hungry. Everything looked to me like airplane food. —At night I reached my face toward the silence. I know there is a hidden hour when manna descends and moistens the lands of Brasília. —No matter how close one gets, everything here is seen from afar. I couldn’t find a way to touch. But at least I had this in my favor: before I got here, I already knew how to touch from afar. I never got too discouraged: from afar, I would touch. I’ve had a lot, and not even what I touched, you know. That’s how rich women are. Pure Brasília. —The city of Brasília lies beyond the city. —Boys, boys, come here, will you, look who is coming on the street all dressed up in modernistic style. It ain’t nobody but … (Aunt Hagar’s Blues, Ted Lewis and His Band, with Jimmy Dorsey on the clarinet.) —That frightening beauty, this city, drawn up in the air. —For now no samba can spring up in Brasília. —Brasília doesn’t let me get tired. It pursues a little. Feeling good, feeling good, feeling good, I’m in a good mood. And after all I have always cultivated my weariness, as my richest passivity. —All this is just today. Only God knows what will happen in Brasília. Because here chance is abrupt. — Brasília is haunted. It is the still profile of a thing. —In my insomnia I look out the hotel window at three in the morning. Brasília is the landscape of insomnia. It never falls asleep. — Here the organic being does not decompose. It is petrified. —I would like to see scattered through Brasília five hundred thousand eagles of the blackest onyx. —Brasília is asexual. —The First instant of seeing is like a certain instant of drunkenness: your feet don’t touch the ground. —How deeply we breathe in Brasília. Whoever breathes starts to desire. And to desire is what one cannot do. There isn’t any. Will there ever be? The thing is, I am not seeing where. —I wouldn’t be shocked to run into Arabs in the street. Arabs, ancient and dead. —Here my passion dies. And I gain a lucidity that leaves me grandiose for no reason. I am fabulous and useless, I am made of pure gold. And almost psychic. —If there is any crime humanity has yet to commit, that new crime will be inaugurated here. And so hardly kept secret, so well-suited to the high plain, that no one would ever know. —Here is the place where space most resembles time. —I am sure this is my rightful place. But the thing is, I am too addicted to the land. I have bad life habits. —Erosion will strip Brasília to the bone. —The religious atmosphere I felt from the first instant, and that I denied. This city has been achieved through prayer. Two men beatified by solitude created me standing here, restless, alone, out in this wind. —Brasília badly needs roaming white horses. At night they would be green in the moonlight. —I know what the two wanted: slowness and silence, which is also my idea of eternity. The two created the picture of an eternal city. —There is something here that frightens me. When I figure out what it is that frightens me, I shall also know what I love here. Fear has always guided me toward what I desire. And because I desire, I fear. Often it was fear that took me by the hand and led me. Fear leads me to danger. And everything I love is risky. —In Brasília are the craters of the Moon. —The beauty of Brasília is its invisible statues.

I went to Brasília in 1962. What I wrote about it is what you have just read. And now I have returned twelve years later for two days. And I wrote about it too. So here is everything I vomited up.

Warning: I am about to begin.

This piece is accompanied by Strauss’s “Vienna Blood” waltz. It’s 11:20 on the morning of the 13th.

 

Brasília: splendor

Brasília is an abstract city. And there is no way to make it concrete. It is a rounded city with no corners. Neither does it have any neighborhood bars for people to get a cup of coffee. It’s true, I swear I didn’t see any corners. In Brasília the everyday does not exist. The cathedral begs God. It is two hands held open to receive. But Niemeyer is an ironic man: he has ironized life. It is sacred. Brasília does not allow the diminutive. Brasília is a joke, strictly perfect and without error. And the only thing that saves me is error.

The São Bosco church has such splendid stained glass that I fell silent seated on the pew, not believing it was real. Moreover the age we are passing through is fantastical, it is blue and yellow, and scarlet and emerald. My God, but what wealth. The stained glass holds light made of organ music. This church thus illuminated is nevertheless inviting. The only flaw is the unusual circular chandelier that looks like some nouveau riche thing. The church would have been pure without the chandelier. But what can you do? go at night, in the dark, and steal it? 

Then I went to the National Library. A young Russian girl named Kira helped me. I saw young men and women studying and flirting: something totally compatible. And praiseworthy, of course.

I pause for a moment to say that Brasília is a tennis court.

There is a reinvigorating chill there. What hunger, but what hunger. I asked if the city had a lot of crime. I was told that in the suburb of Grama (is that its name?) there are about three homicides per week. (I interrupted the crimes to eat). The light of Brasília left me blind. I forgot my sunglasses at the hotel and was invaded by a terrible white light. But Brasília is red. And completely naked. There is no way for people not to be exposed in that city. Although the air is unpolluted: you can breathe well, a little too well, your nose gets dry.

Naked Brasília leaves me beatified. And crazy. In Brasília I have to think in parentheses. Will they arrest me for living? That’s exactly it.

I am no more than phrases overheard by chance. On the street, while crossing through traffic, I heard: “It was out of necessity.” And at the Roxy Cinema, in Rio de Janeiro, I heard two fat women saying: “In the morning she slept and at night she woke up.” “She has no stamina.” In Brasília I have stamina, whereas in Rio I am sort of languid, sort of sweet. And I heard the following phrase from the same fat women who were short: “Just what does she have to go do over there?” And that, my dears, is how I got expelled.

Brasília has euphoria in the air. I said to the driver of the yellow cab: today seems like Monday, doesn’t it? “Yep,” he answered. And nothing more was said. I wanted so badly to tell him I had been to the utterly adored Brasília. But he didn’t want to hear it. Sometimes I’m too much.

Then I went to the dentist, got that, Brasília? I take care of myself. Should I read odontology journals just became I’m in the dentist’s waiting room? After I sat in the dentist’s magnificent death chair, electric chair, and saw a machine looking at me, called “Atlas 200.” It looked in vain, since I had no cavities. Brasília has no cavities. A powerful land, that one. And it doesn’t mess around. It bets high and plays to win. Merquior and I burst into howls of laughter that are still echoing back to me in Rio. I have been irremediably impregnated by Brasília. 

I prefer the Carioca entanglement. I was delicately pampered in Brasília but scared to death of reading my lecture. (Here I note an event that astonishes me: I am writing in the past, present and future. Am I being levitated? Brasília suffers from levitation.) I throw myself into each one, I’m telling you. But it is good because it is risky. Believe it or not: as I was reading the words, I was praying inwardly. But, again, it is good because it is risky. Now I wonder: if there are no corners, where do the prostitutes stand smoking? do they sit on the ground? And the beggars? do they have cars? because there you can only get around by car.

The light in Brasília sometimes leads to ecstasy and total plenitude. But it is also aggressive and harsh—ah, how I would like the shade of a tree. Brasília has trees. But they have yet to be convincing. They look plastic.

I am now going to write something of the utmost importance: Brasília is the failure of the most spectacular success in the world. Brasília is a splattered star. It takes my breath away. It is beautiful and it is naked. The lack of shame one has in solitude. At the same time I was embarrassed to undress for a shower. As if a gigantic green eye were staring at me, implacable. Moreover Brasília is implacable. I felt as if someone were pointing at me: as if they could arrest me or take away my papers, my identity, my veracity, my last private breath. Oh what if the patrol cops catch me and beat me up! then I’ll say the worst word in the Portuguese language: sovaco, armpit. And they’ll drop dead. But for you, my love, I am more delicate and softly say: axilas, underarms …

Brasília smells like toothpaste. And whoever’s not married, loves without passion. They simply have sex. But I want to return, I want to try to decipher its enigma. I want especially to talk with university students. I want them to invite me to participate in this aridness, luminous and full of stars. Does anyone ever die in Brasília? No. Never. No one ever dies because there you cannot close your eyes. There they have hibernation: the air leaves a person in a stupor for years, who later comes back to life. The climate is challenging and whips people a bit. But Brasília needs magic, it needs voodoo. I don’t want Brasília to put a curse on me: because it would work. I pray. I pray a lot. Oh what a good God. Everything there is out in the open and whoever wants it has to deal with it. Though the rats adore the city. I wonder what they eat? ah, I know: they eat human flesh. I escaped as best I could. And seemed to be remotely controlled. 

I gave countless interviews. They changed what I said. I no longer give interviews. And if the whole business really is based on invading my privacy, then they should pay for it. They say that’s how it’s done in the United States. And another thing: there’s one price just for me, but if my precious dog gets included, I charge extra. If they distort me, I charge a fine. Sorry, I have no wish to humiliate anyone but I have no wish to be humiliated. While there I said I might go to Colombia and they wrote that I was going to Bolivia. They switched the country for no reason. But there’s no danger: all I concede about my own life is that I have two sons. I am not important, I am an average person who wants a little anonymity. I hate giving interviews. Come on, I am a woman who’s simple and a tiny bit sophisticated. A mix of peasant and a star in the sky.

I adore Brasília. Is that contradictory? But what isn’t contradictory? People only go down the deserted streets by car. When I had a car and drove, I was always getting lost. I never knew where I was coming from and where I was going. I am disoriented in life, in art, in time and in space. Unbelievable, for God’s sake.

There people have dinner and lunch together—it is to have people to populate them. This is good and very pleasant. It is the slow humanization of a city that for some hidden reason is arduous. I really enjoyed it, they pampered me so much in Brasília. But there were some people who wanted me gone in a flash. I was tripping up their routine. For those people I was an inconvenient novelty. Living is dramatic. But there is no escaping it: we are born.

What will a person born in Brasília be like when he grows up and becomes a man? Because the city is inhabited by nostalgic outsiders. Exiles. Those born there will be the future. A future sparkling like steel. If I am still alive, I shall applaud the strange and highly novel product that will emerge. Will smoking be banned? Will everything be banned, my God? Brasília seems like an inauguration. Every day it is inaugurated. Festivities, my dears, festivities. Let them raise the flags.

Who wants me in Brasília? So whoever wants me can call me. Not just yet, because I am still stunned. But in a while. At your service. Brasília is at your service. I want to speak with the hotel maid who said to me when she found out who I was: I wanted to write so badly! I said: go on, woman, and write. She answered: but I’ve already suffered too much. I said severely: so go ahead and write about what you’ve suffered.

Because there needs to be someone crying in Brasília. The eyes of its inhabitants are much too dry. In that case—in that case I am volunteering to cry. My maid and I, we, girlfriends. She told me: when I saw you ma’am, I got goose bumps on my arm. She told me she was a psychic.

Yes. I’ve got goose bumps. And I am shivering. God help me. I am mute like a moon.

Brasília is full-time. I have a panicked fear of it. It is the ideal place for taking a sauna. Sauna? Yes. Because there you don’t know what to do with yourself. I look down, I look up, I look around—and the reply is a howl: noooooooo! Brasília stupefies us so much it’s scary. Why do I feel so guilty there? what did I do wrong? and why haven’t they erected right in the city center a great white Egg? It is because there is no center. But it needs the Egg.

What kind of clothes do people wear in Brasília? Metallic? Brasília is my martyrdom. And it has no nouns. It’s all adjectives. And how it hurts. Ah, my dear little God, grant me just one little noun, for God’s sake! Ah, you don’t want to? then pretend I didn’t say anything. I know how to lose.

Oh stewardess, try to give me a less numbered smile. Is that the sandwich we’re supposed to eat? all dehydrated? But I’ll do like Sérgio Porto: I heard that on a plane a stewardess once asked him: can I offer you some coffee, sir? And he answered: I’ll take everything I have a right to.

In Brasília it is never night. It is always implacably day. Punishment? But what did I do wrong, my God? I don’t want to hear it, He says, punishment is punishment.

In Brasília there is practically nowhere to drop dead. But there is one thing: Brasília is pure protein. Didn’t I say that Brasília is a tennis court? Because Brasília is blood on a tennis court. And as for me? where am I? me? poor me, with my scarlet-stained handkerchief. Do I kill myself? No. I live in brute reply. I am right there for whoever wants me.

