O homem que sabia javanês

Written in Portuguese by Lima Barreto

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Em uma confeitaria, certa vez, ao meu amigo Castro, contava eu as partidas que havia pregado às convicções e às respeitabilidades, para poder viver.

Houve mesmo, uma dada ocasião, quando estive em Manaus, em que fui obrigado a esconder a minha qualidade de bacharel, para mais confiança obter dos clientes, que afluíam ao meu escritório de feiticeiro e adivinho. Contava eu isso.

O meu amigo ouvia-me calado, embevecido, gostando daquele meu Gil Blas vivido, até que, em uma pausa da conversa, ao esgotarmos os copos, observou a esmo:

– Tens levado uma vida bem engraçada, Castelo!

– Só assim se pode viver… Isto de uma ocupação única: sair de casa a certas horas, voltar a outras, aborrece, não achas? Não sei como me tenho agüentado lá, no consulado!

– Cansa-se; mas, não é disso que me admiro. O que me admira, é que tenhas corrido tantas aventuras aqui, neste Brasil imbecil e burocrático.

– Qual! Aqui mesmo, meu caro Castro, se podem arranjar belas páginas de vida. Imagina tu que eu já fui professor de javanês!

– Quando? Aqui, depois que voltaste do consulado?

– Não; antes. E, por sinal, fui nomeado cônsul por isso.

– Conta lá como foi. Bebes mais cerveja?

– Bebo.

Mandamos buscar mais outra garrafa, enchemos os copos, e continuei:

– Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anuncio seguinte:

“Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc.”

Ora, disse cá comigo, está ali uma colocação que não terá muitos concorrentes; se eu capiscasse quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e andei pelas ruas, sempre a imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem encontros desagradáveis com os “cadáveres”. Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca Nacional. Não sabia bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie, letra J, a fim de consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito. Fiquei sabendo, ao fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo maleo-polinésico, possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres derivados do velho alfabeto hindu.

A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas; entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na memória e habituar a mão a escrevê-los.

À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu “a-b-c” malaio, e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente.

Convenci-me que aquela era a língua mais fácil do mundo e saí; mas não tão cedo que não me encontrasse com o encarregado dos aluguéis dos cômodos:

– Senhor Castelo, quando salda a sua conta?

Respondi-lhe então eu, com a mais encantadora esperança:

– Breve… Espere um pouco… Tenha paciência… Vou ser nomeado professor de javanês, e…

Por aí o homem interrompeu-me:

– Que diabo vem a ser isso, Senhor Castelo?

Gostei da diversão e ataquei o patriotismo do homem:

– É uma língua que se fala lá pelas bandas do Timor. Sabe onde é?

Oh! alma ingênua! O homem esqueceu-se da minha dívida e disse-me com aquele falar forte dos portugueses:

– Eu cá por mim, não sei bem; mas ouvi dizer que são umas terras que temos lá para os lados de Macau. E o senhor sabe isso, Senhor Castelo?

Animado com esta saída feliz que me deu o javanês, voltei a procurar o anúncio. Lá estava ele. Resolvi animosamente propor-me ao professorado do idioma oceânico. Redigi a resposta, passei pelo Jornal e lá deixei a carta. Em seguida, voltei à biblioteca e continuei os meus estudos de javanês. Não fiz grandes progressos nesse dia, não sei se por julgar o alfabeto javanês o único saber necessário a um professor de língua malaia ou se por ter me empenhado mais na bibliografia e história literária do idioma que ia ensinar.

Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de Bonfim, não me recordo bem que número. É preciso não te esqueceres que entrementes continuei estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do alfabeto, fiquei sabendo o nome de alguns autores, também perguntar e responder “como está o senhor?” – e duas ou três regras de gramática, lastrado todo esse saber com vinte palavras do léxico.

Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para arranjar os quatrocentos réis da viagem! É mais fácil – podes ficar certo – aprender o javanês… Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, com maternal carinho, as anosas mangueiras, que se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me receberam, me acolheram e me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único momento em que cheguei a sentir a simpatia da natureza…

Era uma casa enorme que parecia estar deserta; estava mal tratada, mas não sei porque me veio pensar que nesse mau tratamento havia mais desleixo e cansaço de viver que mesmo pobreza. Devia haver anos que não era pintada. As paredes descascavam e os beirais do telhado, daquelas telhas vidradas de outros tempos, estavam desguarnecidos aqui e ali, como dentaduras decadentes ou mal cuidadas.

Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a tiririca e o carrapicho tinham expulsado os tinhorões e as begônias. Os crótons continuavam, porém, a viver com a sua folhagem de cores mortiças. Bati. Custaram-me a abrir. Veio, por fim, um antigo preto africano, cujas barbas e cabelo de algodão davam à sua fisionomia uma aguda impressão de velhice, doçura e sofrimento.

