Os Involuntários da Pátria

Speech delivered in Portuguese by Eduardo Viveiros de Castro

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Desta terra, nesta terra, para esta terra. E já é tempo.
– Oswald de Andrade

Hoje os que se acham donos do Brasil — e que o são, em ultimíssima análise, porque os deixamos se acharem, e daí a o serem foi um pulo (uma carta régia, um tiro, um libambo, uma PEC) — preparam sua ofensiva final contra os índios. Há uma guerra em curso contra os povos índios do Brasil, apoiada abertamente por um Estado que teria (que tem) por obrigação constitucional proteger os índios e outras populações tradicionais, e que seria (que é) sua garantia jurídica última contra a ofensiva movida pelos tais donos do Brasil, a saber, os “produtores rurais” (eufemismo para “ruralistas”, eufemismo por sua vez para “burguesia do agronegócio”), o grande capital internacional, sem esquecermos a congenitamente otária fraçao fascista das classes médias urbanas. Estado que, como vamos vendo, é o aliado principal dessas forças malignas, com seu triplo braço “legitimamente constituído”, a saber, o executivo, o legislativo e o judiciário.

Mas a ofensiva não é só contra os índios, e sim contra muito outros povos indígenas. Devemos começar então por distinguir as palavras “índio” e “indígena”, que muitos talvez pensem ser sinônimos, ou que “índio” seja só uma forma abreviada de “indígena”. Mas não é. Todos os índios no Brasil são indigenas, mas nem todos os indigenas que vivem no Brasil sao índios.

Índios sao os membros de povos e comunidades que tem consciencia — seja porque nunca a perderam, seja porque a recobraram — de sua relacao historica com os indigenas que viviam nesta terra antes da chegada dos europeus. Foram chamados de “índios” por conta do famoso equivoco dos invasores que, ao aportarem na America, pensavam ter chegado na India. “Indigena”, por outro lado, e uma palavra muito antiga, sem nada de “indiana” nela; significa “gerado dentro da terra que lhe e propria, originario da terra em que vive”.  Ha povos indigenas no Brasil, na Africa, na Asia, na Oceania, e ate mesmo na Europa. O antonimo de “indigena” e “alienigena”, ao passo que o antonimo de indio, no Brasil, e “branco”, ou melhor, as muitas palavras das mais de 250 linguas indias faladas dentro do territorio brasileiro que se costumam traduzir em portugues por “branco”, mas que se referem a todas aquelas pessoas e instituicoes que nao sao indias. Essas palavras indigenas tem varios significados descritivos, mas um dos mais comuns e “inimigo”, como no caso do yanomami nape, do kayapo kuben ou do arawete awin. Ainda que os conceitos índios sobre a inimizade, ou condicao de inimigo, sejam bastante diferentes dos nossos, nao custa registrar que a palavra mais proxima que temos para traduzir diretamente essas palavras indigenas seja “inimigo”. Durmamos com essa.

Mas isso quer dizer entao que todos as pessoas nascidas aqui nesta terra sao indigenas do Brasil? Sim e nao. Sim no sentido etimologico informal abonado pelos dicionarios: “originario do pais etc. em que se encontra, nativo” (ver nota 1, supra). Um colono de origem (e lingua) alema de Pomerode e “indigena” do Brasil porque nasceu em uma regiao do territorio politico eponimo, assim como sao indigenas um sertanejo dos semi-arido nordestino, um agroboy de Barretos ou um corretor da Bolsa de Sao Paulo. Mas nao, nem o colono, nem o agroboy nem o corretor de valores sao indigenas — perguntem a eles…

Eles sao “brasileiros”, algo muito diferente de ser “indigena”. Ser brasileiro e pensar e agir e se considerar (e talvez ser considerado) como “cidadao”, isto e, como uma pessoa definida, registrada, vigiada, controlada, assistida — em suma, pesada, contada e medida por um Estado-nacao territorial, o “Brasil”. Ser brasileiro e ser (ou dever-ser) cidadao, em outras palavras, sudito de um Estado soberano, isto e, transcendente. Essa condicao de sudito (um dos eufemismos de sudito e “sujeito [de direitos]“) nao tem absolutamente nada a ver com a relacao indigena vital, originaria, com a terra, com o lugar em que se vive e de onde se tira seu sustento, onde se faz a vida junto com seus parentes e amigos. Ser indigena e ter como referencia primordial a relacao com a terra em que nasceu ou onde se estabeleceu para fazer sua vida, seja ela uma aldeia na floresta, um vilarejo no sertao, uma comunidade de beira-rio ou uma favela nas periferias metropolitanas. E ser parte de uma comunidade ligada a um lugar especifico, ou seja, e integrar um povo. Ser cidadao, ao contrario, e ser parte de uma populacao controlada (ao mesmo tempo “defendida” e atacada) por um Estado. O indigena olha para baixo, para a Terra a que e imanente; ele tira sua forca do chao. O cidadao olha para cima, para o Espirito encarnado sob a forma de um Estado transcendente; ele recebe seus direitos do alto.

“Povo” so (r)existe no plural — povoS. Um povo e uma multiplicidade singular, que supoe outros povos, que habita uma terra pluralmente povoada de povos. Quanto perguntaram ao escritor Daniel Munduruku se ele “enquanto indio etc.”, ele cortou no ato: “nao sou indio; sou Munduruku”. Mas ser Munduruku significa saber que existem Kayabi, Kayapo, Matis, Guarani, Tupinamba, e que esses nao sao Munduruku, mas tampouco sao Brancos. Quem inventou os “índios” como categoria generica foram os grandes especialistas na generalidade, os Brancos, ou por outra, o Estado branco, colonial, imperial, republicano. O Estado, ao contrario dos povos, so consiste no singular da propria universalidade. O Estado e sempre unico, total, um universo em si mesmo. Ainda que existam muitos Estados-nacao, cada um e uma encarnacao do Estado Universal, e uma hipostase do Um. O povo tem a forma do Multiplo. Forcados a se descobrirem “índios”, os índios brasileiros descobriram que haviam sido unificados na generalidade por um poder transcendente, unificados para melhor serem des-multiplicados, homogeneizados, abrasileirados. O pobre e antes de mais nada alguem de quem se tirou alguma coisa. Para transformar o indio em pobre, o primeiro passo e transformar o Munduruku em indio, depois em indio administrado, depois em indio assistido, depois em indio sem terra.