But Brasília is the opposite sound. And no one denies that Brasília is: goooooooooal! Though it slightly warps the samba. Who is that? who is that singing hallelujah and whom I hear with joy? Who is it that traverses, like the sharpest of swords, the future and always future city of Brasília? I repeat: pure protein, you are. You have fertilized me. Or am I the one singing? Listening to myself I am moved. There’s Brasília in the air. In the air unfortunately lacking the indispensable support of corners for people to live. Have I already mentioned that nobody lives in Brasília? they reside. Brasília is bone dried out from pure astonishment under the merciless sun on the beach. Ah white horse but what a rustic mane. Oh, I can’t wait any longer. A little airplane, please. And the ashen moonlight that enters the room and watches me, I, pale, white, cunning.

I don’t have a corner. My transistor radio isn’t picking up any music. What’s wrong? Not that way either. Do I repeat myself? And does it hurt?

For the love of Cod, (I was so startled I even mixed up the word God) for the love of God, please forgive me those of you who reside in Brasília for saying what I am forced to say, I, a lowly slave to the truth. I do not mean to offend anyone. It is just that the light is too white. I have sensitive eyes, I am invaded by the stark brightness and all that red land.

Brasília is a future that happened in the past.

Eternal as a stone. The light of Brasília—am I repeating myself?—the light of Brasília wounds my feminine modesty. That is all, people, that is all.

Aside from that, long live Brasília! I will help hoist the flag. And I will forgive the slap I got in my poor face. Oh, poor little me. So motherless. It is our duty to have a mother. It is a thing of nature. I am in favor of Brasília.

In the year 2000 there will be a celebration there. If I am still alive, I want to join in the revelry. Brasília is an exaggerated general revelry. A little hysterical, it’s true, but that’s fine. Bursts of laughter in the dark hallway. I laugh, you laugh, he laughs. Three.

In Brasília there are no lampposts for dogs to pee on. It badly needs a peepee-dog. But Brasília is a gem, dear sir. There everything works as it should. Brasília envelops me in gold. I’m off to the hairdresser. I’m talking about Rio. Hello, Rio! Hello! Hello! I really am frightened. God help me.

But there comes a time when I’ll tell you, my friend, there comes a time when Brasília is a hair in your soup. I am very busy, Brasília, to hell with you and leave me alone. Brasília is located nowhere. Its atmosphere is indignation and you know why. Brasília: before being born it was already born, the premature, the unborn, the fetus, in a word me. Oh the nerve.

Not just anyone can enter Brasília, no. You need nobility, lots of shamelessness and lots of nobility. Brasília is not. It is merely the picture of itself. I love you, oh extragantic one! oh word I invented and do not know the meaning of. Oh furuncle! crystallized pus but whose? Warning: there’s sperm in the air.

I, the scribe. I, fated to be the unfortunate definer. Brasília is the opposite of Bahia. Bahia is buttocks. Ah how I long for the soaked Place Vendôme. Ah, how I long for the Praça Maciel Pinheiro in Recife. So much poverty of soul. And you demand it of me. I, who can do nothing. Ah how I long for my dog. Such a dear friend. But a newspaper took his picture and he was standing at the end of the street. He and I. We, little brother and sister of St. Francis of Assisi. Let us be silent: it is better for us.

I’m going to get you, Brasília! And you’ll suffer terrible torture at my hands! You annoy me, o ice-cold Brasília, pearl among swine. Oh apocalyptic one.

And suddenly the big disgrace. All that racket. Why? Nobody knows. Oh God, how did I not see it right away? because isn’t Brasília “Women’s Health”? Brasília can’t figure out what it wants: it’s a tease. Brasília is a chipped tooth right in front. And it is the summit too. There is one main reason. What is it? secrets, lots of secrets, murmurs, whispers and whisps. Rumors that never end.

Healthy, healthy. Here I am a physical education teacher. I go tumbling. That’s right: I raise hell. Brasília is a heavenly hell. It is a typewriter: click-click-click. I want to sleep! leave me alone!!! I am ti-i-red. Of being in-com-pre-hen-si-ble. But I do not want to be understood because I will lose my sacred intimacy. It is very serious, what I am saying, very serious indeed: Brasília is the ghost of an old blind man with a cane going click-click-click. And with no dog, poor guy. And me? how can I help? Brasília helps itself. It is a high-high-high-pitched violin. It needs a cello. But what a racket. This was surely uncalled for. I guarantee it. Though Brasília has no guarantor.

I want to return to Brasília to Room 700. So I can dot the “i.” But Brasília does not flow. It goes in the opposite direction. Like this: wolf (flow).

It is mad yet functional. How I hate the word “yet.” I only use it because it’s needed.

When night falls Brasília becomes Zebedee. Brasília is a round-the-clock pharmacy.

The girl frisked me all over at the airport. I asked: do I look like a subversive? She said laughing: actually you do. I have never been so thoroughly felt up, Holy Mary, it’s practically a sin. Her hands patted me down so much I don’t know how I could stand it.

Brasília is slim. And utterly elegant. It wears a wig and false eyelashes. It is a scroll inside a Pyramid. It does not age. It is Coca-Cola, my God, and will outlive me. Too bad. For Coca-Cola, of course. Help! Help! help me! Do you know how Brasília answers my cry for help? It is formal: may I offer you some coffee? And what about me? don’t I get any help? Treat me well, got it? like that … like that … nice and slow. That’s it. That’s it. What a relief. Happiness, my dear, is relief. Brasília is a kick in the rear. It is a place where the Portuguese get rich. And what about me, who plays the lottery and doesn’t win?

Oh what a pretty nose Brasília has. So delicate.

Did you know that Brasília is etc.? Well now you know. Brasília is xptr … as many consonants as you like but not a single vowel to give you a break. And Brasília, well dear sir, sorry, but Brasília left off right there.

Look, Brasília, I’m not just anyone, not at all. Show more respect, do me the favor. I am a space traveler. I demand lots of respect. Lots of Shakespeare. Ah but I don’t want to die! Oh, what a sigh. But Brasília is waiting. And I can’t stand waiting. Blue phantom. Ah, how annoying. It’s like trying to remember and not being able to. I want to forget Brasília but it won’t let me. What a dried-up wound. Gold. Brasília is gold. A gem. Sparkling. There are things about Brasília that I know but can’t say, they won’t let me. Guess.

And may God help me.

Go ahead, woman, go and fulfill your destiny, woman. Being the woman I am is a duty. Right this instant-now I am hoisting the flags—but what a fierce southern wind!—and here I am saying hurrah!

Oh I am so tired.

In Brasília it is always Sunday. But now I am going to speak very softly. Like this: my love. My great love. Have I said it? You’re the one who answers. I am going to end with the most beautiful word in the world. Nice and slow like this: my love how I have longed for you. L-o-v-e. I kiss you. Like a flower. Mouth to mouth. How bold. And now—now peace. Peace and life. I-am a-live. Maybe I don’t deserve so much. I am afraid. But I don’t want to end with fear. Ecstasy. Yes, my love. I surrender. Yes. Pour toujours. Everything—but everything is absolutely natural. Yes. I. But above all you are the guilty one, Brasília. However, I pardon you. It’s not your fault you’re so lovely and pitiful and poignant and mad. Yes, a wind of Justice is blowing. So I say to the Great Natural Law: yes. Hey cracked mirror: who is prettier than me? No one, the magic mirror replies. Yes, I am well aware, it’s us two. Yes! yes! yes! I said yes.

I call humbly for help. They’re robbing me. Am I the whole world? General astonishment. This isn’t a high wind, sir, it’s a tornado. I am in Rio. I finally got off the flying saucer. And a friend comes up saying—hello there Carmen Miranda!—telling me there’s a song called “Tar Baby Doll” that goes more or less like this: here I come all pinched with my aching corns, almost choking in my tight collar, to see my baby.

I have landed. My voice is weak but I will say what Brasília wants me to: bravo! bravíssimo! And that is enough. Now I am going to live in Rio with my dog. Please do me the favor of remaining silent. Like this: silence. I am so sad.

Brasília is a wildly twinkling blue eye that burns in my heart. 

Brasília is Malta. Where is Malta? It’s in the day of the super-never. Hello! hello! Malta! Today it’s Sunday in New York. In Brasília, the gleaming one, it’s already Tuesday. Brasília just skips Monday. Monday is the day you go to the dentist, what can you do, boring things have to get done too, woe is me. In Brasília I bet they’re still dancing, unbelievable. It’s six-twenty in the evening, almost night. At 6:20 nothing happens. Hello! Hello! Brasília! I want an answer, I’m in a hurry, I have just come to terms with my death. I am sad. The stride is too big for my legs though they are long. Help me die in peace. As I may have said, I want a beloved hand to hold mine when it is time for me to go. I go under protest. I. The phantasmagoric one. My name does not exist. What exists is a picture faked from another picture of me. But the real one died already. I died on the ninth of June. Sunday. After lunch in the precious company of those I love. I had roast chicken. I am happy. But lack true death. I am in a hurry to see God. Pray for me. I died elegantly.

I have a virgin soul and therefore need protection. Who will help me? The paroxysm of Chopin. Only you can help me. Deep down I am alone. There are truths I haven’t even told God. And not even myself. I am a secret under the lock of seven keys. Please spare me. I am so alone. I and my rituals. The phone doesn’t ring. It hurts. But God is the one who spares me. Amen.

Did you know that I can speak the language of dogs and also of plants? Amen. But my word is not the last. There exists one I cannot utter. And my tale is gallant. I am an anonymous letter. I do not sign the things I write. Let other people sign. I do not have the credentials. Me? But me of all people? Never! I need a father. Who will volunteer? No, I do not need a father, I need my equal. I am waiting for death. Oh such wind, dear sir. Wind is a thing you cannot see. I ask Our Lord God Jehovah about his wrath in the form of wind. Only He can explain. Or can he? If He cannot, I am lost. Oh how I love you and I love so much that I die you.

Remember how I mentioned the tennis court with blood? Well the blood was mine, the scarlet, the clotting was mine.

Brasília is a horse race. No I am not a horse. Brasília can go to hell and run by itself without me.

Brasília is hyperbolic. I am suspended until the final order. I survive by being as stubborn as I am. I have landed indeed. There is no place like home. How good it is to be back. Leaving is good but coming back is more better. That’s right: more better.

What is supplementary in Brasília? No I don’t know, dear sir. All I know is that all is nothing and nothing is all. My dog is sleeping. I am my dog. I call myself Ulisses. We are both tired. So, so tired. Woe is me, woe is us. Silence. You should sleep too. Ah astonished city. It astonishes itself. I am feeling stale. What I’ll do is complain like Chopin complained about the invasion of Poland. After all I have my rights. I am I, that’s what other people say. And if they say so, why not believe it? Farewell. I’m fed up. I’m going to complain. I’m going to complain to God. And if He can, let him heed me. I am one of the needy. I left Brasília with a cane. Today is Sunday. Even God rested. God is a funny thing: He can do it all for Himself and needs Himself. 

I came home, it is true, but wouldn’t you know my cook writes literature? I asked her where the Coca-Cola in the fridge was. She answered, lovely black girl that she is: she was just so tired, so I made her go rest, poor thing. Once, ages ago I recounted to Paulo Mendes Campos a comment my maid at the time had made. And he wrote something like this: everyone gets the maid they deserve: My maid has a beautiful voice and sings to me when I ask her to: “Nobody Loves Me.” She draws, she writes. I am so humbled. For I don’t deserve this much.

I am nothing. I am a frustrated Sunday. Or am I being ungrateful? Much has been given me, much has been taken away. Who wins? Not me that’s for sure. Someone hyperbolic does.

Brasília, be a little bit animal too. It’s so nice. So very nice. Not having peepee-dogs is an affront to my dog who will never go to Brasília for obvious reasons. It’s a quarter to six. No particular time. Even Kissinger is asleep. Or is he on a plane? There’s no way to guess. Happy birthday, Kissinger. Happy birthday, Brasília. Brasília is a mass suicide. Brasília, are you scratching yourself? not me, I don’t go in for that kind of thing because whoever starts won’t stop from. You know the rest.