Na sala, havia uma galeria de retratos: arrogantes senhores de barba em colar se perfilavam enquadrados em imensas molduras douradas, e doces perfis de senhoras, em bandós, com grandes leques, pareciam querer subir aos ares, enfunadas pelos redondos vestidos à balão; mas, daquelas velhas coisas, sobre as quais a poeira punha mais antiguidade e respeito, a que gostei mais de ver foi um belo jarrão de porcelana da China ou da Índia, como se diz. Aquela pureza da louça, a sua fragilidade, a ingenuidade do desenho e aquele seu fosco brilho de luar, diziam-me a mim que aquele objeto tinha sido feito por mãos de criança, a sonhar, para encanto dos olhos fatigados dos velhos desiludidos…

Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um tanto trôpego, com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho, foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de irme embora. Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei.

– Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor disse precisar.

– Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio?

– Não, sou de Canavieiras.

– Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, – Sou de Canavieiras, na Bahia, insisti eu.

– Onde fez os seus estudos?

– Em São Salvador.

– E onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar aos velhos.

Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira. Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara, prosperara e fora com ele que aprendi javanês.

– E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira calado.

– Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um mestiço de malaio…Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro.

– Bem, fez o meu amigo, continua.

– O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com doçura:

– Então está disposto a ensinar-me javanês?

– A resposta saiu-me sem querer: – Pois não.

– O senhor há de ficar admirado, aduziu o Barão de Jacuecanga, que eu, nesta idade, ainda queira aprender qualquer coisa, mas…

– Não tenho que admirar. Têm-se visto exemplos e exemplos muito fecundos… ? .

– O que eu quero, meu caro senhor….

– Castelo, adiantei eu.

– O que eu quero, meu caro Senhor Castelo, é cumprir um juramento de família. Não sei se o senhor sabe que eu sou neto do Conselheiro Albernaz, aquele que acompanhou Pedro I, quando abdicou. Voltando de Londres, trouxe para aqui um livro em língua esquisita, a que tinha grande estimação. Fora um hindu ou siamês que lho dera, em Londres, em agradecimento a não sei que serviço prestado por meu avô. Ao morrer meu avô, chamou meu pai e lhe disse: “Filho, tenho este livro aqui, escrito em javanês. Disse-me quem mo deu que ele  evita desgraças e traz felicidades para quem o tem. Eu não sei nada ao certo. Em todo o caso, guarda-o; mas, se queres que o fado que me deitou o sábio oriental se cumpra, faze com que teu filho o entenda, para que sempre a nossa raça seja feliz.” Meu pai, continuou o velho barão, não acreditou muito na história; contudo, guardou o livro. Às portas da morte, ele mo deu e disse-me o que prometera ao pai. Em começo, pouco caso fiz da história do livro. Deitei-o a um canto e fabriquei minha vida. Cheguei até a esquecer-me dele; mas, de uns tempos a esta parte, tenho passado por tanto desgosto, tantas desgraças têm caído sobre a minha velhice que me 1embrei do talismã da família. Tenho que o ler, que o compreender, se não quero que os meus últimos dias anunciem o desastre da minha posteridade; e, para entendê-lo, é claro, que preciso entender o javanês. Eis aí.

Calou-se e notei que os olhos do velho se tinham orvalhado. Enxugou discretamente os olhos e perguntou-me se queria ver o tal livro. Respondi-lhe que sim. Chamou o criado, deu-lhe as instruções e explicoume que perdera todos os filhos, sobrinhos, só lhe restando uma filha casada, cuja prole, porém, estava reduzida a um filho, débil de corpo e de saúde frágil e oscilante.

Veio o livro. Era um velho calhamaço, um in-quarto antigo, encadernado em couro, impresso em grandes letras, em um papel amarelado e grosso. Faltava a folha do rosto e por isso não se podia ler a data da impressão. Tinha ainda umas páginas de prefácio, escritas em inglês, onde li que se tratava das histórias do príncipe Kulanga, escritor javanês de muito mérito.

Logo informei disso o velho barão que, não percebendo que eu tinha chegado aí pelo inglês, ficou tendo em alta consideração o meu saber malaio. Estive ainda folheando o cartapácio, à laia de quem sabe magistralmente aquela espécie de vasconço, até que afinal contratamos as condições de preço e de hora, comprometendo-me a fazer com que ele lesse o tal alfarrábio antes de um ano.

Dentro em pouco, dava a minha primeira lição, mas o velho não foi tão diligente quanto eu. Não conseguia aprender a distinguir e a escrever nem sequer quatro letras. Enfim, com metade do alfabeto levamos um mês e o Senhor Barão de Jacuecanga não ficou lá muito senhor da matéria: aprendia e desaprendia.

A filha e o genro (penso que até aí nada sabiam da história do livro) vieram a ter notícias do estudo do velho; não se incomodaram. Acharam graça e julgaram a coisa boa para distraí-lo.

Mas com o que tu vais ficar assombrado, meu caro Castro, é com a admiração que o genro ficou tendo pelo professor de javanês. Que coisa Única! Ele não se cansava de repetir: “É um assombro! Tão moço! Se eu soubesse isso, ah! onde estava !”