E nao obstante, os povos indigenas originarios, em sua multiplicidade irredutivel, que foram indianizados pela generalidade do conceito para serem melhor desindianizados pelas armas do poder, sabem-se hoje alvo geral dessas armas, e se unem contra o Um, revidam dialeticamente contra o Estado aceitando essa generalidade e cobrando deste os direitos que tal generalidade lhes confere, pela letra e o espirito da Constituicao Federal de 1988. E invadem o Congresso. Nada mais justo que os invadidos invadam o quartel-general dos invasores. Operacao de guerrilha simbolica, sem duvida, incomensuravel a guerra massiva real (mas tambem simbolica) que lhes movem os invasores. Mas os donos do poder vem acusando o golpe, e correm para viabilizar seu contragolpe. Para usarmos a palavra do dia, golpe e o que se prepara nos corredores atapetados de Brasilia contra os índios, sob a forma, entre outras, da PEC 215.

Os índios sao os primeiros indigenas do Brasil. As terras que ocupam nao sao sua propriedade — nao so porque os territorios indigenas sao “terras da Uniao”, mas porque sao eles que pertencem a terra e nao o contrario. Pertencer a terra, em lugar de ser proprietario dela, e o que define o indigena. E nesse sentido, muitos povos e comunidades no Brasil, alem dos índios, podem se dizer, porque se sentem, indigenas muito mais que cidadaos. Nao se reconhecem no Estado, nao se sentem representados por um Estado dominado por uma casta de poderosos e de seus mamulengos e jaguncos aboletados no Congresso Nacional e demais instancias dos Tres Poderes. Os índios sao os primeiros indigenas a nao se reconhecerem no Estado brasileiro, por quem foram perseguidos durante cinco seculos: seja diretamente, pelas “guerras justas” do tempo da colonia, pelas leis do Imperio, pelas administracoes indigenistas republicanas que os exploraram, maltrataram, e, muito timidamente, as vezes os defenderam (quando iam longe demais, o Estado lhes cortava as asinhas); seja indiretamente, pelo apoio solicito que o Estado sempre deu a todas as tentativas de desindianizar o Brasil, varrer a terra de seus ocupantes originarios para implantar um modelo de civilizacao que nunca serviu a ninguem senao aos poderosos. Um modelo que continua essencialmente o mesmo ha quinhentos anos.

O Estado brasileiro e seus ideologos sempre apostaram que os índios iriam desaparecer, e quanto mais rapidamente melhor; fizeram o possivel e o impossivel, o inominavel e o abominavel para tanto. Nao que fosse preciso sempre extermina-los fisicamente para isso — como sabemos, porem, o recurso ao genocidio continua amplamente em vigor no Brasil —, mas era sim preciso de qualquer jeito desindianiza-los, transforma-los em “trabalhadores nacionais”. Cristianiza-los, “vesti-los” (como se alguem jamais tenha visto índios nus, esses mestres do adorno, da plumaria, da pintura corporal), proibir-lhes as linguas que falam ou falavam, os costumes que os definiam para si mesmos, submete-los a um regime de trabalho, policia e administracao. Mas, acima de tudo, cortar a relacao deles com a terra. Separar os índios (e todos os demais indigenas) de sua relacao organica, politica, social, vital com a terra e com suas comunidades que vivem da terra — essa separacao sempre foi vista como condicao necessaria para transformar o indio em cidadao. Em cidadao pobre, naturalmente. Porque sem pobres nao ha capitalismo, o capitalismo precisa de pobres, como precisou (e ainda precisa) de escravos. Transformar o indio em pobre. Para isso, foi e é preciso antes de mais nada separa-lo de sua terra, da terra que o constitui como indigena.

Nos, os brancos que aqui estamos sentados na escadaria da Camara Municipal do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 2016, nos nos sentimos indigenas. Nao nos sentimos cidadaos, nao nos vemos como parte de uma populacao sudita de um Estado que nunca nos representou, e que sempre tirou com uma mao o que fingia dar com a outra. Nos os “brancos” que aqui estamos, bem como diversos outros povos indigenas que vivem no Brasil: camponeses, ribeirinhos, pescadores, caicaras, quilombolas, sertanejos, caboclos, curibocas, negros e “pardos” moradores das favelas que cobrem este pais. Todos esses sao indigenas, porque se sentem ligados a um lugar, a um pedaco de terra — por menor ou pior que seja essa terra, do tamanho do chao de um barraco ou de uma horta de fundo de quintal — e a uma comunidade, muito mais que cidadaos de um Brasil Grande que so engrandece o tamanho das contas bancarias dos donos do poder.

A terra e o corpo dos índios, os índios sao parte do corpo da Terra. A relacao entre terra e corpo e crucial. A separacao entre a comunidade e a terra tem como sua face paralela, sua sombra, a separacao entre as pessoas e seus corpos, outra operacao indispensavel executada pelo Estado para criar populacoes administradas. Pense-se nos LGBT, separados de sua sexualidade; nos negros, separados da cor de sua pele e de seu passado de escravidao, isto e, de despossessao corporal radical; pensese nas mulheres, separadas de sua autonomia reprodutiva. Pense-se, por fim mas nao por menos repugnante, no sinistro elogio publico da tortura feito pelo canalha Jair Bolsonaro — a tortura, modo ultimo e mais absoluto de separar uma pessoa de seu corpo. Tortura que continua — que sempre foi — o metodo favorito de separacao dos pobres de seus corpos, nas delegacias e presidios deste pais tao “cordial”. Por isso tudo a luta dos índios e tambem a nossa luta, a luta indigena. Os índios sao nosso exemplo.

Um exemplo de rexistencia secular a uma guerra feroz contra eles para desexisti-los, faze-los desaparecer, seja matando-os pura e simplesmente, seja desindianizando-os e tornando-os “cidadaos civilizados”, isto e, brasileiros pobres, sem terra, sem meios de subsistencia proprios, forcados a vender seus bracos — seus corpos — para enriquecer os pretensos novos donos da terra.