The rest is paroxysm.

No one knows it, but my dog not only smokes but also drinks coffee and eats flowers. And drinks beer. He also takes antidepressants. He resembles a little mulatto. What he needs is a girlfriend. He’s middle class. I didn’t let the newspaper in on everything. But now it’s time for the truth. You too should have the courage to read. The only thing this dog doesn’t do is write. He eats pens and shreds paper. Better than I do. He is my animal son. He was born of the instantaneous contact between the Moon and a mare. Mare of the Sun. He is a thing Brasília is not. He is: an animal. I am an animal. I really want to repeat myself, just to annoy people.

My God, I’ve gone back in time. It’s exactly twenty to six. And I answer the typewriter: yes. The monstrous typewriter. It’s a telescope. Such wind. Is it a tornado? It is.

Oh what a place to look pretty. Today is Monday, the tenth. As you can see, I didn’t die. I am going to the dentist. A dangerous week, this one. I am telling the truth. Not the whole truth, as I said. And if God knows it, that’s His business. Let him deal with it. I don’t know how but I am going to deal as best I can. Like a cripple. Living for free is what you cannot do. Pay to live? I am living on borrowed time. Just like that mutt Ulisses. As for me, I think that.

How embarrassing. It is my case of public embarrassment. I have three bison in my life. One plus one plus one plus one plus one. The fourth kills me in Malta. In fact the seventh is the shiniest. Bison, if you didn’t know, are cave-dwelling animals. I perform my stories. Human warmth. Fearless city, that one. God is the hour. I am going to last a while yet. No one is immortal. Just see if you can find someone who doesn’t die. 

I died. I died murdered by Brasília. I died to pursue research. Pray for me because I died on my back.

Look, Brasília, I left. And God help me. It’s because I am slightly before. That’s all. I swear to God. And I am slightly after too. What can you do. Brasília is broken glass on the street. Shards. Brasília is a dentist’s metal tool. And very motorcycle too. Which doesn’t stop it from being mullet roe, fried up with plenty of salt. I just happen to be so eager for life, I want so much from it and I take advantage of it so much and everything is so much—that I become immoral. That’s right: I am immoral. How nice to be unsuitable for those eighteen and under.

Brasília exercises every day at 5 a.m. The Bahians there are the only ones who don’t go in for that kind of thing. They write poetry.

Brasília is the mystery categorized in steel filing cabinets. Everything there is categorized. And me? who am I? how have they categorized me? Have they given me a number? I feel numbered, and constricted all over. I barely fit inside myself. I am just a little me, very unimportant. But with a certain class. 

Being happy is such a great responsibility. Brasília is happy. It has the nerve. What will become of Brasília in the year, let us say, 3000? How big a pile of bones. No one remembers the future because it’s not possible. The authorities won’t allow it. And me, who am I? Out of pure fear I obey the most insignificant soldier who stands before me and says: you’re under arrest. Oh I’m going to cry. I am barely. On the verge of.

It’s becoming clear that I don’t know how to describe Brasília. It is Jupiter. It is a word well chosen. It is too grammatical for my taste. And the worst thing is it demands grammar but I don’t know, sir, I don’t know the rules.

Brasília is an airport. The loudspeakers coldly and courteously announce the departing flights.

What else? the thing is, no one knows what to do in Brasília. The only ones who do anything are the people who work like crazy, who make babies like crazy and get together like crazy to dine on the finest delicacies.

I stayed at the Hotel Nacional. Room 800. And drank Coca-Cola in my room. I am constantly—fool that I am—giving away free advertising.

At seven in the evening I will speak just superficially about avant-garde Brazilian literature, since I am not a critic. God spare me from critiquing. I have a morbid fear of facing people who are listening to me. Electrified. Speaking of which Brasília is electrified and a computer. I am definitely going to read too fast so I can get through it quickly. I will be introduced to the audience by José Guilherme Merquior. Merquior is much too wholesome. I feel honored and at the same time so humble. After all, who am I to face a demanding public? I’ll do what I can. Once I gave a talk at the Catholic University and Affonso Romano de Sant’Anna, I don’t know what got into that fabulous critic, asked me a question: does two plus two equal five? For a second I was speechless. But then a darkly humorous anecdote sprang to mind: It goes like this: the psychotic says that two plus two equals five. The neurotic says: two plus two equals four but I just can’t take it. Then there was laughter and everyone relaxed.

Tomorrow I return to Rio, turbulent city of my loves. I like to fly: I love speed. With Vicente I got him to zip around Brasília very fast by car. I sat beside him and we talked a lot. See you later: I’m going to read while waiting to be picked up for the conference. In Brasília you feel like looking pretty. I felt like getting all done up. Brasília is risky and I love risk. It’s an adventure: it brings me face to face with the unknown. I’m going to speak words. Words have nothing to do with sensations. Words are hard stones and sensations are ever so delicate, fleeting, extreme. Brasília became humanized. Only I can’t stand those rounded streets, that vital lack of corners. There, even the sky, is rounded. The clouds are agnus dei. Brasília’s air is so dry that the skin on your face gets dry, your hands rough. 

The dentist’s machine called “Atlas 200” says this to me: tchi! tchi! tchi! Today is the 14th. Fourteen leaves me suspended. Brasília is fifteen point one. Rio is one, but a tiny one. Doesn’t Atlas 200 ever die? No, it doesn’t. It is like me when I am hibernating in Brasília.

Brasília is an orange construction crane fishing out something very delicate: a small white egg. Is that white egg me or a little child born today?

I feel like people are working voodoo on me: who wants to steal my poor identity? All I’ll do is this: I’ll ask for help and have some coffee. Then I’ll smoke. Oh how I smoked and smoked in Brasília! Brasília is a Hollywood-brand filtered cigarette. Brasília is like this: right now I am listening to the sound of the key in the front door lock. A mystery? A mystery, yes sir. I go open it and guess who it was? it was nobody. Brasília is somebody, red carpet, tails and a top hat.

Brasília is a pair of stainless steel scissors. I save what I can to make ends meet. And I have already drawn up my will. I say a bunch of things in it.

Brasília is the sound of ice cubes in a glass of whiskey, at six in the evening, the hour of nobody.

Do you want me to tell Brasília: here’s to you? I say here’s to you with the glass in my hand. In Rio, in my pantry, I killed a mosquito that was quivering in midair. Why this right to kill? It was merely a flying atom. Never will I forget that mosquito whose destiny I plotted, I, the one without a destiny.

I am tired, listening at dawn to the Ministry of Education that also comes from Brasília. Right now I am listening to the Blue Danube in whose waters I recline, serious and alert.

Brasília is science fiction. Brasília is Ceará turned inside out: both bruising and conquering.

And it is a chorus of children on an incredibly blue, super cold morning, the kids opening their little round mouths and intoning an utterly innocent Te Deum, accompanied by organ music. I wish this would happen in the stained glass church at 7 in the evening. Or 7 in the morning. I prefer morning, since twilight in Brasília is more beautiful than the involuntary sunset in Porto Alegre. Brasília is a first place on the university entrance exams. I’m happy with just a little ol’ second place.

I see that I wrote seven as a numeral: 7. Well Brasília is 7. It’s 3. It’s four. It’s eight, nine—I’m skipping the others, and at 13 I meet God.

The problem is that blank paper demands I write. I’ll go ahead and write. Alone in the world, high on a hill. I would like to conduct an orchestra, but they say women can’t because they don’t have the physical stamina. Ah, Schubert, sweeten up Brasília a little. I’m so good to Brasília.

Right this instant-now it’s ten to seven. Me muero. Make yourself at home, dear sir, and the service I offer is deluxe. Whoever wants to can live it up. Brasília is a five-hundred-cruzeiro bill that nobody wants to break. And the number 1 penny? that one I insist on keeping for myself. It’s so rare. It brings good luck. And it brings privileges. Five hundred cruzeiros go down my throat.

Brasília is different. Brasília is inviting. And if invited, I’ll attend. Brasília uses a diamond-studded cigarette holder.

But it is common for people to say: I want money and I want to die suddenly. Even me. But St. Francis took off all his clothes and went naked. He and my dog Ulisses ask for nothing. Brasília is a pact I made with God.

All I ask is one favor, Brasília, of you: don’t take up speaking Esperanto. Don’t you see that words get distorted in Esperanto as in a badly translated translation? Yes, my Lord. I said yes, sir. I almost said: my love, instead of my Lord. But my love is my Lord. There is no answer? O.K., I can stand It. But how it hurts. It hurts so much to be offended by not getting a reply. I can take it. But don’t anyone step on my feet because that hurts. And I am on familiar terms, I go by my first name, don’t stand on ceremony. It’ll go like this: I address you as honorable sir and you use my first name. You are so gallant, Brasília.

Does Brasília have a Botanical Garden? and does it have a Zoological Garden? It needs them, because people cannot live on man alone. Having animals around is essential.

Where is your tragic opera, Brasília? I won’t accept operettas, they are too nostalgic, lead soldiers are what I used to play with, despite being a girl. The blues gently shatters my heart that even so is as hot as the blues itself.

Brasília is Physical Law. Relax, ma’am, take off your girdle, don’t get flustered, have a little sip of sugar water—and then see what it’s like to be Natural Law a little. You’ll love it, ma’am.

Does there happen to exist a course of study called Course on the Existence of Time? Well it should.

Well didn’t they pour bleach on the ground in Brasília. Well they did: to disinfect. But I am, thank God, thoroughly infected. But I had my lungs x-rayed and said to the doctor: my lungs must be black from smoke. He answered: well actually they aren’t, they’re nice and clear.

And so it goes on. I am suddenly silent and have nothing to say. Respect my silence. I don’t paint, no ma’am, I write and do I ever.

In Brasília I didn’t dream. Could it be my fault or does no one dream in Brasília? And that hotel maid? what became of her? I too have suffered, you hear, maid-woman? Suffering is the privilege of those who feel. But now I am sheer joy. It’s almost six in the morning. I got up at four. I am wide awake. Brasília is wide awake. Pay attention to what I am saying: Brasília will never end. I die and Brasília remains. With new people, of course. Brasília is hot off the press.

Brasília is a Wedding March. The groom is a northeasterner who eats up the whole cake because he’s gone hungry for several generations. The bride is a widowed old lady, rich and cranky. From this unusual wedding that I witnessed, forced by circumstances, I left defeated by the violence of the Wedding March that sounded like a Military March and commanded me to get married too and I don’t want to. I left covered in Band-Aids, my ankle twisted, my neck aching and a big wound aching in my heart.

Everything I have said is true. Or it is symbolic. But what difficult syntax Brasília has! The fortuneteller said I would go to Brasília. She knows everything, Dona Nadir, from Méier. Brasília is an eyelid fluttering like the yellow butterfly I saw a few days ago on the corner near my house. Yellow butterflies are a good omen. Geckos say neither yes nor no. But S. has a fear of geckos who are shedding their skin. What I am more afraid of are rats. At the Hotel Nacional they guaranteed they didn’t have rats. So, in that case, I stayed. With a guarantee, I often stay.

Working is fate. Look, Jornal de Brasília, you better include astrology in your paper. After all, we need to know where we stand. I am completely magical and my aura is bright blue just like the sweet stained glass in the church I mentioned. Everything I touch, is born.

It is daybreak here in Rio. A lovely and cold dry morning. How nice that all nights have radiant mornings. Brasília’s horoscope is dazzling. And whoever wants to, let them bear it. 