O marido de Dona Maria da Glória (assim se chamava a filha do barão), era desembargador, homem relacionado e poderoso; mas não se pejava em mostrar diante de todo o mundo a sua admiração pelo meu javanês. Por outro lado, o barão estava contentíssimo. Ao fim de dois meses, desistira da aprendizagem e pedirame que lhe traduzisse, um dia sim outro não, um trecho do livro encantado. Bastava entendê-lo, disse-me ele; nada se opunha que outrem o traduzisse e ele ouvisse. Assim evitava a fadiga do estudo e cumpria o encargo.

Sabes bem que até hoje nada sei de javanês, mas compus umas histórias bem tolas e impingi-as ao velhote como sendo do crônicon. Como ele ouvia aquelas bobagens !…

Ficava extático, como se estivesse a ouvir palavras de um anjo. E eu crescia aos seus olhos !

Fez-me morar em sua casa, enchia-me de presentes, aumentava-me o ordenado. Passava, enfim, uma vida regalada.

Contribuiu muito para isso o fato de vir ele a receber uma herança de um seu parente esquecido que vivia em Portugal. O bom velho atribuiu a cousa ao meu javanês; e eu estive quase a crê-lo também.

Fui perdendo os remorsos; mas, em todo o caso, sempre tive medo que me aparecesse pela frente alguém que soubesse o tal patuá malaio. E esse meu temor foi grande, quando o doce barão me mandou com uma carta ao Visconde de Caruru, para que me fizesse entrar na diplomacia. Fiz-lhe todas as objeções: a minha fealdade, a falta de elegância, o meu aspecto tagalo.

– “Qual! retrucava ele. Vá, menino; você sabe javanês!” Fui. Mandou-me o visconde para a Secretaria dos Estrangeiros com diversas recomendações. Foi um sucesso.

O diretor chamou os chefes de secção: “Vejam só, um homem que sabe javanês – que portento!”

Os chefes de secção levaram-me aos oficiais e amanuenses e houve um destes que me olhou mais com ódio do que com inveja ou admiração. E todos diziam: “Então sabe javanês? É difícil? Não há quem o saiba aqui!” O tal amanuense, que me olhou com ódio, acudiu então: “É verdade, mas eu sei canaque. O senhor sabe?” Disse-lhe que não e fui à presença do ministro.

A alta autoridade levantou-se, pôs as mãos às cadeiras, concertou o pince-nez no nariz e perguntou: “Então, sabe javanês?” Respondi-lhe que sim; e, à sua pergunta onde o tinha aprendido, contei-lhe a história do tal pai javanês. “Bem, disse-me o ministro, o senhor não deve ir para a diplomacia; o seu físico não se presta… O bom seria um consulado na Ásia ou Oceania. Por ora, não há vaga, mas vou fazer uma reforma e o senhor entrará. De hoje em diante, porém, fica adido ao meu ministério e quero que, para o ano, parta para Bâle, onde vai representar o Brasil no Congresso de Lingüística. Estude, leia o Hovelacque, o Max Müller, e outros!”

Imagina tu que eu até aí nada sabia de javanês, mas estava empregado e iria representar o Brasil em um congresso de sábios.

O velho barão veio a morrer, passou o livro ao genro para que o fizesse chegar ao neto, quando tivesse a idade conveniente e fez-me uma deixa no testamento.

Pus-me com afã no estudo das línguas maleo-polinésicas; mas não havia meio!

Bem jantado, bem vestido, bem dormido, não tinha energia necessária para fazer entrar na cachola aquelas coisas esquisitas. Comprei livros, assinei revistas: Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of the English-Oceanic Association, Archivo Glottologico Italiano, o diabo, mas nada! E a minha fama crescia. Na rua, os informados apontavam-me, dizendo aos outros: “Lá vai o sujeito que sabe javanês.” Nas livrarias, os gramáticos consultavam-me sobre a colocação dos pronomes no tal jargão das ilhas de Sonda. Recebia cartas dos eruditos do interior, os jornais citavam o meu saber e recusei aceitar uma turma de alunos sequiosos de entenderem o tal javanês. A convite da redação, escrevi, no Jornal do Comércio um artigo de quatro colunas sobre a literatura javanesa antiga e moderna…

– Como, se tu nada sabias? interrompeu-me o atento Castro.

– Muito simplesmente: primeiramente, descrevi a ilha de Java, com o auxílio de dicionários e umas poucas de geografias, e depois citei a mais não poder.

– E nunca duvidaram? perguntou-me ainda o meu amigo.

– Nunca. Isto é, uma vez quase fico perdido. A polícia prendeu um sujeito, um marujo, um tipo bronzeado que só falava uma língua esquisita. Chamaram diversos intérpretes, ninguém o entendia. Fui também chamado, com todos os respeitos que a minha sabedoria merecia, naturalmente. Demorei-me em ir, mas fui afinal. O homem já estava solto, graças à intervenção do cônsul holandês, a quem ele se fez compreender com meia dúzia de palavras holandesas. E o tal marujo era javanês – uf!