Os índios precisam da ajuda dos brancos que se solidarizam com sua luta e que reconhecem neles o exemplo maior da luta perpetua entre os povos indigenas (todos os povos indigenas a que me referi mais acima: o povo LGBT, o povo negro, o povo das mulheres) e o Estado nacional. Mas nos, os “outros índios”, aqueles que nao sao índios mas se sentem muito mais representados pelos povos índios que pelos politicos que nos governam e pelo aparelho policial que nos persegue de perto, pelas politicas de destruicao da natureza levadas a ferro e a fogo por todos os governos que se sucedem neste pais desde sempre — nos outros tambem precisamos da ajuda, e do exemplo, dos índios, de suas taticas de guerrilha simbolica, juridica, mediatica, contra o Aparelho de Captura do Estado-nacao. Um Estado que vai levando ate as ultimas consequencias seu projeto de destruicao do territorio que reivindica como seu. Mas a terra e dos povos.

Concluo com uma alusao ao nome de uma rua nao muito distante desta Cinelandia onde estamos agora. Em Botafogo existe, como voces todos sabem, uma Rua Voluntarios da Patria. Seu nome provem de uma iniciativa empreendida pelo Imperio em sua guerra genocida (e etnocida) contra o Paraguai — o Brasil sempre foi bom nisso de matar índios, do lado de ca ou de la de suas fronteiras. Carente de tropas para enfrentar o exercito guarani, o Governo imperial criou corpos militares de voluntarios, “apelando para os sentimentos do povo brasileiro”, como escreve o verbete da Wikipedia sobre a iniciativa. Pedro II apresentou-se em Uruguaiana como o “primeiro voluntario da patria”. Nao demorou muito e o patriotismo dos voluntarios da patria arrefeceu; logo o Governo central passou a exigir dos presidentes das provincias que recrutasse cotas de “voluntarios”. A solucao para esta lamentavel “falta de patriotismo” dos brancos brasileiros foi, como se sabe, mandar milhares de escravos negros como voluntarios. Foram eles que mataram e morreram na Guerra do Paraguai. Obrigados, escusado dizer. Voluntarios involuntarios.

Pois bem. Os índios foram e sao os primeiros Involuntarios da Patria. Os povos indigenas originarios viram cair-lhes sobre a cabeca uma “Patria” que nao pediram, e que so lhes trouxe morte, doenca, humilhacao, escravidao e despossessao. Nos aqui nos sentimos como os índios, como todos os indigenas do Brasil: como formando o enorme contingente de Involuntarios da Patria. Os involuntarios de uma patria que nao queremos, de um governo (ou desgoverno) que nao nos representa e nunca nos representou. Nunca ninguem os representou, aqueles que se sentem indigenas. So nos mesmos podemos nos representar, ou talvez, so nos podemos dizer que representamos a terra — esta terra. Nao a “nossa terra”, mas a terra de onde somos, de quem somos. Somos os Involuntarios da Patria. Porque outra e a nossa vontade. Involuntarios de todas as Patrias, desertai-vos!

Published July 2, 2019
Transcript of a public talk given during the Indigenous April event, Cinelândia, Rio de Janeiro, 20/04/2016
© Eduardo Viveiros de Castro 2016

The Un-Volunteers of the Fatherland

Speech delivered in Portuguese by Eduardo Viveiros de Castro


Translated by Rahul Bery

Of this land, in this land, for this land. It’s about time.
– Oswald de Andrade

Today, the people who find themselves running Brazil – and if they are now our masters it’s only because we let them; once we’d done that the rest was easy, just a hop away (and a royal charter, a gunshot, a slave collar, a constitutional amendment) – are preparing their final offensive against the Indians. There is a war being waged against the Indian peoples of Brazil, openly supported by a State which should be (which is) constitutionally obliged to protect Indians and other traditional groups and which should be (which is) its last juridical guarantee against the offensive set in motion by those very same masters of Brazil, that is, the “agricultural producers” (a euphemism for “agriculturalist”, which is in turn a euphemism for “the agrobusiness bourgeoisie”), large-scale international Capital, and, last but not least, the congenitally gullible fascist segment of the urban middle classes. This State, as we are witnessing, with its “legitimately constituted” triple arm – that is, the executive, the legislative and the judiciary – is the main ally of these malign forces.

But the offensive is not only against the Indians, it is against many other indigenous groups as well. We must begin, then, by making a distinction between the words “Indian” and “Indigenous”. Many people believe that they are synonymous, or that “Indian” is just an abbreviated form of “indigenous”. But that’s not the case. All the Indians in Brazil are indigenous, but not all the indigenous people who live in Brazil are Indians.

Indians belong to peoples and communities that have an awareness – either because they never lost it, or because they’ve recovered it – of their historical relationship with the indigenous people who lived in this land before the arrival of the Europeans. They were called “Indians” because of the famous mistake made by the invaders, who believed they’d reached India when in fact they’d landed in America. “Indigenous”, on the other hand, is a very old word which has nothing to do with “Indian”; it means “originating or occurring naturally in a particular place; nativeThe word indigenous comes from the Latin indigena, meaning ‘native’, derived from Old Latin indu or endo ‘in, within’ + the Latin verb gignere, ‘to beget’. (Merriam Webster) In the Brazilian Houaiss dictionary the word indígena is defined as ‘relating to the people who are autochthonous to a country or who were established in a given country before a colonial process.’“. There are indigenous people in Brazil, in Africa, in Asia, in Oceania, even in Europe. The antonym of “indigenous” is “exogenous”, while in Brazil the antonym of “Indian” is “White”, or better still, one of the many words in the more than 250 languages spoken within Brazilian territory which are usually translated into English as “white”, but which really refer to all those people and institutions that aren’t Indian. These indigenous words have several descriptive meanings, but one of the most common is “enemy”, as is the case with the yanomami napë, the kayapó kuben or the araweté awin. Though the Indian conceptions of enmity, that is, the condition of being an enemy, are quite different from our own, it’s hard not be struck by the fact that the closest word we have for translating these indigenous words directly is “enemy”. Let that settle in.