It’s a quarter to six. I write while listening to music. Anything will do, I’m not difficult. What I was hoping to hear right now was a really astringent fado sung by Amália Rodrigues in Lisbon. Ah how I long for Capri. I suffered so much in Capri. But I forgave it. It’s all right: Capri, like Brasília, is beautiful. I do feel sorry for Brasília because it doesn’t have the sea. But the salt wind is in the air. I detest swimming in a pool. Swimming in the sea breeds courage. A few days ago I went to the beach and entered the sea feeling moved. I drank seven gulps of saltwater from the sea. The water was chilly, gentle, with little waves that were also agnus dei. I am letting you know that I am going to buy an old-fashioned felt hat, with a small crown and upturned brim. And also a green crocheted shawl. Brasília isn’t crochet, it is a knit made by special machines that don’t make errors. But, as I said, I am pure error. And I have a left-handed soul. I get all tangled in emerald-green crochet, I get all tangled. To protect myself. Green is the color of hope. And Tuesday could be a disaster. On my last Tuesday I cried because I had been wronged. But in general Tuesdays are good. As for Thursday, it is sweet and a little bit sad. Laugh all you want, clown, as your house catches fire. Mais tout va très bien, madame la Marquise. Except.

Could there be fauns in Brasília? That settles it: what I’ll do is buy a green hat to match my shawl. Or should I not buy one at all? I am so indecisive. Brasília is decision. Brasília is a man. And I, such a woman. I go bumbling along. I stumble into something here, I stumble into something there. And arrive at last.

The song I am listening to now is completely pure and free of guilt. Debussy. With cool little waves in the sea.

Does Brasília have gnomes?

My house in Rio is full of them. All fantastic. Try just one gnome and you’ll be hooked. Elves also do the trick. Dwarves? I feel sorry for them.

I’ve settled it: I don’t need a hat at all. Or do I? My God, what shall become of me? Brasília, save me for I am in need of it.

One day I was a child just like Brasília. And I so badly wanted a carrier pigeon. To send letters to Brasília. Does anyone get them? yes or no?

I am innocent and ignorant. And when I am in writing mode, I don’t read. That would be too much for me, I don’t have the strength.

I was on the plane with an older Portuguese gentleman, a businessman of some sort, but very genteel: he carried my heavy suitcase. On the way back from Brasília I sat next to an older gentleman who was such a good conversationalist, we had such a good conversation, that I said: it’s incredible how quickly the time went and now we’re here. He said: the time went quickly for me too. I’ll see that man some day. He’s going to teach me. He knows a lot of things.

I am so lost. But that is exactly how we live: lost in time and space.

I am scared to death of appearing before a Judge. Your Most Esteemed Honor, may I have permission to smoke? Yes, indeed ma’am, I myself smoke a pipe. Thank you, Your Eminence. I treat the Judge well, a Judge is Brasília. But I won’t sue Brasília. It hasn’t wronged me.

We are in the middle of the world cup. There is an African country that is poor and ignorant and lost to Yugoslavia 9 to zero. But their ignorance is different: I heard that in that country the black boys either win or they die. Such helplessness.

I know how to die. I have been dying since I was little. And it hurts but we pretend it doesn’t. I miss God so badly.

And now I am going to die a little bit. I need to so much. 

Yes. I accept, my Lord. Under protest.

But Brasília is splendor. 

I am utterly afraid.

 

Published January 8, 2021
From Clarice Lispector, The Complete Stories, introduction by Benjamin Moser, edited by Benjamin Moser, News Directions 2015
© Clarice Lispector
© News Directions, 2015

Brasilia from Visione dello splendore

Written in Portuguese by Clarice Lispector


Translated into Italian by Roberto Francavilla

Brasilia è costruita sulla linea dell’orizzonte. Brasilia è artificiale. Artificiale come doveva essere il mondo quando è stato creato. E quando è stato creato il mondo, è stato necessario creare un uomo specialmente per quel mondo. Siamo tutti deformi perché ci siamo adattati alla libertà di Dio. Ignoriamo come saremmo stati se fossimo stati creati per primi e poi, in seconda battuta, fosse stato creato il mondo deforme a seconda delle nostre necessità. Brasilia non possiede ancora l’uomo di Brasilia. Se dicessi che Brasilia è bella, capireste immediatamente che la città mi è piaciuta. Ma se dico che Brasilia è l’immagine della mia insonnia, in questo intravedete un’accusa. Ma la mia insonnia non è bella né brutta, la mia insonnia sono io, è vissuta, è il mio stupore. È il punto e virgola. I due architetti non hanno pensato a costruire bellezza, sarebbe stato facile: loro hanno eretto lo stupore inspiegato. La creazione non è una forma di comprensione, è un nuovo mistero. – Quando sono morta, un giorno ho aperto gli occhi ed era Brasilia. Ero sola al mondo. C’era un taxi fermo. Senza autista. Che paura – Lucio Costa e Oscar Niemeyer, due uomini solitari. – Guardo Brasilia come guardo Roma: Brasilia è iniziata grazie a una semplificazione finale di rovine. L’era non è ancora cresciuta. 

Oltre al vento c’è un’altra cosa che soffia. Si riconosce soltanto dalle increspature sovrannaturali del lago. – In qualsiasi punto dove si trovi in piedi, un bambino potrebbe cadere e finire fuori dal mondo. Brasilia si trova sul bordo. – Se io abitassi qui, lascerei che i miei capelli crescessero fino a terra. – Brasilia appartiene a un passato splendido che non esiste più. Quel tipo di civiltà è scomparsa da millenni. Nel IV secolo a.C. era abitata da uomini e donne biondi e altissimi che non erano americani né svedesi e che scintillavano al sole. Erano tutti ciechi. É per questo che a Brasilia non c’è niente contro cui andare a sbattere. I brasiliari si vestivano di oro bianco. Quella razza si estinse perché nascevano pochi figli. Più erano belli i brasiliari, più erano ciechi e puri e scintillanti, meno figli facevano. I brasiliari vivevano all’incirca trecento anni. Non c’era nessuno nel nome del quale morire. Millenni più tardi fu scoperta da una banda di fuggiaschi che non sarebbero stati accolti in nessun altro luogo: non avevano niente da perdere. Lì accesero il fuoco, innalzarono le tende, scavando a poco a poco le sabbie che sotterravano la città. Erano uomini e donne, più piccoli e più scuri, dagli sguardi schivi e inquieti che, essendo fuggitivi e disperati, avevano qualcuno nel nome del quale vivere e morire. Abitarono nelle case in rovina, si moltiplicarono dando origine a una razza umana alquanto contemplativa. – Ho aspettato la notte come chi aspetta le ombre per poter svignarsela. Quando la notte è giunta ho capito con orrore che era inutile: dovunque mi trovassi, mi avrebbero vista. La cosa che mi spaventa è questa: vista da chi? – Hanno costruito Brasilia senza posti per i topi. Tutta una parte di noi, la peggiore, precisamente quella che prova orrore per i topi, a questa parte non è toccato nessun posto a Brasilia. Hanno preteso di negare che non serviamo a niente. Costruzioni con spazio calcolato per le nuvole. L’inferno mi capisce meglio. Ma i topi, enormi, stanno invadendo tutto. Questo titolo è invisibile sui giornali. – Qui, ho paura. – La costruzione di Brasilia: quella di uno Stato totalitario. – Questo grande silenzio visuale che amo. Anche la mia insonnia avrebbe creato questa pace del mai. Anch’io, come quei due, che sono monaci, mediterei in questo deserto. Dove non c’è luogo per le tentazioni. Ma vedo in lontananza gli avvoltoi che la sorvolano. Che cos’è che starà morendo, mio Dio? – Non ho mai pianto a Brasilia. Non c’era un posto dove farlo. – È una spiaggia senza mare. – A Brasilia non c’è un modo per entrare, né per uscire – Mamma, che bello vederti in piedi con quel soprabito bianco, che voli. (È che sono morta, figlio mio). – Una prigione all’aria aperta. E comunque non ci sarebbe dove fuggire. Perché chi fugge probabilmente finirebbe a Brasilia. – Mi hanno imprigionata nella libertà. Ma la libertà è solo quello che si conquista. Quando mi danno, mi stanno ordinando di essere libera. – Tutto un lato della freddezza umana che c’è in me, lo trovo qui, a Brasilia, e fiorisce gelido, potente, forza gelata della Natura. Questo è il luogo dove i miei crimini (non i peggiori, ma quelli che in me non capirò) dove i miei crimini gelidi hanno spazio. Vado via. Qui i miei crimini non sarebbero crimini d’amore. Me ne vado dai miei altri crimini, quelli che io e Dio capiamo. Ma so che tornerò. Sono attratta, qui, da ciò che in me mi spaventa. – Non ho mai visto niente di simile al mondo. Ma riconosco questa città nel profondo dei miei sogni. Il profondo dei miei sogni è lucidità. – Perché, come stavo dicendo, Flash Gordon… – Se mi facessero un ritratto in piedi, a Brasilia, al momento di sviluppare la fotografia apparirebbe solo il paesaggio. – Che fine hanno fatto le giraffe di Brasilia? – Quella certa increspatura mia, certi silenzi, fanno sì che mio figlio dica: accidenti, gli adulti come sono mortiferi. – É urgente. Se non verrà popolata, o meglio ancora, sovrappopolata, sarà troppo tardi: non ci sarà posto per le persone. Si sentiranno tacitamente espulse. – L’anima qui non fa ombra per terra. – I primi due giorni mi è scomparsa la fame. Mi sembrava che fosse tutto cibo da aereo. – Di notte ho teso il mio volto verso il silenzio. So che c’è un momento sconosciuto in cui la manna scende e inumidisce le terre di Brasilia. – Per quanto uno si avvicini, qui tutto è visto da lontano. Non ho trovato il modo di toccare. Però ho almeno un vantaggio a mio favore: prima di arrivare qui, ero già capace di toccare da lontano. Non mi sono mai disperata troppo: da lontano, riuscivo a toccare. Ho avuto molto, sai, e non necessariamente quello che ho toccato. Le donne ricche sono così. È Brasilia pura. – La città di Brasilia si trova al di fuori della città. – Boys, boys, come here, will you, look who is coming on the street all dressed up in modernistic style. It ain’t nobody but… (Aunt Hagar’s Blues, Ted Lewis and his Band, con Jimmy Dorsey al clarinetto.) – Questa bellezza spaventosa, questa città tracciata per aria. – Per il momento non possono nascere samba a Brasilia. – Brasilia non mi permette di stancarmi. Mi persegue leggermente. Di buon umore, di buon umore, mi sento bene. E infondo ho sempre coltivato la mia stanchezza come la mia più ricca passività. – Tutto ciò avviene solo oggi. Dio solo sa cosa accadrà a Brasilia. Il fatto è che qui il caso è repentino. – A Brasilia hanno fatto un cattivo incantesimo. È il profilo immobile di una cosa. – Dalla mia insonnia guardo attraverso la finestra dell’hotel alle tre del mattino. Brasilia è il paesaggio dell’insonnia. Non si addormenta mai. – Qui, l’essere organico non si deteriora. Si pietrifica. – Vorrei vedere sparse per Brasilia cinquecentomila aquile del più nero onice. – Brasilia è asessuata. – Il Primo istante in cui la si vede è come quel certo istante di quando ci si ubriaca: i piedi non toccano terra. – Come respira a fondo la gente a Brasilia. Chi respira comincia a desiderare. Ed è proprio questo che non può fare, desiderare. Non c’è modo. Ce la farà? Il fatto è che non vedo dove. – Non mi meraviglierei di imbattermi in arabi per strada. Arabi antichi e morti. – Qui muore la mia passione. E acquisto una lucidità che mi rende grandiosa in modo disordinato. Sono favolosa e inutile, sono di oro puro. E quasi medianica. – Se c’è un crimine che l’umanità non ha ancora commesso, questo nuovo crimine sarà inaugurato qui. E così poco segreto, così adeguato all’altipiano, che nessuno lo saprà mai. – Qui è il luogo dove lo spazio somiglia di più al tempo. – Sono sicura che questo è il mio posto giusto. Ma la terra mi ha viziata troppo. Ho pessime abitudini, nella mia vita. – L’erosione denuderà Brasilia fino all’osso. – L’aria religiosa che ho sentito dal primo instante, e che ho rifiutato. Sono riusciti a erigere questa città attraverso la preghiera. Due uomini beatificati dalla solitudine mi hanno creata qui, in piedi, inquieta, da sola, in questo vento. – Mancano così tanto cavalli bianchi allo stato brado a Brasilia. Di notte sarebbero verdi al chiaro di luna. – Lo so cosa volevano quei due: la lentezza e il silenzio, che è anche l’idea che mi sono fatta dell’eternità. Quei due hanno creato il ritratto di una città eterna. – C’è qualcosa qui che mi mette paura. Quando scoprirò che cosa mi spaventa, saprò anche cosa amo qui. La paura mi ha sempre guidato verso quello che desidero. E, siccome desidero, temo. Spesso è stata la paura a prendermi per mano e a condurmi. La paura mi conduce verso il pericolo. E tutto quello che amo è rischioso. – A Brasilia ci sono i crateri della Luna. – La bellezza di Brasilia sono le sue statue invisibili. 