Chegou, enfim, a época do congresso, e lá fui para a Europa. Que delícia! Assisti à inauguração e às sessões preparatórias. Inscreveram-me na secção do tupi-guarani e eu abalei para Paris. Antes, porém, fiz publicar no Mensageiro de Bâle o meu retrato, notas biográficas e bibliográficas. Quando voltei, o presidente pediu-me desculpas por me ter dado aquela secção; não conhecia os meus trabalhos e julgara que, por ser eu americano brasileiro, me estava naturalmente indicada a secção do tupi-guarani. Aceitei as explicações e até hoje ainda não pude escrever as minhas obras sobre o javanês, para lhe mandar, conforme prometi.

Acabado o congresso, fiz publicar extratos do artigo do Mensageiro de Bâle, em Berlim, em Turim e Paris, onde os leitores de minhas obras me ofereceram um banquete, presidido pelo Senador Gorot. Custou-me toda essa brincadeira, inclusive o banquete que me foi oferecido, cerca de dez mil francos, quase toda a herança do crédulo e bom Barão de Jacuecanga.

Não perdi meu tempo nem meu dinheiro. Passei a ser uma glória nacional e, ao saltar no cais Pharoux, recebi uma ovação de todas as classes sociais e o presidente da república, dias depois, convidava-me para almoçar em sua companhia.

Dentro de seis meses fui despachado cônsul em Havana, onde estive seis anos e para onde voltarei, a fim de aperfeiçoar os meus estudos das línguas da Malaia, Melanésia e Polinésia.

– É fantástico, observou Castro, agarrando o copo de cerveja.

– Olha: se não fosse estar contente, sabes que ia ser ?

– Que?

– Bacteriologista eminente. Vamos?

– Vamos.

From Contos completos de Lima Barreto, Moritz Schwarcz. São Paulo : Companhia das Letras, 2010.
Published August 3, 2017
© Moritz Schwarcz, 2010

L'uomo che sapeva il giavanese

Written in Portuguese by Lima Barreto


Tradotto in italiano da Sofia Castagneto e Francesca de Bernardis

Una volta, in una pasticceria, raccontavo al mio amico Castro di come, per campare, mi fossi preso gioco delle convinzioni e della rispettabilità.

Addirittura, ci fu una volta, quando mi trovavo a Manaus, in cui ero stato costretto a nascondere i miei studi per guadagnarmi la fiducia dei clienti che giungevano al mio studio di fattucchiere e indovino. Ecco cosa gli raccontavo.

Il mio amico mi ascoltava in silenzio, rapito, così divertito dal mio vissuto alla Gil Blas che, in una pausa del discorso, svuotati i bicchieri, se ne uscì dicendo:

– Hai avuto una vita proprio bizzarra, Castelo!

– Non si può che vivere così… Questa storia di avere un unico impiego, uscire e tornare a casa sempre alla stessa ora, non è noioso? Non so come ho fatto a resistere là al consolato!

– Ci si stanca; ma non è di questo che mi stupisco. Quello che mi stupisce è che tu abbia vissuto così tante avventure qui, in questo Brasile imbecille e burocratico.

– Ma come! Proprio qui, mio caro Castro, si possono scrivere delle belle pagine di vita. Pensa che sono stato addirittura professore di giavanese!

– Quando? Qui, dopo che sei tornato dal consolato?

– No, prima. E, fra l’altro, sono stato nominato console proprio per questo.

– Raccontami com’è andata, allora. La bevi un’altra birra?

– Certo.

Ordinammo un’altra bottiglia, riempimmo i bicchieri, e continuai:

– Ero arrivato da poco a Rio e mi trovavo letteralmente in miseria. Vivevo vagando da una pensione all’altra, senza sapere dove e come guadagnarmi dei soldi, quando lessi sul Jornal do Commercio il seguente annuncio:

“Cercasi professore di lingua giavanese. Documenti ecc.”

Bene, mi sono detto, ecco un posto che non avrà molti concorrenti; se ne masticassi due parole in croce, mi potrei presentare. Uscii dal locale e camminai per le strade, immaginandomi già professore di giavanese, col mio stipendio, viaggiando in tram evitando così spiacevoli incontri con i creditori.
 Senza neanche accorgermene, mi diressi alla Biblioteca Nazionale. Non sapevo bene quale libro avrei chiesto, ma entrai, lasciai il cappello al portiere, ritirai il contrassegno e salii. Sulle scale, mi venne in mente di chiedere la Grande Encyclopédie, lettera G, per consultare la voce riguardante Giava e la lingua giavanese. Detto fatto. In pochi minuti, scoprii che Giava era una grande isola dell’arcipelago della Sonda, colonia Olandese, e che il giavanese, lingua agglutinante del gruppo maleo-polinesiano, possedeva una letteratura degna di nota e scritta in caratteri derivanti dal vecchio alfabeto hindu.