Does this mean, then, that everyone born in this land is indigenous to Brazil? Yes and no. Yes, in the etymological sense we find in dictionaries, “originating in a particular place; native”, etc. A settler of German origin (and language) from Pomerode is “indigenous” to Brazil because they were born in a region of that political territory, just as a sertanejoPeople from the Sertão, the arid Northeast.from the semi-arid Northeast, an agroboy from Barretos or a broker from São Paulo are all indigenous to those places. But no, neither the settler, nor the agroboyWealthy people from agricultural communities in the interior of São Paulo State who pay a great deal of attention to maintaining a cowboy-like personal style and are very keen to display their wealth through cars, clothes etc., nor the broker are indigenous – just ask them…

They are “Brazilian”, which is quite different from being “indigenous”. Being Brazilian means thinking, acting and viewing oneself (and maybe also being viewed) as a “citizen”, that is, as a person who is defined, registered, watched over, controlled, assisted – in short, weighed, counted and measured by a territorial Nation-State, “Brazil”. To be Brazilian is to be (or to be forced to be) a citizen, in other words, the vassal of a sovereign State, therefore transcendent. This condition of being a vassal (one euphemism for vassal is “subject (of rights)”) has absolutely nothing to do with the vital, original indigenous relationship with the land, with the place where you live and from which you get your sustenance, where you make a life together with relatives and friends. To be indigenous is to have the relationship with the land where you were born or made a life for yourself as your primordial reference point, be it a village in the forest, a town in the Sertão, a riverside community or a favela in the outskirts of a city. It means being part of a community that is tied to a specific place. It means being part of a people. To be a citizen, on the other hand, means being part of a population that is controlled (simultaneously defended” and attacked ) by a State. The indigenous person looks down to the Earth to which they are immanent; they draw their strength from the ground. The citizen looks up, to the Spirit incarnated in the shape of a transcendent State; they get their rights from up above.

“People” only (r)exists in the plural – peopleS. A people is a singular multiplicity which implies other peoples inhabiting an earth that is plurally populated with peoples. Whenever someone asks the writer Daniel Munduruku what he thinks about something “as an Indian”, he corrects them: “I’m not an Indian; I’m a Munduruku.” But to be a Munduruku means knowing that there are Kayabi, Kayapó, Matis, Guarani, Tupinambá, and that they are not Munduruku, but nor are they white. The generic category of “Indians” was invented by those great specialists in making generalisations, White people, or to put it another way, the White State, first colonial, then imperial, and finally republican. Unlike peoples, the State consists only of the singular, in its own universality. The State is always one, total, a universe in itself. Though there are many Nation-States, each one is an incarnation of the Universal State, a hypostasis of the One. Peoples take the form of the Multiple. Forced to discover that they were “Indians”, Brazilian Indians found that they had been unified into a single general category by a transcendent power, unified to make it easier for them to be de-multiplied, homogenized, Brazilianized. A poor person, first and foremost, is someone from whom something has been taken. In order to transform the Indian into a poor person, the first step is to transform the Munduruku into an Indian, then an administrated Indian, then a State-supported Indian, then a landless Indian.

And yet, in their irreducible multiplicity, the native indigenous peoples, Indianized by this single generalisation so as to better be de-Indianized by the weapons of power, have today realized that they themselves are the general target of these weapons, and have united against the One, dialectically fighting back against the State while at the same time accepting the generalisation and taking from it the rights it confers to them, in the spirit and the letter of  the 1988 Federal Constitution. They have invaded Congress; nothing more just than the invaded invading the headquarters of the invaders. It was a without a doubt symbolic guerrilla operation, incomparable to the real, large-scale (but also symbolic) war the invaders are waging against them. But the masters, the ones who hold the power, cry coup, and rush to organize their counter-coup. A coup, to use that word again, against the Indians, is precisely what is being prepared in the carpeted corridors of Brasília, in the form of PEC (constitutional amendment) 215, among others.

The Indians are the first indigenous people of Brazil. The lands they occupy are not their property – not only because indigenous territories are “Union lands” but because it is they who belong to the land and not the other way around. Belonging to the land, rather than owning it, is what defines the indigenous person. And in this sense, many communities and peoples in Brazil who are not Indians think of themselves, as being more like Indigenous people than citizens, because that is how they feel. They do not see themselves in the State, they do not feel represented by a State dominated by a caste of powerful men, their puppets and their hired goons in the National Congress and other areas of the aforementioned Three Powers. The Indians are the first indigenous people and do not recognize themselves in the Brazilian State, which has persecuted them for five centuries: whether directly, in the “just wars” of the colonial era, under the Imperial laws and through the Indigenist republican administrations which exploited, mistreated and occasionally, and very timidly, defended them (when they strayed too far, the State would clip their wings); or indirectly, through the careful support the State has always given to all attempts to de-Indianize Brazil, sweeping away all of its original inhabitants in order to implant a model of civilisation that never served anyone but the powerful. A model that continues to be essentially the same after five hundred years. 

The Brazilian State and its ideologues have always betted on the Indians eventually disappearing, and the sooner the better; for such an end they have done both the possible and the impossible, the unutterable and the abominable. It wasn’t always necessary to physically exterminate them to achieve this – as we know, the use of genocide is in full health in Brazil – but it was necessary to de-Indianize them in any way possible, transform them into “domestic workers”. Christianize them, “dress them” (as if Indians, those masters of adornment, plumage and body painting are ever really naked), prohibit them from using the languages they speak or used to speak, the costumes that defined them to themselves and submit them to a regime of work, policing and administration. But above all, severe their relationship with the earth. Separate the Indians (and all the other indigenous people) from their organic, political, social, vital relationship with the land and their communities that live off the land – this separation was always seen as a prerequisite to transforming the Indian into a citizen. A poor citizen, naturally. Because without the poor there is no capitalism; capitalism needs poor people, just as it once needed (and still needs) slaves. In order to transform the Indian into a poor person, it was and is still necessary to first separate him from his land, from the land that constitutes him as indigenous.

We, the white people sitting here on the staircase of the Municipal Chamber in Rio de Janeiro, on the 20th April 2016, feel that we are indigenous. We don’t feel we’re citizens, we don’t see ourselves as being part of the subject population of a State that never represented us, that always took away with one hand what it pretended to give with the other. We, the “white” people gathered here today, just like the rest of the diverse array of indigenous people living in Brazil: peasants, riverside dwellers, fishermen, caiçarasThe traditional inhabitants of the coastal regions of the southeastern and southern Brazil., quilombolasThe afro-Brazilian residents of quilombo settlements, first established in the colonial era by escaped slaves., sertanejos, caboclosPeople of mixed African and Indian heritage., curibocasPeople of mixed White and Indian heritage., and black and mixed-race people living in the favelas that are spread out across this country. All of these people are indigenous, because they feel connected to a place, to a portion of land – however small or poor-quality that earth might be, the size of the floor inside a hut or a backyard vegetable plot – and to a community, far more than they feel themselves to be citizens of a Greater Brazil which only serves to enlarge the bank balances of the masters who hold the power.