Sono stata a Brasilia nel 1962. Su di lei ho scritto quello che è appena stato letto. E adesso ci sono tornata, dodici anni dopo, per due giorni. E ne ho scritto ancora una volta. Qui c’è tutto quello che ho vomitato. 

Attenzione: ora comincio. 

Questo brano è accompagnato dal valzer Sangue Viennese, di Strauss. Sono le 11 e 20 del mattino del giorno 13.

 

BRASILIA: SPLENDORE 

 

Brasilia è una città astratta. E non c’è modo di renderla concreta. È una città rotonda e priva di angoli. Non ci sono neanche dei bar dove prendersi un caffè. È vero, giuro che non ho visto angoli. A Brasilia non esiste il quotidiano. La cattedrale chiede a Dio. Sono due mani aperte nell’atto di ricevere. Ma Niemeyer è un tipo ironico: ha ironizzato sulla vita. Che è sacra. Brasilia non ammette diminutivi. Brasilia è uno scherzo rigidamente perfetto e privo di errori. E a me, quel che mi salva, è solo l’errore. 

Nella chiesa di San Bosco ci sono vetrate talmente splendide che sono rimasta in silenzio, seduta su una panca, senza riuscire a credere che si trovassero veramente lì. Anzi, l’epoca che stiamo attraversando è fantastica, è blu e gialla, scarlatta e color smeraldo. Mio Dio, che ricchezza. Nelle vetrate c’è la luce della musica dell’organo. Questa chiesa così illuminata, fra l’altro, è accogliente. L’unico difetto è l’inusitato lampadario rotondo che sembra un po’ da nuovi ricchi. La chiesa sarebbe più pura senza quel lampadario. Ma che ci si può fare? Andarci di notte, quando è tutto buio, e rubarlo? 

Poi sono andata alla Biblioteca Nazionale. Mi ha accolto una giovane russa di nome Kira. Ho visto ragazzi e ragazze che studiavano e amoreggiavano: cose perfettamente compatibili. E lodevoli, ovvio. 

Mi fermo un istante per dire che Brasilia è un campo da tennis. 

Fa un freddino rinvigorente. Che fame, ma che fame. Ho chiesto se ci fosse molta criminalità in città. Mi hanno detto che nella zona periferica di Grama (sarà proprio questo il nome?) ci sono all’incirca tre omicidi a settimana. (Ho interrotto i crimini per mangiare). La luce di Brasilia mi ha acciecato. Ho dimenticato gli occhiali scuri in hotel e sono stata pervasa da una terribile luce bianca. Ma Brasilia è rossa. Ed è completamente nuda. Non c’è modo di non essere esposti, in questa città. Anche se non c’è inquinamento nell’aria: si respira bene, fin troppo bene, il naso secco.

Brasilia nuda mi beatifica. E mi rende folle. A Brasilia devo pensare fra parentesi. Mi arrestano perché vivo? Proprio così. 

Non sono altro se non frasi udite per caso. Per strada, attraversando il traffico, ho sentito dire: “È stato per necessità”. E al cinema Roxy, a Rio de Janeiro, ho sentito dire da due donne grasse: “Di mattina dormiva e di notte si svegliava”. “Non ha nessuna resistenza fisica.” A Brasilia ho resistenza fisica, mentre a Rio sono mezza rammollita, dolce. E ho sentito quest’altra frase, detta dalle stesse donne grasse di prima, che erano basse: “Ma cos’è che quella deve fare, là?” Ed è così, gente mia, che sono stata espulsa.

A Brasilia c’è euforia nell’aria. Ho detto all’autista del taxi giallo: oggi sembra lunedì, non è vero? “È vero”, ha risposto. E non abbiamo detto nient’altro. Avrei voluto tanto dirgli che sono stata nell’adoratissima Brasilia. Ma non ne voleva sapere. A volte esagero.

Allora sono andata dal dentista, hai capito, Brasilia? Io mi curo. Devo leggere una rivista odontologica solo perché mi trovo nella sala d’attesa di un dentista? Poi mi sono seduta sulla magnifica sedia di morte del dentista, una sedia elettrica, e ho visto una macchina che mi guardava, chiamata “Atlante 200”. Mi ha guardato inutilmente, perché non avevo carie. Brasilia non ha carie. È una terra forte, quella. E con lei non si scherza. Punta in alto e lo fa per vincere. Io e Merquior ci siamo fatti grandi risate che ancora risuonano qui a Rio. Sono stata irrimediabilmente impregnata da Brasilia. 

Preferisco gli intrecci carioca. Sono stata delicatamente coccolata a Brasilia ma sono morta di paura quando ho dovuto leggere la mia conferenza. (Annoto qui un fatto che mi spaventa: sto scrivendo al passato, al presente e al futuro. Starò forse levitando? Brasilia soffre di levitazione.) Mi colloco in ogni cosa che ti racconto. Ma è bello perché è rischioso. 

Che ci crediate o meno: mentre leggevo queste parole, dentro di me pregavo. Ma, ancora una volta, è bello proprio perché è rischioso. Adesso mi chiedo: se non ci sono angoli, dove si trovano le prostitute in piedi a fumare? si siedono per terra? E i mendicanti? hanno la macchina? perché l’unico modo per muoversi, là, è la macchina. Brasilia a volte conduce all’estasi e alla plenitudine totale. Ma è anche aggressiva e dura – ah, quanto mi piacerebbe l’ombra di un albero. A Brasilia ci sono gli alberi. Ma non convincono ancora. Sembrano di plastica. 

Adesso scriverò una cosa della massima importanza: Brasilia è il fallimento del più spettacolare successo al mondo. Brasilia é una stella sfracellata. Sono meravigliata. È bellissima e nuda. La spudoratezza che sopraggiunge con la solitudine. Allo stesso tempo mi sono vergognata di spogliarmi per fare la doccia. Come se un gigantesco occhio verde mi guardasse implacabile. Anzi, Brasilia è implacabile. Mi sono sentita come se qualcuno mi indicasse: come se potessero imprigionarmi o prendermi i documenti, la mia identità, la mia veridicità, il mio ultimo alito intimo. Ah, se una pattuglia mi acchiappa e mi dà una bella sova, una ripassata! Allora pronuncerò la peggior parola della lingua portoghese: sovaco. E loro a terra morti. Ma per te, amore mio, sarò più delicata e pronuncerò a bassa voce il suo sinonimo: ascella… 

Brasilia odora di dentifricio. E chi non è sposato, ama senza passione. Semplicemente fa sesso. Ma voglio tornarci, voglio tentare di decifrare il suo enigma. Voglio soprattutto chiacchierare con gli studenti universitari. Voglio che mi invitino a essere partecipe di quella aridità luminosa e piena di stelle. Sarà che qualcuno muore a Brasilia? No. Mai. Non muore mai nessuno perché là non si possono chiudere gli occhi. Là c’è l’ibernazione: l’aria rende intorpiditi per anni, e poi si torna a vivere. Il clima è una sfida e frusta un po’ la gente. Però manca la magia a Brasilia, manca la macumba. Non voglio che Brasilia mi faccia una maledizione: perché attecchirebbe. Prego. Prego molto. Ah, che Dio buono. Tutto là avviene alla luce del sole, e chi vuole girarsi dall’altra parte, lo faccia pure. Anche se i topi adorano la città. Che cosa mangeranno? ah, lo so: mangiano carne umana. Ne sono fuggita come ho potuto. E sembravo teleguidata.

Ho rilasciato varie interviste. Hanno modificato quello che ho detto. Non ne rilascerò più. E se il business è davvero invadere la mia privacy, allora che almeno mi paghino. Mi hanno detto che negli Stati Uniti funziona così. E c’è dell’altro: per me, da sola, c’è un prezzo, ma se c’è di mezzo anche il mio prezioso cane, allora chiederò di più. Se distorceranno le mie parole, gli farò pagare una multa. Scusatemi, non voglio offendere nessuno, ma non voglio essere offesa a mia volta. Ho detto che probabilmente sarei andata in Colombia e hanno scritto Bolivia. Hanno scambiato i due paesi così, a caso. Ma non c’è pericolo: della mia vita personale permetto solo che si dica che ho due figli. Non sono importante, sono una persona comune che desidera solo un po’ di anonimato. Detesto concedere interviste. Che dire, sono una donna semplice e leggermente sofisticata. Un misto di contadina e di stella del cielo. 

Adoro Brasilia. È contraddittorio? Ma che cosa c’è di non contraddittorio? Non si fa altro che andare in giro in macchina per strade deserte. Quando avevo la macchina e guidavo, mi perdevo sistematicamente. Non sapevo mai dove andare e dove sarei finita. Sono disorientata nella vita, nell’arte, nel tempo e nello spazio. Che cose, mio Dio. 

Là le persone si mangiano a pranzo e a cena – è per avere gente che le popoli. Cosa buona e assai gradevole. È l’umanizzazione lenta di una città che per qualche ragione occulta è triste. Mi è piaciuta molto, mi hanno così tanto vezzeggiata a Brasilia. Ma c’erano persone che volevano che me ne andassi in fretta e furia. Gli alteravo la routine. Per quelle persone rappresentavo una scomoda verità. Vivere è drammatico. Ma non c’è via di fuga: si nasce. 

Come saranno quelli che nascono a Brasilia quando crescono e diventano uomini? Perché la città è abitata da forestieri nostalgici. Gli esiliati. Quelli che nascono là, saranno il futuro. Futuro scintillante come acciaio. Se sarò ancora viva, applaudirò lo strano e nuovissimo prodotto che vi sorgerà. Sarà proibito fumare? Sarà proibito tutto, mio Dio? Brasilia sembra sempre un’inaugurazione. Si inaugura ogni giorno. Festeggiamenti, gente mia, festeggiamenti. Che si innalzino le bandiere. 

Chi mi vuole a Brasilia? E allora chi mi vuole mi chiami. Non subito, perché sono ancora stordita. Ma fra qualche tempo. A disposizione. Brasilia è a disposizione. Voglio parlare con la cameriera che mi ha detto, quando ha scoperto chi ero: avrei tanto desiderato scrivere! Le ho detto: e allora forza, ragazza, scrivi. Mi ha risposto: ma ho già sofferto così tanto. Le ho detto, severamente: e allora forza, scrivi su quello che hai sofferto. 

Perché bisogna che qualcuno pianga, a Brasilia. Gli occhi dei suoi abitanti sono troppo asciutti. E allora – allora mi sto offrendo per piangere. Io e la mia cameriera, noi, le compagnucce. Mi ha detto: quando l’ho vista mi sono venuti i brividi sulle braccia. Mi ha detto di essere una medium. 

Davvero. Sono rabbrividita. E mi vengono i sudori freddi. Che Dio mi assista. Sono così muta che neanche la luna. 

Brasilia è tempo integrale. Ho paura di lei, panico. È il luogo ideale per fare la sauna. Sauna? Sì. Perché là non si sa che fare di sé stessi. Guarda in basso, guarda in alto, guarda da una parte – e la risposta è un grido: noooooooo! Brasilia ti tratta male da far paura. Perché là mi sento così colpevole? che cosa ho fatto di male? e perché non hanno eretto bene al centro della città un grande Uovo bianco? Il fatto è che non esiste un vero centro. Ma l’Uovo manca.

Come ci si veste a Brasilia? Di metallo? 