L’Enciclopedia citava studi sulla lingua malese, e non esitai a consultarne uno. Copiai l’alfabeto, la sua pronuncia figurata e uscii. Vagai per le strade, passeggiando e ruminando parole. Nella mia testa danzavano geroglifici; di tanto in tanto consultavo i miei appunti; entravo nei giardini e scarabocchiavo quei simboli nella sabbia per imprimerli bene nella memoria e abituare la mano a scriverli.

Quella sera, quando riuscii a entrare in casa senza essere visto, per evitare le domande indiscrete del portiere, continuai a ripassare l’ABC malese nella mia stanza, e con grande determinazione decisi che la mattina dopo lo avrei saputo alla perfezione.

Mi convinsi che quella era la lingua più facile del mondo e uscii, ma non abbastanza in fretta da non imbattermi nel riscossore degli affitti:

– Signor Castelo, quando salda il suo conto?

Gli risposi, sfoderando il più accattivante ottimismo:

– Presto… aspetti ancora un po’… abbia pazienza… a breve sarò nominato professore di giavanese, e…

A quel punto l’uomo mi interruppe:

– E di che diavolo si tratta, signor Castelo?

Cogliendo al volo il diversivo, approfittai del suo patriottismo.

– È una lingua che si parla dalle parti di Timor. Sa dove si trova?

Oh, povero ingenuo! Il tipo si scordò del mio debito e mi disse con quel vocione da portoghese:

– Per dirla tutta, non lo so, ma ho sentito dire che sono delle terre che possediamo dalle parti di Macao. E lei, lo sa, Signor Castelo?

Ringalluzzito dalla scappatoia che mi offriva il giavanese, tornai a cercare l’annuncio. Eccolo. Con slancio, decisi di propormi come professore della lingua oceanica. Redassi la risposta, passai dal Jornal e la consegnai. In seguito, tornai alla biblioteca e continuai i miei studi di giavanese. Quel giorno non feci grandi progressi, non so se perché giudicassi l’alfabeto giavanese l’unica conoscenza necessaria per un professore di lingua malese o perché mi fossi dedicato più che altro alla bibliografia e alla storia della lingua che avrei insegnato.

Due giorni dopo, ricevetti per lettera l’invito ad andare a parlare al dottor Manuel Feliciano Soares Abernaz, barone di Jacuecanga, in rua Conde de Bonfim, non mi ricordo bene che numero. Senza contare che nel frattempo avevo continuato a studiare il mio malese, ossia il giavanese. Oltre all’alfabeto, avevo imparato i nomi di alcuni autori, sapevo anche chiedere “come sta?” e due o tre regole di grammatica, il tutto tenuto insieme da venti parole di lessico.

Non ti immagini neanche le enormi difficoltà che ho avuto a racimolare i quattrocento reis del viaggio! Fidati, è stato più facile imparare il giavanese… alla fine sono andato a piedi. Arrivai sudatissimo e, con cura materna, gli alberi di mango secolari che formavano il viale davanti alla casa del titolare mi ricevettero, mi accolsero e mi diedero conforto. In tutta la mia vita, fu l’unico momento in cui giunsi a percepire l’abbraccio della natura…

Era una casa enorme che sembrava deserta; era tenuta male ma, non so perché, mi venne da pensare che in quell’incuria ci fossero più abbandono e indolenza che propriamente povertà. Saranno stati anni che non veniva ridipinta. Le pareti si stavano scrostando e le grondaie, prive qui e là di quelle piastrelle smaltate di altri tempi, parevano sorrisi sdentati e malcurati.

Mi fermai un po’ a guardare il giardino e notai la fibra vendicativa con cui lo zigolo infestante e la bardana avevano cacciato il caladio e le begonie. I croton, invece, continuavano a crescere con il loro fogliame dai colori mortiferi. Bussai. Ci misero parecchio ad aprire. Alla fine giunse un anziano nero africano, alla cui fisionomia barba e capelli di cotone conferivano una forte impressione di vecchiaia, dolcezza e sofferenza.

Nella sala c’era una galleria di ritratti: arroganti signori barbuti si profilavano inquadrati in enormi cornici dorate, e dolci profili di signore dai capelli raccolti e con grandi ventagli sembravano voler prendere il volo, sospinte dagli ampi vestiti a campana; ma tra quelle vecchie cose, sulle quali la polvere aveva depositato ancora più antichità e rispetto, quella che mi piacque di più fu un bel vaso di porcellana cinese o indiana, come si dice. La purezza di quell’oggetto, la sua fragilità, l’ingenuità del decoro e quel suo opaco bagliore di luna, mi dicevano che era stato fatto da mani bambine, sognanti, per l’incanto degli occhi affaticati dei vecchi disillusi…

Aspettai per un minuto il padrone di casa. Ci mise un po’ ad arrivare. Zoppicando leggermente, portandosi con venerazione dal fazzoletto al naso il tabacco invecchiato, fu così, con grande dignità, che lo vidi arrivare. Mi venne voglia di andarmene. Anche se non fosse stato lui l’alunno, era pur sempre un delitto imbrogliare quell’anziano, la cui vecchiaia mi faceva venire in mente qualcosa di augusto, di sacro. Esitai, ma rimasi.