The land is the body of the Indians, the Indians are part of Earth’s body. The relationship between land and body is crucial. The flipside, the shadow of the separation between community and the land is the separation between people and their bodies, another key operation carried out by the State in order to create administrated populations. Consider the LGBT community, separated from their sexuality; black people, separated from their skin colour and their past as victims of slavery, that is, of radical body dispossession; think about women, separated from their reproductive autonomy. Last, but no less repugnant, think of the scoundrel Jair Bolsonaro’s sinister public praise of torture – torture, the ultimate and most absolute way of separating a person from their body. A torture which continues to be – which always was– the preferred method of separating poor people from their bodies, in the police stations and prisons of this apparently “welcoming” country. Because of all this, the struggle of the Indians is our struggle too, the indigenous struggle. The Indians are our example to follow. 

An example of secular rexistance to a ferocious war aimed at making them non-existent, making them disappear, be it by killing them, simple and plain, or be it by de-Indianizing them and turning them into “civilized citizens”, that is, poor, landless Brazilians with no means to feed themselves, forced to sell their arms – their bodies – to enrich the self-styled new masters of the land. 

Indians need the help of white people who have made common cause with their struggle and who see in them the supreme example of the unending fight between the indigenous peoples (by which I mean all of the indigenous peoples I mentioned above: the LGBT people, the black people, the female people) and the national State. But we, the “other Indians”, those of us who are not Indians but who feel more represented by the Indian peoples than we do by the politicians who govern us and the police apparatus that persecutes us up close, or by the politics of natural destruction which all successive governments have carried out by blood and fire in this country since time immemorial– we also need the help and the example of the Indians, their tactics of symbolic, legal and media guerrilla warfare against the Nation State’s Apparatus of Capture. This State wants to take its project of destroying the territories it claims to own to the bitter end. But the land belongs to the people.

I will finish with an allusion to a place not too far away from Cinelândia, where we are today. As you all know, there is a street in Botafogo named after the Voluntários da Pátria, the Volunteers of the Fatherland. Its name comes from an initiative undertaken by the State during its genocidal (and ethnocidal) war against Paraguay – Brazil always was good at this business of killing Indians, both within the country’s borders and beyond them. Lacking troops with which to take on the Guaraní army, the Imperial government created a military corps formed of volunteers, “appealing to the feelings of the Brazilian people”, as the Wikipedia entry on the initiative puts it. Pedro II presented himself for service in Urugaiana as the “first volunteer of the Fatherland”. The strength of patriotic feeling among the volunteers of the Fatherland quickly subdued; then the Government demanded that the presidents of each province recruit quotas of “volunteers”. The solution to this lamentable “lack of patriotism” among white Brazilians was, as we well know, to send thousands of black slaves as volunteers. They were the ones who died and killed in the Paraguay War. Against their will, needless to say. They were involuntary volunteers.

Now then. The Indians were the first Un-Volunteers of the Fatherland. The original indigenous people saw a “Fatherland” they had never asked for come down upon them, bringing only death, sickness, humiliation, slavery and dispossession. Those of us here today feel like Indians, like all the indigenous peoples of Brazil: we feel as if we form an enormous contingent of Un-Volunteers of the Fatherland. The un-volunteers of a Fatherland we do not want, of a government (or an un-government) which doesn’t, and which never did represent us. Nobody ever represented them, the ones who feel themselves to be indigenous. Only we can represent ourselves; or perhaps all we can say is that we represent the land – this land. Not “our land”, but the land we come from, the land who we come from. We are the Un-Volunteers of the Fatherland. Because our will is different. Un-Volunteers of every Fatherland, desert now!

Published July 2, 2019
Transcript of a public talk given during the Indigenous April event, Cinelândia, Rio de Janeiro, 20/04/2016
© Eduardo Viveiros de Castro
© Specimen 2019

Gli involontari della patria

Speech delivered in Portuguese by Eduardo Viveiros de Castro


Translated into Italian by Alessandro Lucera & Alessandro Palmieri

Da questa terra, in questa terra, per questa terra. E ora è tempo.
– Oswald de Andrade

Oggi coloro che si credono i padroni del Brasile – e che lo sono, in ultimissima analisi, perché lasciamo che lo credano, e lo sono grazie a un balzo (un editto reale, uno sparo, una catenaLibambo: catena con cui erano legati, dal collo, i condannati che uscivano dal carcere per fare qualche lavoro. [N.d.T.], una PECProposta di Emendamento Costituzionale. [N.d.T.]) – preparano la loro offensiva finale contro gli indios. C’è una guerra in corso contro i popoli indios del Brasile, appoggiata apertamente da uno Stato che dovrebbe (che deve) per dovere costituzionale proteggere gli indios e altre popolazioni tradizionali, e che sarebbe (che è) la loro ultima garanzia giuridica contro l’offensiva lanciata da questi padroni del Brasile, ovvero, i “produttori rurali” (eufemismo per “ruralisti”Traduciamo ruralistas con ruralisti, termine che si riferisce a coloro che appoggiano le riforme agrarie che mirano all’espropriazione delle terre indigene. [N.d.T], a sua volta eufemismo per “borghesia dell’agrocommercio”), il grande capitale internazionale, senza dimenticare la parte congenitamente stupida e fascista delle classi medie urbane. Stato che, come stiamo vedendo, è il principale alleato di queste forze malvagie, con il suo triplicebraccio “legittimamente costituito”, ovvero, l’Esecutivo, il Legislativo e il Giudiziario.

L’offensiva non è solo contro gli indios ma anche contro molti altri popoli indigeni. Dobbiamo quindi iniziare differenziando le parole “indio” e “indigeno”, che molti forse pensano essere sinonimi, o che “indio” sia semplicemente una forma abbreviata di “indigeno”. Non è così. In Brasile tutti gli indios sono indigeni, ma non tutti gli indigeni che vivono in Brasile sono indios.