Brasilia è il mio martirio. E non possiede sostantivi. Solo aggettivi. E quanto fanno male. Ah, mio Diuccio, dammi un sostantivuccio, per amor di Dio! Ah, non me lo vuoi dare? allora fa conto che non abbia detto niente. So perdere. 

Oh, hostess, veda un po’ di farmi un sorriso un po’ più spontaneo! E questo sarebbe un sandwich commestibile? così, tutto disidratato? Farò come Sérgio Porto: mi hanno detto che su di un aereo la hostess gli ha chiesto: lo prende un caffè? E lui le ha risposto: prendo tutto quello a cui ho diritto. 

A Brasilia non è mai notte. È sempre implacabilmente giorno. Castigo? Ma cosa ho fatto di sbagliato, mio Dio? Non voglio saperlo, dice Lui, castigo è castigo. 

A Brasilia praticamente non c’è un posto dove cadere stecchiti. Ma c’è una cosa: Brasilia è proteina pura. L’ho detto o no che Brasilia è un campo da tennis? Ecco, Brasilia è sangue su di un campo da tennis. E io? dove sono? io? povera me, con il fazzoletto macchiato di rosso. Mi uccido? No. Vivo come una risposta grossolana. Sono lì per chi mi vuole. 

Ma Brasilia è il suono opposto. E nessuno nega che Brasilia non sia goooooooool! Anche se distorce un po’ il samba. Chi? Chi sta cantando alleluia e che sto ascoltando con gioia? Chi sta attraversando come spada affiliatissima la futura e sempre futura città di Brasilia? Ripeto: proteina pura, che non sei altro. Mi ha reso fertile. O sono io stessa a cantare? Mi ascolto, commossa. C’è Brasilia nell’aria. Nell’aria purtroppo priva dell’appoggio indispensabile di un angolo di strada da vivere. L’ho forse già detto che a Brasilia non si vive? si abita. Brasilia è osso asciutto di puro spavento nel sole inclemente della spiaggia. Ah, cavallo bianco, ma che criniera agreste. Ahi, non riesco più ad aspettare. Un aereoplanino, per favore. E il livido chiaro di luna che entra nella stanza e mi assiste, me, pallida, bianca, capricciosa. 

Sono priva di angoli. La mia radio a pile non capta più musica. Cosa succede? Così non va. Mi ripeto? E fa male? 

Per l’amor di Zio (ho perfino sbagliato la parola Dio dallo spavento), per amor di Dio, per favore che mi perdonino quelli che abitano a Brasilia per quanto sono costretta a dire, io, un’umile schiava della verità. Non voglio offendere nessuno. È solo una questione di luce troppo bianca. Ho gli occhi sensibili, vengo invasa dal chiarore candido e da tanta terra rossa. 

Brasilia è un futuro che è accaduto nel passato. 

Eterna come una pietra. La luce di Brasilia – mi sto ripetendo? – la luce di Brasilia ferisce il mio pudore femminile. È solo questo, gente mia, solo questo. 

A parte questo, viva Brasilia! Aiuto a issare la bandiera. E perdono lo schiaffo che daranno sul mio povero volto. Ah, povera me. Così orfana di madre. È un dovere avere una madre. È una cosa della natura. Sono a favore di Brasilia. 

Nell’anno 2000, allora ci sarà una festa. Se sarò ancora viva, voglio partecipare all’allegria. Brasilia è un’allegria generale esagerata. Leggermente isterica, è vero, ma non fa niente. Risate nei corridoi buio. Io rido, tu ridi, lui ride. Tre. 

A Brasilia non ci sono pali della luce perché i cani possano fare pipì. Manca molto un pipì-dog. Ma Brasilia è un gioiello, signor mio. Là funziona tutto come si deve. Brasilia mi racchiude nell’oro. Me ne andrò dal parrucchiere. Sto parlando di Rio. Eilà, Rio! Eilà! Eilà! sono veramente spaventata. Che Dio mi assista. 

Ma ti dirò, ci sono momenti, amico mio, ci sono momenti in cui Brasilia è un capello nella minestra. Sono molto occupata, Brasilia, vattene al diavolo e lasciami in pace. Brasilia non si trova in nessun luogo. C’è un’atmosfera fatta di indignazione e tu sai bene perché. Brasilia: prima di nascere è già nata, la prematura, la nascitura, il feto, insomma, io. Ah, che faccia tosta. 

A Brasilia non entra chiunque, proprio no. Ci vuole nobiltà, molta poca vergogna e molta nobiltà. Brasilia non è. È soltanto il ritratto di se stessa. Io ti amo, oh, “estrosima”! oh, parola che ho inventato e che non so cosa voglia dire. Oh, foruncolo!  pus cristallizzato, ma di chi? Attenzione: c’è sperma nell’aria.

Io, la scriba. Io, l’infelice definitrice per destino. Brasilia è il contrario di Bahia. Bahia è natiche. Ah, che nostalgia dell’inzuppata Place de Vendôme. Ah, che nostalgia di praça Maciel Pinheiro a Recife. Tanta povertà d’animo. E tu che esigevi da me. E io che non posso farci niente. Ah, che nostalgia del mio cane. Intimo com’è. Ma un giornale lo ha fotografato e adesso tutti ne parlano. Lui ed io. Noi, fratellini di San Francesco d’Assisi. Ce ne stiamo zitti: è meglio per noi. 

Vedrai che ti acchiappo, Brasilia! E nelle mie mani soffrirai terribili torture! Mi infastidisci, o gelida Brasilia, perla ai porci. Oh, apocalittica. 

E, all’improvviso, la grande disgrazia. L’esplosione. Perché? Nessuno lo sa. Oh Dio, come ho fatto a non accorgermene subito? non è forse vero che Brasilia è “La Salute della Donna”? Brasilia dice di volere ma non vuole. Si fa pregare. Brasilia è un dente rotto proprio davanti. Ed è anche cupola. Possiede un motivo principale. Qual é? segreto, molto segreto, sussurri, bisbigli e sussurri. Chiacchiericcio infinito. 

Sana, sana. Qui sono insegnante di Educazione Fisica. Faccio le capriole. Proprio così: faccio l’inferno. Brasilia è l’inferno paradisiaco. È una macchina da scrivere: toc-toc-toc. Voglio dormire! lasciatemi in pace!!! So-no-stan-ca. Di essere in-com-pren-si-bi-le. Ma non voglio che mi comprendiate, altrimenti perdo la mia sacra intimità. È molto grave ciò di cui sto parlando, davvero molto grave. Brasilia è il fantasma di un vecchio cieco con il bastone che fa toc-toc-toc. E senza cane, poveretto. Ed io? come posso aiutarlo? Brasilia si aiuta. È un violino fine, fine, fine. Manca il violoncello. Ma che esplosione. Non ce n’era bisogno, proprio no. Ve lo garantisco. Anche se Brasilia non ha un garante. 

Voglio tornare a Brasilia all’appartamento 700. Così metterò i puntini sulle “i”. Ma Brasilia non fluisce. Esiste al contrario. Così: ecsiulf (fluisce). 

È folle, però funziona. Come detesto la parola “però”. La uso solo perché è necessaria. 

Quando cala la notte, Brasilia diventa Zebedeu. Brasilia è farmacia notte e giorno. 

La ragazza all’aeroporto mi ha controllata tutta. Le ho chiesto: ho forse l’aria di una sovversiva? Lei mi ha risposto, ridendo: a dire il vero sì. Non mi hanno mai palpeggiato tanto, Maria Vergine, che è perfino peccato. Un tale passaggio di mani su di me che non so nemmeno come ho fatto a resistere. 

Brasilia è magra. Elegantissima. Usa parrucca e ciglia posticce. Pergamena all’interno della Piramide. Non invecchia. È Coca-Cola, mio Dio, e mi sopravvivrà. Che peccato. Per la Coca-Cola, è chiaro. Aiuto! Aiuto! help me! Sai qual è la risposta di Brasilia alla mia richiesta di aiuto? È ufficiale: lo vuole un caffè? Ed io? nessuno mi aiuta? Trattami bene, hai capito? così… così… piano piano. Ecco. Ecco. Che sollievo. La felicità, amore mio, è il sollievo. Brasilia è un calcio nel sedere. È il luogo dove i portoghesi si arricchiscono. E io che punto alla lotteria clandestina e non vinco niente? 

Ma che bel naso che ha Brasilia. Delicato. 

Lo sapevi che Brasilia è etc.? E allora sappilo. Brasilia è XPTR… quante consonanti vuoi, ma neanche una vocale per riposarti. E Brasilia, o mio signore, scusami, ma Brasilia è lì proprio per questo. 

Senti, Brasilia, non sono una di quelle là che trovi in giro, proprio no. Più rispetto, per cortesia. Sono una viaggiatrice spaziale. Esigo molto rispetto. Molto Shakespeare. Ah, ma non voglio morire! Ahi, che sospiro. Ma Brasilia è l’attesa. E io non resisto ad aspettare. Fantasma blu. Ah, come da fastidio. È come provare a ricordare e non riuscirci. Voglio dimenticare Brasilia ma lei non me lo permette. Che ferita asciutta. Oro. Brasilia è oro. Gioielli. Scintillante. Ci sono cose su Brasilia che so ma non posso dire, non me lo permettono. Indovinate. 

E che Dio mi assista. 

Va’, donna, e compi il tuo destino, donna. Essere la donna che sono è un dovere. Mi trovo in questo istante-ormai a issare bandiere – ma che vento minuano! – e io che dico viva! 

Ah, che stanchezza. 

A Brasilia è sempre domenica. Adesso, però, parlerò a bassa voce Così: amore mio. L’ho detto? Sei tu a rispondere. Terminerò con la parola più bella del mondo. Così, lentamente: amore, ma che nostalgia. A-m-o-r-e. Ti bacio. Come un fiore. Bocca sulla bocca. Ma che ardimento. E adesso – adesso pace. Pace e vita. Sono viva. Forse non merito tutto questo. Ho paura. Ma non voglio finire nella paura. Estasi. Yes, my love. Mi offro. Sì. Pour toujours. Tutto – ma tutto è assolutamente naturale. Yes. Io. Ma soprattutto tu che sei colpevole, Brasilia. E comunque ti scuso. Non hai colpa se sei così bella e patetica e pungente e folle. Sì, sta soffiando un vento di Giustizia. Allora dico alla Grande Legge Naturale: sì. Lo specchio si è rotto: chi è che è più bella di me? Nessuna, risponde lo specchio magico. Sì, lo so bene, siamo noi due. Sì! sì! sì! Ho detto sì. 

Chiedo umilmente aiuto. Mi stanno derubando. Tutto il mondo è me? Spavento generale. Questo non è un vento, nossignore, questo è un ciclone. Sono a Rio. Alla fine sono scesa dal disco volante. Ed ecco un’amica che mi viene incontro, un’amica che mi dice – ciao Carmem Miranda! – che mi dice che esiste una canzone intitolata Bambolina di Catrame che dice più o meno: eccomi con i calli nelle scarpe strette, quasi soffocato dal cravattino, per vedere il mio tesorino. 

Sono atterrata. Ho la voce indebolita ma dico ciò che Brasilia vuole che dica: brava! bravissima! E basta. Adesso vivrò a Rio con il mio cane. Vi chiedo di fare silenzio. Così: si-len-zio. Sono così triste. 

Brasilia è un occhio azzurro, scintillantissimo, che mi brucia nel cuore. 