– Io, – incominciai – sono il professore di giavanese di cui ha detto di avere bisogno.

– Si sieda, – mi rispose il vecchio -. È di qui? Di Rio?

– No, sono di Canavieiras.

– Come? – disse – Parli più forte, che sono sordo.

– Sono di Canavieiras, Bahia – insistetti.

– Dove ha studiato?

– A Salvador.

– E dove ha imparato il giavanese? – Indagò, con quella insistenza tipica dei vecchi.

Non avevo calcolato questa domanda, ma immediatamente architettai una menzogna. Gli raccontai che mio padre era giavanese. Membro dell’equipaggio di una nave mercantile arrivata a Bahia, si era stabilito nei pressi di Canavieiras come pescatore, si era sposato e aveva fatto fortuna, era stato da lui che avevo imparato il giavanese.

– E lui ci ha creduto? E l’aspetto fisico? – chiese il mio amico, che fino ad allora mi aveva ascoltato in silenzio.

– Non sono poi così diverso da un giavanese – obbiettai. – Questi miei capelli lisci duri e spessi e la mia pelle brunita possono darmi tranquillamente l’aspetto di un meticcio figlio di malese… Sai bene che fra di noi c’è di tutto: indios, malesi, taitiani, malgasci, guanci, perfino goti. È un’accozzaglia di razze e tipi da fare invidia al mondo intero.

– Bene, – fece il mio amico – Continua.

– Il vecchio, – ripresi, – mi ascoltò attentamente. Osservò a lungo il mio aspetto, sembrò che mi considerasse davvero figlio di un malese e mi chiese con dolcezza:

– E dunque sarebbe disposto a insegnarmi il giavanese?

La risposta mi uscì senza volere: – Ma certo.

– Potrà sembrarle strano – aggiunse il barone di Jacuecanga – che io a questa età voglia ancora imparare qualcosa, ma…

– Non mi sembra strano, si sono visti moltissimi casi assai fecondi…

– Quel che voglio, mio caro signor…

– Castelo,- continuai.

– Quel che voglio, mio caro signor Castelo, è tener fede ad un giuramento di famiglia. Non so se lei sa che sono il nipote del consigliere Albernaz, colui che accompagnò Pedro I quando abdicò.  Tornando da Londra portò qui un libro in una lingua strana, a cui teneva moltissimo. Era stato un indù o un siamese a darglielo, a Londra, come ringraziamento per non so quale favore che mio nonno gli aveva fatto. Quando stava per morire mio nonno chiamò mio padre e gli disse: “Figlio mio, ho qui questo libro, scritto in giavanese. Chi me lo ha dato mi ha detto che evita disgrazie e porta felicità a chi lo possiede. Io non so se sia vero. Ad ogni modo, conservalo; ma, se vuoi che la premonizione che mi ha fatto il saggio orientale si avveri, fai in modo che anche tuo figlio lo capisca, così che la nostra discendenza possa essere felice per sempre”.  Mio padre, continuò il vecchio barone, non credette molto a quella storia; ciò nonostante, conservò il libro. In punto di morte, me lo diede e mi disse ciò che aveva promesso al padre. All’inizio, feci poco caso alla storia del libro. Lo misi da parte e andai avanti per la mia strada. Arrivai al punto di dimenticarmene; ma, da un po’ di tempo a questa parte, ho sopportato così tante pene, e così tante disgrazie hanno funestato la mia vecchiaia che mi sono ricordato del talismano di famiglia. Devo leggerlo, comprenderlo, se non voglio che i miei ultimi giorni segnino il disastro per i miei posteri; e, per capirlo, è chiaro che ho bisogno di capire il giavanese. Questo è quanto.

Si azittì, e notai che i suoi occhi di vecchio si erano inumiditi. Se li asciugò discretamente e mi chiese se volessi vedere il famoso libro. Gli risposi di sì. Chiamò il domestico, gli diede istruzioni e mi spiegò che aveva perso tutti i figli e i nipoti, gli era rimasta solo una figlia sposata, la cui prole, però, era ridotta a un solo figlio, dal corpo debole e dalla salute fragile e instabile.

Portarono il libro. Era un vecchio tomo, un in-quarto antico, rilegato in cuoio, stampato a grandi lettere, su carta spessa e ingiallita. Mancava la facciata iniziale, e per questo non si poteva leggere la data di stampa. C’erano anche alcune pagine di prefazione, scritte in inglese, in cui lessi che si trattava di storie del principe Kulanga, scrittore giavanese di grande importanza.

Informai subito di questo il vecchio barone che, non essendosi accorto che ci ero arrivato grazie all’inglese, finì per avere un’ottima opinione delle mie competenze malesi. Stavo ancora sfogliando lo scartafaccio, con l’aria di chi conosceva perfettamente quella specie di ostrogoto, quando infine contrattammo le condizioni di prezzo e orario, e io mi impegnai a fare in modo che fosse in grado di leggere quel vecchio libro entro un anno.