Sono indios i membri dei popoli e delle comunità che hanno coscienza – sia perché non l’hanno mai perduta, sia perché l’hanno ritrovata – della propria relazione storica con gli indigeni che vivevano in questa terra prima della venuta degli europei. Vennero chiamati “indios” a causa del noto equivoco degli invasori che, sbarcando in America, pensavano di essere arrivati in India. “Indigeno”, invece, è una parola molto antica, senza nulla di “indio” in essa; significa “generato nella terra che gli è propria, originario della terra in cui vive”La parola indigeno viene dal latino “indigena”, “ae”originario del luogo in cui vive, generato nella terra che gli è propria’, derivazione dal latino “indu” arcaico (come “endo”) > latino classico “in-” ‘movimento verso dentro, da dentro’ + “-gena” derivazione dal radicale del verbo latino “gigno”, “is”, “genui”, “genitum”, “gignere”, “gerar”; significa ‘relativo alla popolazione autoctona di un paese o che si stabilì in tale paese anteriormente a un processo di colonizzazione’ […]; per estensione del senso (uso informale), [significa] ‘chi o cosa è originario del paese, regione o località in cui si trova; nativo.’ (Dizionario Elettronico Houaiss).. Ci sono popoli indigeni in Brasile, in Africa, in Asia, in Oceania e persino in Europa. L’antonimo di “indigeno” è “allogeno”, mentre in Brasile l’antonimo di indio è “bianco”, o meglio, le numerose parole delle oltre 250 lingue indios parlate in territorio brasiliano che vengono abitualmente tradotte in portoghese con “bianco”, ma che si riferiscono a tutte quelle persone e istituzioni che non sono indios. Queste parole indigene hanno diversi significati descrittivi, ma uno dei più comuni è “nemico”, come nel caso dello yanomami napë, del kayapó kuben o dell’araweté awin. Anche se i concetti indios riguardo l’inimicizia, o la condizione di nemico, sono decisamente diversi dai nostri, dobbiamo constatare che la parola più vicina che abbiamo per tradurre in modo diretto tali parole indigene sia “nemico”. Vada per questa.

Ma quindi questo vuol dire che tutte le persone nate in questa terra sono indigeni del Brasile? Si e no. Si nel senso etimologico informale segnalato dai dizionari: “originario del paese ecc. in cui si trova, nativo” (si veda nota 3, supra). Un colono di origine (e lingua) tedesca di Pomerode è “indigeno” del Brasile perché nato in una regione del territorio politico eponimo, così come sono indigeni un sertanejoAbitante del sertão, entroterra desertico, incolto, lontano da villaggi, da terreni coltivati e dalla costa. [N.d.T.]delle zone semiaride del nord-est, un agroboyGiovane rampollo della borghesia latifondista che ostenta la propria ricchezza. [N.d.T.]di Barretos o un agente della Borsa di São Paulo. Ma no, né il colono, né l’agroboy, né l’agente di borsa sono indigeni – chiedetelo a loro…

Sono “brasiliani”, qualcosa di molto diverso dall’essere “indigeno”. Essere brasiliano significa pensare e agire e considerarsi (e forse essere considerato) come “cittadino”, ovvero come una persona definita, registrata, protetta, controllata, assistita – insomma, valutata, contata e misurata da uno Stato-nazione territoriale, il “Brasile”. Essere brasiliano significa essere (o dover essere) cittadino, in altre parole, suddito di uno Stato sovrano, ovvero trascendente. Questa condizione di suddito (uno degli eufemismi di suddito è “soggetto [di diritti]”) non ha assolutamente nulla a che fare con la vitale e originaria relazione indigena con la terra, con il luogo dove si vive e da cui si trae il proprio sostentamento, dove si costruisce la vita con i propri parenti e amici. Essere indigeno significa avere come riferimento primordiale la relazione con la terra in cui si è nati o dove ci si è stabiliti per costruire la propria vita, sia essa un villaggio nella foresta, una cittadina nel sertão, una comunità sulla riva di un fiume o una favela nelle periferie di una metropoli. Significa essere parte di una comunità legata a un luogo specifico, ovvero, significa far parte di un popolo. Essere cittadino, al contrario, significa far parte di una popolazione controllata (allo stesso tempo “difesa” e attaccata) da uno Stato. L’indigeno guarda in basso, verso la Terra a cui è immanente; egli trae la sua forza dal suolo. Il cittadino guarda in alto, verso lo Spirito incarnato in uno Stato trascendente; egli riceve i suoi diritti dall’alto.

“Popolo” (r)esiste solo al plurale – POPOLI. Un popolo è una molteplicità singolare, che presuppone altri popoli, che abita una terra pluralmente popolata da popoli. Quando chiesero allo scrittore Daniel Munduruku se, “in quanto indio etc.”, egli tagliò subito corto: “non sono indio; sono Munduruku”. Ma essere Munduruku significa sapere che esistono Kayabi, Kayapó, Matis, Guarani, Tupinambá, e che questi non sono Munduruku, ma neanche sono Bianchi. A inventare gli “indios” come categoria generica sono stati i grandi specialisti della generalizzazione, i Bianchi, o meglio, lo Stato bianco, coloniale, imperiale, repubblicano. Lo Stato, al contrario dei popoli, consiste solo al singolare della propria universalità. Lo Stato è sempre unico, totale, un universo in sé stesso. Anche se esistono molti Stati-nazione, ognuno è un’incarnazione dello Stato Universale, un’ipostasi dell’Uno. Il popolo ha la forma del Molteplice. Obbligati a scoprirsi “indios”, gli indios brasiliani hanno scoperto di essere stati unificati nella generalizzazione da un potere trascendente, unificati per meglio essere de-moltiplicati, amalgamati, brasilianizzati. Il povero è prima di tutto qualcuno a cui si è strappato qualcosa. Per trasformarlo da indio a povero, il primo passo è trasformare il Munduruku in indio, poi in indio amministrato, poi in indio assistito, poi in indio senza terra.

E nonostante ciò, i popoli indigeni originari che furono indianizzati dalla generalità del concetto per essere meglio de-indianizzati dalle armi del potere, oggi si rendono conto, nella loro irriducibile molteplicità, di essere il bersaglio principale di queste armi, e si uniscono contro l’Uno, ribattono dialetticamente contro lo Stato accettando questa generalizzazione ed esigendo da quest’ultimo i diritti che tale generalizzazione conferisce loro, attraverso il testo e lo spirito della Costituzione Federale del 1988. E invadono il Congresso. Niente di più giusto che gli invasi invadano il quartier generale degli invasori. Operazione di guerriglia simbolica, senza dubbio, incommensurabile alla massiva guerra reale (ma anche simbolica) che muovono loro gli invasori. Ma i signori del potere li accusano di golpe e si affrettano ad attuare il proprio contro golpe. Per usare la parola del giorno, golpe è ciò che si prepara nei corridoi moquettati di Brasília contro gli indios, sotto forma, tra le altre, della PEC 215La PEC 215 è una proposta di emendamento alla Costituzione Brasiliana attraverso la quale, tra le altre cose, si vuole delegare esclusivamente al Congresso la demarcazione della terra indigena e bloccare ogni nuova richiesta da parte dei popoli indigeni. Il dibattito per la votazione dell’emendamento costituzionale è ancora in corso. [N.d.T.]. 