Brasilia è Malta. Dove si trova Malta? Si trova nel giorno del supermai. Eilà! Eilà! Malta! Oggi è domenica a New York. A Brasilia, la fulgida, è già martedì. Brasilia semplicemente salta il lunedì. Lunedì è il giorno in cui si va dal dentista, c’è poco da fare, bisogna compiere anche i doveri ingrati, povera me. Scommetto che a  Brasilia si balla ancora, che cose. Sono le sei e venti del pomeriggio, quasi sera. Alle 6h20 non succede niente. Eilà! Eilà! Brasilia, voglio una risposta, ho fretta, ho appena ammesso la mia morte. Sono triste. Il passo è troppo lungo per le mie gambe, comunque lunghe. Aiutatemi a morire in pace. Come ho detto o non ho detto, voglio una mano amata che stringa la mia al momento di andarmene. Me ne vado protestando. Io. La fantasmagorica. Il mio nome non esiste. Ciò che esiste è un ritratto falsificato di un ritratto di un altro mio ritratto. Ma quella vera è già morta. Sono morta il 9 di giugno. Domenica. Dopo aver pranzato in preziosa compagnia di quelli che amo. Ho mangiato pollo arrosto. Sono felice. Ma manca la vera morte. Ho fretta di vedere Dio. Pregate per me. Sono morta con eleganza. 

La mia anima è vergine e quindi ho bisogno di protezione. Chi mi aiuterà? Il parossismo di Chopin. Solo tu puoi aiutarmi. In fondo sono sola. Ci sono verità che non ho raccontato neanche a Dio. E nemmeno a me stessa. Sono un segreto chiuso a sette chiavi. Per favore risparmiatemi. Sono così sola. Io e i miei rituali. Il telefono non squilla. Fa male. Ma è Dio che mi risparmia. Amen. 

Sapete che io so parlare la lingua dei cani e anche quella delle piante? Amen. Ma la mia parola non è l’ultima. Ne esiste una che non posso pronunciare. E la mia storia è galante. Sono una lettera anonima. Non firmo ciò che scrivo. Che siano gli altri a firmare. Non ho le credenziali. Io? Ma proprio io? Mai! Ho bisogno di un padre. Chi si candida? No, non ho bisogno di un padre, ho bisogno del mio simile. Aspetto la morte. Ma che vento, signor mio. Il vento è una cosa che non si può vedere. Chiedo a Dio Nostro Signore Geova della sua collera in forma di vento. Solo Lui può spiegare. O non può? Se Lui non può, sono perduta. Ah come ti amo, e ti amo tanto che ti muoio. 

Vi ricordate che ho parlato del campo da tennis con il sangue? Ecco, il sangue era il mio, scarlatto, i coaguli erano i miei. 

Brasilia è corsa di cavalli. Io no che non sono un cavallo. Che Brasilia sia dannata e corra da sola senza di me. 

Brasilia è iperbolica. Sono sospesa fino al prossimo ordine. Vivo, da tanto sono ostinata. Sono davvero atterrata. There is no place like home. Come è bello tornare. Partire è bello ma tornare è più meglio. Proprio così: più meglio.

Cosa c’è di suppletivo a Brasilia? Non lo so proprio, signor mio. So solo che tutto è niente e che niente è tutto. Il mio cane dorme. E io sono il mio cane. Io mi chiamo Ulisses. Siamo tutti e due stanchi. Così stanchi, stanchissimi. Povera me, poveri noi. Silenzio. Dormi anche tu. Ah, città stupita. Si stupisce da sé. Sono rancida. Protesterò come Chopin ha protestato per l’invasione della Polonia. Ho pur sempre i miei diritti. Io sono io, così dicono gli altri. E se lo dicono, perché non dovrei crederci? Addio. Sono seccata. Protesterò. Protesterò presso Dio. E se Lui potrà, che mi dia ascolto. Sono una bisognosa. Sono partita da Brasilia con un bastone. Oggi è domenica. Perfino Dio si è riposato. Dio è una cosa divertente: Lui si può a se stesso e ha bisogno di se stesso. 

Sono venuta a casa, è vero, e non è che la mia cuoca adesso si mette a fare letteratura? Le ho chiesto che fine ha fatto la Coca-Cola nel frigorifero. Mi ha risposto, da bella nera qual è: che era davvero stanca, allora le ho detto di andarsi a riposare, poverina. Una volta, secoli fa, ho raccontato a Paulo Mendes Campos una frase che la mia domestica di allora mi aveva detto. E lui ha scritto qualcosa del tipo: ognuno ha la domestica che merita: la mia domestica ha una voce bellissima e canta per me se glielo chiedo: “Nessuno mi ama”. Lei disegna, fa letteratura. Come divento umile. Perché non merito tanto. 

Io non sono niente. Sono una domenica frustrata. O sto facendo l’ingrata? Molto mi è stato dato, molto mi è stato tolto. Chi ci guadagna? Certamente non io. È qualcuno di iperbolico. 

Brasilia, sii anche un po’ animale. È così bello. Davvero bello. Non avere il pipì-dog è un’offesa al mio cane che non andrà mai a Brasilia per gli ovvi motivi. Sono le sei meno un quarto. Nessuna ora. Perfino Kissinger sta dormendo. O si trova a bordo di un aereo? Non c’è modo di saperlo. Buon compleanno, Kissinger. Buon compleanno, Brasilia. Brasilia è un suicidio di massa. Brasilia, ti stai grattando? io no, non ci casco perché chi comincia poi non riesce a smettere. Tu conosci il resto. 

Il resto è parossismo. 

Nessuno lo sa, ma il mio cane non solo fuma, ma beve il caffè e mangia i fiori. E beve birra. Prende anche pastiglie contro la depressione. Sembra un mulattino. Tutto quello che desidera è una cagnetta. Appartiene alla classe media. Non ho permesso che i giornalisti sapessero tutto. Ma adesso è l’ora della verità. E tu, abbi il coraggio di leggere. È un cane a cui manca solo la capacità di scrivere. Mangia le penne e straccia la carta. Meglio di me. È un figlio animale. È nato dall’istantaneo contatto fa la Luna e una giumenta. Giumenta del sole. Lui è qualcosa che Brasilia non è. Lui è: animale. Io sono animale. Ho tanta voglia di ripetermi, solo per dare fastidio. Mio Dio, sono tornata indietro nel tempo. Sono esattamente le sei meno venti. E rispondo alla macchina da scrivere: yes. La macchina mostruosa. È un telescopio. Che vento. È un ciclone? Sì. 

Ma che luogo, per essere belli. Oggi è lunedì, il 10. Come vedi, non sono morta. Vado dal dentista. Settimana pericolosa, questa. Dico la verità. Non tutta la verità, come ho detto. E se Dio lo sa, sono fatti Suoi. Che si sistemi. Io mi sistemo come posso. Come uno zoppo. Vivere gratis, questo non è possibile. Pagare per vivere? Ho una vita oltre la vita. Come il bastardino Ulisses. Quanto a me, credo che.

Che vergogna. Il mio è un caso di vergogna pubblica. Ci sono tre bisonti nella mia vita. Uno più uno più uno più uno. Il quarto mi uccide a Malta. In verità il settimo è il più brillante. Il bisonte, per chi non lo sappia, è un animale di caverna. Faccio svolgere le mie storie. Calore umano. Città senza paura, quella. Dio è l’ora. Durerò ancora. Nessuno è immortale. Vedi un po’ se trovi uno che non muoia. 

Sono morta. Sono morta assassinata da Brasilia. Sono morta per fare delle ricerche. Pregate per me perché sono morta di spalle. 

Guarda, Brasilia, me ne sono andata. E che Dio mi assista. Il fatto è che sono un po’ prima. È solo questo. Lo giuro su Dio. E sono anche un po’ dopo. Che cosa ci posso fare. Brasilia é un vetro rotto per terra, in strada. Cocci. Brasilia è l’apparecchio che ti mette il dentista. Ed è anche molto motocicletta. Per non dire delle uova di pesce, ben fritte e salate. Succede che sono così avida della vita, desidero così tanto da lei e ne approfitto così tanto e tutto è così tanto – che divento immorale. Proprio così: sono immorale. Che bellezza essere impropria fino ai diciott’anni. 

Brasilia fa ginnastica tutti i giorni alle 5 del mattino. Sono i baiani di laggiù che se ne occupano. Fanno poesia. 

Brasilia è il mistero classificato in archivi d’acciaio. Ogni cosa là viene classificata. E io? chi sono? com’è che mi hanno classificata? Mi hanno affibbiato un numero? Mi sento numerata e tutta stretta. Ho spazio appena sufficiente dentro di me. Io sono un io piccolino, una cosuccia da niente. Ma con una certa classe. 

Essere felice è una responsabilità così grande. Brasilia è felice. Ha questa audacia. Cosa sarà di Brasilia nell’anno, diciamo, 3000? Quante ossa. Nessuno si ricorda del futuro perché non può essere. Le autorità non lo permettono. E io, chi sono? obbedisco per puro timore al minimo soldato che mi compare di fronte e mi dice: si consideri prigioniera. E allora comincio a piangere. Solo per un pelo. On the verge of

Si vede benissimo che non sono capace a descrivere Brasilia. Lei è Giove. È una parola messa al punto giusto. È troppo grammaticale per i miei gusti. E il problema è che esige grammatica but I don’t know, sir, I don’t know the rules

Brasilia è un aeroporto. Gli altoparlanti che annunciano freddamente e con cortesia la partenza degli aerei.  

Che altro? è che non si sa cosa fare a Brasilia. Gli unici che fanno qualcosa sono quelli che si dannano a lavorare, quelli che si dannano a fare figli e che si dannano a riunirsi a cene piene di grandi prelibatezze.  

Sono stata ospite dell’Hotel Nacional. Appartamento 800. E ho bevuto Coca-Cola in camera. Scema come sono, continuo a fare pubblicità gratis. 

Alle sette di sera parlerò in generale dell’avanguardia letteraria brasiliana, pur non essendo io una critica. Dio mi scampi dal criticare. Ho una paura secca di affrontare persone che mi stanno ad ascoltare. Elettrizzata. Anzi, Brasilia è elettrizzata ed è un computer. Sicuramente leggerò con troppa fretta in modo da finire prima. Sarò presentata al pubblico da José Guilherme Merquior. Merquior è fin troppo esuberante. Sono onorata e allo stesso tempo umile. E, infondo, chi sono io per affrontare un pubblico esigente? Farò quel che posso. Una volta ho tenuto una conferenza alla Pontifícia Universidade Católica e Affonso Romano de Sant’Anna, non so cosa diavolo gli avesse preso a quell’ottimo critico, mi ha fatto questa domanda: due più due fa cinque? Per un secondo sono rimasta attonita. Poi però mi è venuta in mente questa barzelletta di humour nero: lo psicotico dice: due più due fa cinque. Il nevrotico dice: due più due fa quattro ma io semplicemente non ce la faccio. Ci furono allora sorrisi e tutti tornarono a rilassarsi.

Domani torno a Rio, turbolenta città dei miei amori. Mi piace viaggiare in aereo: amo la velocità. A Brasilia sono riuscita a far correre velocissimo il signor Vicente con la sua macchina. Mi sono seduta accanto a lui e abbiamo chiacchierato tanto. A presto: mi metterò a leggere mentre aspetto che mi vengano a prendere per la conferenza. A Brasilia viene voglia di essere belle. Mi è venuta voglia di mettermi in ghingheri. Brasilia è rischiosa e io amo il rischio. È un’avventura: mi mette faccia a faccia con l’ignoto. Dirò delle parole. Le parole non hanno nulla a che vedere con le sensazioni. Le parole sono pietre dure e sensazioni delicatissime, fugaci, estreme. Brasilia si è umanizzata. Solo che non sopporto quelle strade rotonde, quella mancanza vitale di angoli. Laggiù perfino il cielo è rotondo. Le nuvole sono agnus dei. A Brasilia l’aria è così secca che anche la pelle del viso diventa secca, le mani ruvide.  

La macchina del dentista chiamata “Atlante 200” mi dice: bip! bip! bip! Oggi è il 14. Il quattordici mi lascia come in sospeso. Brasilia è quindici virgola uno. Rio é uno, ma un uno piccolino. Atlante 200 non muore? No, non muore. È come me quando sono ibernata a Brasilia. 

Brasilia è una gru arancione che pesca qualcosa di molto delicato: un piccolo uovo bianco. Quell’uovo bianco sono io o è un bambino che sta nascendo oggi? 