Da lì a poco, diedi la mia prima lezione, ma il vecchio non fu diligente quanto me. Non riusciva a imparare a distinguere o a scrivere nemmeno quattro lettere. Alla fine, per fare metà alfabeto ci impiegammo un mese, e il signor barone di Jacuecanga non era poi così signore della materia: imparava e disimparava.

La figlia e il genero (penso che fino ad allora non sapessero nulla della storia del libro) vennero a conoscenza degli studi del vecchio e non si preoccuparono. Lo trovarono divertente e pensarono che fosse un’ottima distrazione per lui.

Ma quello che ti stupirà, mio caro Castro, è l’ammirazione che il genero iniziò a provare nei confronti del professore di giavanese. Che cosa incredibile! Non si stancava di ripetere: “Che meraviglia! Così giovane! Se lo sapessi io il giavanese, ah, dove sarei adesso!”.

Il marito di Dona Maria da Gloria (così si chiamava la figlia del barone), era un giudice, uomo potente dalle molte conoscenze, che però non esitava a mostrare di fronte a tutti la sua ammirazione per il mio giavanese. D’altra parte, il barone era contentissimo. Dopo i primi due mesi, aveva lasciato perdere l’apprendimento e mi aveva chiesto che gli traducessi, con una certa frequenza, brani del libro incantato. Gli bastava capirlo, mi disse; non aveva nulla in contrario se qualcuno lo traduceva e lui ascoltava. Così facendo, evitava la fatica dello studio mantenendo lo stesso la promessa.

Sai bene che ancora oggi non so nulla di giavanese, ma inventai alcune storielle assurde e le propinai al vecchio come se fossero racconti epici. E come si beveva quelle fesserie!

Era estasiato, come se stesse ascoltando le parole di un angelo. E come cresceva la sua ammirazione nei miei confronti!

Mi invitò a vivere a casa sua, mi riempiva di regali, aumentava il mio compenso. Alla fine stavo facendo una vita da pascià.

A questo contribuì il fatto che avesse ricevuto un’eredità da un parente dimenticato che viveva in Portogallo. Il buon vecchio attribuì la cosa al mio giavanese e arrivai quasi a crederlo anch’io.

Pian piano iniziai a non avere più rimorsi; ad ogni modo avevo sempre paura che mi spuntasse davanti qualcuno che sapeva davvero quel patuá malese. E questa mia paura crebbe quando il dolce barone mi mandò con una lettera dal Visconte di Caruru perché mi facesse entrare in diplomazia. Gli feci tutte le obiezioni possibili: la mia bruttezza, la mia mancanza di eleganza, il mio aspetto così levantino.

“Ma come!” ribatteva “Suvvia, figliolo, tu sai il giavanese!” Andai. Il Visconte mi mandò alla segreteria del Ministero degli Esteri con diverse raccomandazioni. Fu un successo.

Il direttore chiamò i capi gabinetto: “Guardate un po’! un uomo che sa il giavanese, che portento!”

I capi gabinetto mi condussero dagli impiegati e dagli scribacchini, e uno di loro mi guardò più con odio che con invidia o ammirazione. E tutti mi chiedevano: “Quindi sa il giavanese? È difficile? Qui non c’è nessuno che lo sappia”.

E allora quello che mi aveva guardato con odio si intromise: “È vero, ma io so il Kanak. E lei? Lei lo sa?”. Gli dissi di no e andai a presentarmi al ministro.

L’autorità si alzò, appoggiò le mani sulla sedia, si sistemò sul naso il pince-nez e chiese: “E dunque conosce il giavanese?”. Risposi di sì, e alla domanda su dove l’avessi imparato, gli raccontai la storia del famoso padre giavanese. “Bene”, mi disse il ministro, “Lei non può entrare in diplomazia, non ha l’aspetto adatto… la cosa migliore sarebbe un consolato in Asia o in Oceania. Al momento non ci sono posti, ma farò una riforma e lei potrà entrare. Da oggi in poi però, lei entra a far parte del mio ministero e voglio che l’anno prossimo parta per Bali, dove rappresenterà il Brasile al Congresso di Linguistica. Studi, legga Hovelaque, Max Muller e tutti gli altri!”

Pensa che fino ad allora non sapevo nulla di giavanese, eppure ero stato assunto e avrei rappresentato il Brasile ad un convegno di sapientoni.

Il vecchio barone morì: lasciò il libro al genero perché lo facesse avere al nipote una volta raggiunta l’età adeguata e mi citò nel testamento.

Mi dedicai con zelo allo studio delle lingue maleo-polinesiane, ma non c’era verso!