Gli indios sono i primi indigeni del Brasile. Le terre che occupano non sono di loro proprietà – non solo perché i territori indigeni sono “terre dell’UnioneLa Federazione Brasiliana è composta da stati, distretti Federali e municipi. Questi tre elementi vengono definiti União – Unione. [N.d.T.]”, ma perché sono loro ad appartenere alla terra e non il contrario. Appartenere alla terra, e non esserne proprietario, è ciò che definisce l’indigeno. In questo senso, oltre agli indios, molti popoli e comunità del Brasile possono dirsi, perché si sentono, indigeni molto più che cittadini. Non si riconoscono nello Stato, non si sentono rappresentati da uno Stato dominato da una casta di potenti e dai loro burattini e sgherri alloggiati nel Congresso Nazionale e nelle altre istanze dei Tre Poteri. Gli indios sono i primi indigeni a non riconoscersi nello Stato Brasiliano, perché sono stati perseguitati per cinque secoli: sia direttamente, attraverso le “guerre giuste” del tempo del colonialismo, le leggi dell’Impero, le amministrazioni indigeniste repubblicane che li hanno sfruttati, maltrattati, e, a volte, molto timidamente difesi (quando andavano troppo in là, lo Stato gli tarpava le ali); sia indirettamente, grazie al sollecito appoggio che lo Stato ha sempre dato a tutti i tentativi di de-indianizzare il Brasile, ripulire la terra dai suoi occupanti originari per impiantare un modello di civiltà che non è mai servito a nessuno se non ai potenti. Un modello che continua essenzialmente nello stesso modo da cinquecento anni.

Lo Stato brasiliano e i suoi ideologi hanno sempre scommesso che gli indios sarebbero scomparsi, e meglio se il più rapidamente possibile; fecero il possibile e l’impossibile, ma anche l’innominabile e l’abominevole. Non che fosse sempre necessario sterminarli fisicamente per farlo – ma, come sappiamo, il ricorso al genocidio è ancora ampiamente in vigore in Brasile – ma era necessario de-indianizzarli in ogni modo, trasformarli in “lavoratori nazionali”Il primo nome dell’SPI repubblicano (Servizio di Protezione degli Indios) era SPILTN: Servizio di Protezione degli Indios e Localizzazione dei Lavoratori Nazionali. Restò SPILTN dal 1910 al 1918, poi solo SPI, prima di diventare FUNAI nel 1967, dopo che una CPI [Commissione Parlamentare di Inchiesta] rivelò una infinità di abusi, soprusi, diverse violenze, sfruttamento e altri benefici di protezione conferiti dallo Stato.. Cristianizzarli, “vestirli” (come se qualcuno abbia mai visto indios nudi, questi maestri dell’ornamento, dell’arte plumaria e della pittura corporale), proibirgli le lingue che parlano o parlavano, i costumi che li definivano, sottometterli a un regime di lavoro, polizia e amministrazione. Ma, cosa più importante, troncare la loro relazione con la terra. Separare gli indios (e tutti gli altri indigeni) dalla loro relazione organica, politica, sociale, vitale con la terra e con le loro comunità che vivono della terra – questa separazione è sempre stata vista come condizione necessaria per trasformare l’indio in cittadino. In cittadino povero, naturalmente. Perché senza poveri non c’è capitalismo, il capitalismo ha bisogno di poveri, come necessitò (e ancora necessita) di schiavi. Trasformare l’indio in povero. Per farlo, è stato necessario prima di ogni altra cosa separarlo dalla sua terra, dalla terra che lo costituisce in quanto indigeno.

Noi, i bianchi che ora siamo seduti sulla scalinata della Camera Municipale di Rio de Janeiro, il 20 aprile del 2016, noi ci sentiamo indigeni. Non ci sentiamo cittadini, non ci vediamo come parte di una popolazione suddita di uno Stato che non ci ha mai rappresentato, e che ha sempre preso con una mano quello che fingeva di dare con l’altra. Noi “bianchi” che siamo qui, così come molti altri popoli indigeni che vivono in Brasile: contadini, rivieraschi, pescatori, caiçarasTermine di origine tupi che si riferisce agli abitanti delle zone litorali. Le comunità caiçaras nacquero nel XVI secolo, in seguito all’incrocio tra bianchi, neri e indios. [N.d.T.], quilombolasSchiavi fuggitivi che fondarono piccoli villaggi comunitari detti quilombo. [N.d.T.], sertanejos, meticci, mezzosangue, neri e “mulatti” abitanti della favelas che coprono questo paese. Tutti questi sono indigeni, perché si sentono molto più legati a un luogo, a un pezzo di terra – per quanto piccola o brutta sia questa terra, grande come il pavimento di una baracca o come un orto sul retro di casa – e a una comunità, che cittadini di un Grande Brasile che ingrandisce solo le dimensioni dei conti bancari dei signori del potere.

La terra è il corpo degli indios, gli indios sono parte del corpo della Terra. La relazione tra terra e corpo è cruciale. La separazione tra la comunità e la terra ha come parallelo, come sua ombra, la separazione tra le persone e i loro corpi, altra operazione indispensabile eseguita dallo Stato per creare popolazioni amministrate. Si pensi alle persone LGBT separate dalla loro sessualità; ai neri, separati dal colore della loro pelle e dal loro passato di schiavitù, ovvero, una spoliazione corporale radicale. Si pensi alle donne, separate dalla propria autonomia riproduttiva. Si pensi, infine, al non meno ripugnante e sinistro elogio pubblico della tortura fatto dalla canaglia Jair BolsonaroJair Bolsonaro, Presidente del Brasile dal 1º gennaio 2019, era, all’epoca, deputato federale dello Stato di Rio de Janeiro. [N.d.T.]– la tortura, modo ultimo e più assoluto di separare una persona dal proprio corpo. Tortura che continua a essere – che è sempre stata – il metodo principale per separare i poveri dai loro corpi, nei commissariati e nelle carceri di questo paese così “cordiale”. Per questo la lotta degli indios è anche la nostra lotta, la lotta indigena. Gli indios sono il nostro esempio.