Sento che stanno facendo una macumba contro di me: chi vuole rubare la mia povera identità? Farò così: chiederò aiuto e mi berrò un caffè. Poi mi metterò a fumare. Come e quanto ho fumato a Brasilia! Brasilia è sigarette Hollywood con filtro. Brasilia è così: sento in questo istante il rumore della chiave nella serratura della porta di entrata e di uscita. Mistero? mistero, sissignore. Vado ad aprire e sai chi era? Non era nessuno. Brasilia è qualcuno, tappeto rosso, frac e cappello a cilindro. 

Brasilia è una forbice di puro acciaio. Metto da parte più che posso in modo che il denaro mi basti. E ho già fatto testamento. Lì dentro dico un bel po’ di cose. 

Brasilia è il rumore dei cubetti di ghiaccio nel whisky, alle 6 del pomeriggio, orario di nessuno.

Volete che dica “viva” a Brasilia? dico “viva” con il bicchiere in mano. A Rio, nella cucina di casa mia, ho ucciso una zanzara che tremolava per aria. Perché questo diritto a uccidere? Non era che un atomo che volava. Non dimenticherò mai quella zanzara il cui destino ho tracciato, proprio io, quella priva di destino. 

Sono stanca, mentre all’alba ascolto la stazione radio del Ministero dell’Educazione, che è di Brasilia anche questa. L’istante in cui sento Danubio Blu sulle cui acque mi affaccio, seria e attenta. 

Brasilia è fantascienza. Brasilia è il Ceará al contrario: entrambi contundenti e conquistatori. 

Ed è coro d’infanzia in un mattino azzurrissimo e super gelido, i bambini che aprono le boccucce rotonde intonando un Te Deum totalmente innocente, accompagnato da musica d’organo. Voglio che ciò accada nella chiesa delle vetrate alle 7 di sera. O alle 7 del mattino. Preferisco al mattino, sebbene il crepuscolo a Brasilia sia ancora più bello del tramonto involontario di Porto Alegre. Brasilia è un primo posto nella classifica per entrare all’Università. Io mi accontenterei già di un secondo posticino. 

Noto di aver scritto sette in numero: 7. Perché Brasilia è 7. È 3. È quattro. È otto, nove – salto gli altri, e al 13 mi incontro con Dio. 

Il problema è che la carta bianca esige che io scriva. Vado e scrivo. Sola al mondo, sulla cima di un morro. Vorrei essere direttrice d’orchestra, ma dicono che le donne non possono perché non hanno sufficiente resistenza fisica. Ah, Schubert, rendi Brasilia un po’ più dolce. Io vado così bene per Brasilia. 

In questo istante-ormai sono le sette meno dieci. Me muero. La casa è sua, mio signore, e il servizio che le offro è di lusso. Ne approfitti chi vuole. Brasilia è una banconota da 500 cruzeiros che nessuno vuole cambiare. E il centesimo numero 1? quello lo rivendico per me. È rarissimo. Porta fortuna. E privilegi. Cinquecento cruzeiros mi attraversano la gola. 

Brasilia è differente. Brasilia invita. E se mi invitano, io accetto. Brasilia usa il bocchino di brillanti. 

Ma è un luogo comune quando si dice: voglio denaro e voglio morire all’improvviso. Perfino io. Ma San Francesco si è spogliato di tutto fino a rimanere nudo. Lui e il mio cane Ulisses non chiedono nulla. Brasilia é un patto che ho fatto con Dio. 

Ti chiedo solo un favore, Brasilia: non cominciare con quella storia di parlare esperanto. Non vedi che in esperanto le parole vengono deturpate come in una traduzione malfatta? Yes, my Lord. I said yes, sir. I almost said: my love, em vez de my Lord. But my love is my Lord. There is no answer? O.K., I can stand It. Ma quanto fa male. Fa molto male essere offesa da una mancanza di risposta. Resisto. Ma non pestatemi i piedi perché fa male. E sono familiare, sono te, non fare complimenti. Finirà così: mi rivolgo a ti chiamandoti signor dottore e lei mi da del tu. Sei così galante, Brasilia. 

A Brasilia c’è il Giardino Botanico? e c’è il Giardino Zoologico? Mancano, perché non è solo di gente che vive l’uomo. Avere degli animali è essenziale. 

Che fine ha fatto la tua tragica opera, Brasilia? L’operetta, quella non mi va, è troppo nostalgica, è un soldatino di piombo con cui io, sebbene ancora bambina, ho giocato. Il blues mi spezza dolcemente il cuore che è comunque caldo proprio come il blues. 

Brasilia è Legge Fisica. Si rilassi, mia signora, si slacci la cintura, non si agiti, beva un sorso d’acqua e zucchero – e poi provi un po’ la Legge Naturale. Vedrà come le piacerà. 

Esiste per caso una materia di studio chiamata “Materia dell’Esistenza del Tempo”? Perché dovrebbe esistere.

Ci credete che hanno passato dell’acqua ossigenata per terra, a Brasilia? L’hanno fatto veramente: per disinfettare. Ma io, grazie a Dio, sono ben infetta. E ho fatto la radiografia ai polmoni e ho detto al medico: i miei polmoni saranno neri dal fumo. E lui mi ha risposto: e invece no, anzi, sono chiari. 

E avanti così. All’improvviso sono muta e senza argomenti. Rispettate il mio silenzio. Io non dipingo, nossignora, io scrivo ed ecco tutto. 

A Brasilia non ho sognato. Sarà colpa mia o a Brasilia non si sogna? E la cameriera? che fine avrà fatto? Anch’io ho già sofferto, hai capito, donna-cameriera? La sofferenza è privilegio di coloro che sentono. Ma adesso sono pura allegria. Sono quasi le sei del mattino. Mi sono svegliata alle quattro. Sono allerta. Brasilia è allerta. Fate attenzione a quello che dico: Brasilia non finirà mai. Io muoio e Brasilia rimane. Con persone nuove, è chiaro. Brasilia é nuova di zecca. 

Brasilia è la Marcia Nuziale. Il fidanzato è un nordestino che si mangia tutta la torta perché la sua è una fame di generazioni. La fidanzata è una vecchia signora vedova, ricca e brontolona. Da questo insolito matrimonio a cui ho assistito, forzata dalle circostanze, sono uscita sconfitta dalla violenza della Marcia Nuziale che sembra una Marcia Militare e che ha fatto sì che anch’io mi sposassi anche se non voglio. Ne sono uscita tutta incerottata, con le caviglie slogate, la nuca dolorante e una grande ferita che mi fa male al cuore. 

Tutto quel che ho detto è vero. O è simbolico. Ma che sintassi difficile, Brasilia! La cartomante ha detto che sarei andata a Brasilia. Lei sa tutto, dona Nadir, del Méier. Brasilia sono palpebre che sbattono come neanche una farfalla gialla che uno di questi giorni ho visto all’angolo di casa mia. Le farfalle gialle sono di buon auspicio. Le lucertole non dicono sì né no. Ma S. ha una paura delle lucertole da farsela sotto. Io ho più paura dei topi. All’Hotel Nacional mi hanno garantito che non c’erano topi. E allora sono rimasta lì. Se me lo garantiscono, allora rimango. 

Lavorare è destino. Senti, Giornale di Brasilia, includi l’astrologia nei tuoi piani. In fondo la gente deve sapere a cosa va incontro. Sono totalmente magica e la mia aura è di un azzurro forte come neanche le dolci vetrate della chiesa di cui ho parlato. Tutto quel che tocco, nasce.

Qui a Rio sta albeggiando. Un freddo e bel mattino asciutto. Che bello che tutte le notti hanno mattini radiosi. L’oroscopo di Brasilia è fulgente. E chi vuole, che sopporti. 

Sono le sei meno un quarto. Scrivo ascoltando musica. Mi va bene tutta, nessun problema. Quello che vorrei sentire adesso è un fado di quelli belli struggenti cantato da Amália Rodrigues a Lisbona. Ah, che nostalgia di Capri. Ho sofferto così tanto a Capri. Ma ho perdonato. Non fa niente: Capri, come Brasilia, è bellissima. L’unica cosa che mi dispiace è che a Brasilia non ci sia il mare. Ma c’è odore di salsedine per l’aria. I bagni in piscina li disprezzo. Quelli in mare danno coraggio. Un giorno, di recente, sono andata alla spiaggia e sono entrata in mare con emozione. Ho bevuto sette sorsi di acqua salata del mare. L’acqua era bella fredda, delicata, con piccole onde che erano anche agnus dei. Vi avviso che mi comprerò un cappello di feltro vecchio stile, di quelli con la cupola piccola e le tese rialzate. E anche uno scialle verde fatto all’uncinetto. Brasilia non è uncinetto, è lavoro a maglia fatto da macchine specializzate che non commettono errori. Ma, come ho detto, io sono puro errore. E ho l’anima mancina. Mi avvolgo tutta nello scialle all’uncinetto verde smeraldo, mi ci avvolgo tutta. Per proteggermi. Il verde è il colore della speranza. E martedì potrebbe essere un disastro. L’ultimo martedì che ho vissuto ho pianto perché sono stata offesa. Ma, in generale, il martedì è bello. Il giovedì, invece, è dolce e un po’ triste. Ridi, pagliaccio, mentre la casa prende fuoco. Mais tout va très bien, madame la marquise. Solo che. 

Chissà se a Brasilia ci sono i fauni. Ecco la soluzione: il cappello me lo compro verde, così si combina con lo scialle. O non mi compro nessun cappello? sono così indecisa. Brasilia è decisione. Brasilia è uomo: e io, così donna. Vado avanti a casaccio. Sbatto qui, sbatto là. Ma alla fine arrivo. 

La musica che sto ascoltando in questo momento è interamente pura e senza colpa. Debussy. Con le ondine fresche del mare. 

A Brasilia ci sono gli gnomi? 

La mia casa di Rio ne è piena. Tutti fantastici. Provane uno e prendi subito il vizio. Anche i folletti vanno bene. I nani? Mi fanno pena. 

Ormai ho deciso: non ho bisogno di nessun cappello. O sì? Mio Dio, che sarà di me? Brasilia, salvami perché ne ho bisogno. 

Un giorno ero bambina che nemmeno Brasilia. E desideravo tanto avere un piccione viaggiatore. Per mandare lettere a Brasilia. Le ricevete? sì o no? 

Sono innocente e ignorante. E quando sono in fase di scrittura, non leggo. Sarebbe troppo per me, non ne ho la forza.  

In aereo ho viaggiato con un signore portoghese, commerciante di non so che cosa, ma che è stato estremamente delicato: ha portato la mia valigetta pesante. Di ritorno da Brasilia ho viaggiato con un signore con il quale ho chiacchierato così bene, davvero una bella conversazione, che gli ho detto: è incredibile come il tempo sia passato in fretta e siamo già arrivati. Lui mi ha detto: anche per me il tempo è passato in fretta. Quest’uomo lo rincontrerò. Mi insegnerà. Sa molte cose. 

Sono così perduta. Ma è proprio così che si vive: perduta nel tempo e nello spazio.

Muoio dalla paura di comparire di fronte a un Giudice. Emeritissimo, mi dà il permesso di fumare? Certo, signora, io stesso fumo la pipa. Grazie, Vostra Eminenza. Lo tratto bene, il Giudice. Il Giudice è Brasilia. Ma non farò causa a Brasilia. Lei non mi ha offeso.  

Siamo in pieni campionati del mondo. C’è un paese africano che è povero e ignorante e ha perso contro la Jugoslavia 9 a zero. Ma l’ignoranza è di altro genere: ho sentito dire che in quel paese i ragazzi neri o vincono o muoiono. Che totale abbandono.  

So di morire. Sono morta fin da piccola. E fa male, però facciamo finta di no. Ho così tanta nostalgia di Dio. 

E adesso morirò un pochino. Ne ho così bisogno.  

Sì. Accetto, my Lord. In disaccordo. 

Ma Brasilia è splendore. Sono spaventatissima.

Published January 8, 2021
From Clarice Lispector, Visione dello splendore, Feltrinelli, Milano 2019
© Clarice Lispector
© Feltrinelli, 2019


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