A pancia piena e ben vestito, dormivo tra due guanciali, non avevo l’energia necessaria per farmi entrare nella capoccia quelle cose strambe. Comprai libri, mi abbonai a riviste: Revue Anthropologique et Linguistique, Proceedings of the English-Oceanic Association, Archivio Glottologico Italiano, chi più ne ha ne metta, ma niente! E intanto la mia fama cresceva. Per strada, quelli che lo sapevano mi indicavano, dicendo agli altri: “Ecco quel tizio che sa il giavanese”. Nelle librerie, i grammatici mi consultavano sulla collocazione dei pronomi in quel gergo delle isole della Sonda. Ricevevo lettere dagli eruditi dell’interno del paese, i giornali citavano le mie competenze e arrivai a rifiutare un gruppo di alunni desiderosi di capire il famoso giavanese. Su invito della redazione scrissi sul Jornal do Commercio un articolo a quattro colonne sulla letteratura giavanese, antica e moderna…

– Ma come hai fatto, se non sapevi niente? – mi interruppe Castro, sempre attento.

– Molto semplicemente: per prima cosa, ho descritto l’isola di Giava, con l’aiuto di dizionari e qualche nozione di geografia, e poi ho citato a più non posso.

– E non si sono mai insospettiti? – mi chiese ancora il mio amico.

– Mai. Cioè, una volta sono quasi stato beccato. La polizia aveva arrestato un soggetto, un marinaio, un tipo abbronzato che parlava solo una lingua strana. Chiamarono diversi interpreti, ma nessuno lo capiva. Anche io fui chiamato, con tutto il rispetto che la mia conoscenza meritava, naturalmente. Esitai, ma alla fine andai. L’uomo era già stato liberato, grazie all’intervento del console olandese, da cui si fece capire con una mezza dozzina di parole olandesi. E quel marinaio era veramente giavanese, fiu!

Arrivò infine il giorno del congresso, e giunsi infine in Europa. Che bellezza! Assistetti all’inaugurazione e alle sessioni preparatorie. Venni iscritto alla sezione del tupì-guaranì e partii per Parigi. Prima, però, feci pubblicare sul “Messaggero di Bali” la mia foto, le note biografiche e bibliografiche. Quando tornai, il presidente si scusò per avermi assegnato a quella sezione: non conosceva i miei lavori e aveva pensato che, essendo io americano brasiliano, la sezione del tupi-guarani mi spettasse naturalmente. Accettai le sue spiegazioni e ancora oggi non sono riuscito a scrivere le mie opere sul giavanese per mandargliele come promesso.

Terminato il congresso, feci pubblicare degli estratti dell’articolo del “Messaggero di Bali” a Berlino, Torino e Parigi, dove i lettori delle mie opere mi offrirono un banchetto, presieduto dal Senatore Gorot. Ridendo e scherzando, il tutto, compreso il banchetto che mi era stato offerto, finì per costarmi circa diecimila franchi, quasi tutta l’eredità di quel buon credulone del barone di Jacuecanga.

Non persi il mio tempo né il mio denaro. Diventai un gloria nazionale e, quando approdai al molo Paroux, ricevetti un’ovazione da tutte le classi sociali e il presidente della Repubblica, nei giorni successi, mi invitava a pranzare in sua compagnia.

Nel giro di sei mesi fui inviato come console all’Havana, dove rimasi per sei anni e dove tornerò per perfezionare i miei studi delle lingue malesi e polinesiane.

– È fantastico, – osservò Castro, afferrando il bicchiere di birra.

– Senti: se non fossi contento così, sai che cosa diventerei?

– Cosa?

– Un eminente batteriologo. Si va?

– Si va.

From Contos completos de Lima Barreto, Moritz Schwarcz. São Paulo : Companhia das Letras, 2010.
Published August 3, 2017
© Moritz Schwarcz, 2010
© Specimen 2017


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Quella di Lima Barreto (1881-1922) è riconosciuta – postuma – come una delle voci più importanti della letteratura brasiliana del Novecento. Esistenza difficile e breve, minata da alcol, depressione e internamento psichiatrico. Originale e struggente lo sguardo che dedica all’universo dei vinti della sua città; lucida e tagliente la critica militante alle faglie del brasile repubblicano. O homem que sabia javanês viene pubblicato per la prima volta sulla “Gazeta da Tarde” di Rio de Janeiro il 28 Aprile del 1911. Più che lecita la lettura allegorica del racconto in cui l’ironia dell’autore non risparmia una critica impietosa sul provincialismo pedissequo della cultura brasiliana coeva. La versione che qui si traduce è quella, più recente, pubblicata in Contos completos de Lima Barreto, São Paulo, Companhia das Letras, 2010.
– Roberto Francavilla

Posthumously recognized as one of the most important voices in twentieth century Brazilian literature, Lima Barreto led a brief and difficult existence, weakened by alcohol, depression and psychiatric institutionalization. In his writings, he depicts the world of the defeated of his city with a moving and original outlook, without sparing criticism against the Brazilian culture of his time. O homem que sabia javanes was first published in Rio de Janeiro’s ‘Gazeta da Tarde’ on April 28th 1911. The version of the short story that is published and translated here is the most recent one, published in Contos Completos de Lima Barreto, Sao Paulo, Companhia das Letras, 2010.
– Roberto Francavilla


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