Un esempio di resistenza secolare a una guerra feroce contro di essi per annientarli, farli scomparire, sia semplicemente uccidendoli, sia de-indianizzandoli e trasformandoli in “cittadini civilizzati”, ovvero, in brasiliani poveri, senza terra, senza mezzi di sussistenza propri, obbligati a vendere le proprie braccia – i propri corpi – per arricchire i pretesi nuovi signori della terra.

Gli indios necessitano dell’aiuto dei bianchi che solidarizzano con la loro lotta e che riconoscono in essi il miglior esempio di lotta perpetua tra i popoli indigeni (tutti i popoli a cui mi riferivo più sopra: il popolo LGBT, il popolo nero, il popolo delle donne) e lo Stato nazionale. Ma noi, gli “altri indios”, quelli che non sono indios ma si sentono molto più rappresentati dai popoli indios che dai politici che ci governano e dall’apparato poliziesco che ci perseguita da vicino, dalle politiche di distruzione della natura condotte a ferro e a fuoco da tutti i governi che da sempre si susseguono in questo paese – anche noi altri abbiamo bisogno dell’aiuto, e dell’esempio, degli indios, delle loro tattiche di guerriglia simbolica, giuridica, mediatica contro l’Apparato di Cattura dello Stato-nazione. Uno Stato che sta portando fino alle ultime conseguenze il suo progetto di distruzione del territorio che rivendica come proprio. Ma la terra è dei popoli.

Concludo con un’allusione al nome di una strada non molto distante da questa CinelândiaUna delle prime cinque stazioni della metro di Rio de Janeiro. [N.d.T.]dove ci troviamo ora. Come tutti voi sapete a Botafogo esiste una strada Volontari della Patria. Il suo nome proviene da un’iniziativa intrapresa dall’Impero durante la sua guerra genocida (o etnocida) contro il Paraguay – il Brasile è sempre stato bravo ad ammazzare indios, sia al di qua che al di là delle sue frontiere. Carente di truppe per affrontare l’esercito guarani, il Governo imperiale creò corpi militari di volontari, “appellandosi ai sentimenti del popolo brasiliano”, come scrive la voce di Wikipedia riguardo l’iniziativa. Pedro IIPedro II, detto il Magnanimo, (Rio de Janeiro, 2 dicembre 1825 – Parigi, 5 dicembre 1891) fu il secondo e ultimo imperatore del Brasile. [N.d.T.]si presentò all’UruguaianaFamosa strada di Rio de Janeiro. [N.d.T.]come il “primo volontario della patria”. Non passò molto tempo prima che il patriottismo dei volontari del paese si raffreddasse; presto il Governo centrale passò a esigere dai presidenti delle provincie che reclutassero contingenti di “volontari”. La soluzione a questa deprecabile “mancanza di patriottismo” dei bianchi brasiliani fu, come si sa, mandare migliaia di schiavi neri come volontari. Furono loro a uccidere e a morire nella Guerra del Paraguay. Costretti, inutile dirlo. Volontari involontari.

Bene. Gli indios furono e sono i primi Involontari della Patria. I popoli indigeni originari si sono visti cadere in testa una “Patria” che non hanno chiesto, e che gli ha portato solo morte, malattia, umiliazione, schiavitù e spoliazione. Noi qui ci sentiamo come gli indios, come tutti gli indigeni del Brasile: come parte di un enorme contingente di Involontari della Patria. Gli involontari di una patria che non vogliamo, di un governo (o malgoverno) che non ci rappresenta e mai ci ha rappresentato. Nessuno ha mai rappresentato coloro che si sentono indigeni. Solo noi stessi possiamo rappresentarci, o forse, solo noi possiamo dire che rappresentiamo la terra – questa terra. Non la “nostra terra”, ma la terra di dove siamo, di cui siamo. Siamo gli Involontari della Patria. Perché altra è la nostra volontà. Involontari di tutte le Patrie, disertate! 

Published July 2, 2019
Discorso pubblico pronunciato durante Abril Indígena, Cinelândia, Rio de Janeiro il 20 aprile del 2016.
© Eduardo Viveiros de Castro 2016
© Alessandro Lucera & Alessandro Palmieri 2016


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What is the process of assimilation implemented by the Brazilian state towards the Indian peoples? And what does their resistance mean for us? Inextricably linked to the land that generated them, the Indians and other indigenous peoples of Brazil are a living example of how it is still possible to resist the machine of Western civilisation. The exploitation of natural resources and the consequent destruction of forests and of all their human and non-human inhabitants clearly goes through the assimilation of all these peoples, for which an intrinsic link to the earth is still the only possible way of living. Through this public talk given during the Indigenous April event, Edoardo Viveiros de Castro tells us how the Brazilian state is preparing to launch its final offensive against the Indians. Held a few days after the symbolic occupation of the Congress by the Indian communities, it tells us how an alliance between all the minor peoples of the earth is possible. The Indians of Brazil are the first “Un-Volunteers of the Fatherland” and thanks to their five hundred-year resistance against whites they are a very rich source of inspiration, for those who no longer believe in the promise of happiness boasted by this economic system.

In cosa consiste il processo di assimilazione messo in atto dallo stato brasiliano nei confronti dei popoli indios? E cosa rappresenta per noi la loro resistenza? Legati indissolubilmente alla terra che li ha generati, gli indios e le altre popolazioni indigene del Brasile sono un esempio vivo di come sia ancora possibile resistere alla macchina civilizzatrice occidentale. Lo sfruttamento delle risorse naturali e la conseguente distruzione delle foreste e di tutti i loro abitanti umani e non umani passa chiaramente per l’assimilazione di tutti quei popoli per cui un legame immanente alla terra rappresenta ancora l’unica forma di vita possibile. Attraverso questo discorso pubblico tenuto durante l’Aprile Indigeno del 2016 Edoardo Viveiros de Castro, ci racconta di come lo stato brasiliano si stia preparando a sferrare l’offensiva finale nei confronti degli indios. Tenuto a pochi giorni dall’occupazione simbolica del Congresso da parte delle comunità indios ci racconta di come sia possibile un’alleanza tra tutti i popoli minori della terra. Gli indios del Brasile sono i primi “Involontari della patria” e grazie alla loro cinquecentenaria resistenza nei confronti dei bianchi sono, per coloro che non credono più alla promessa di felicità sbandierata da questo sistema economico, una ricchissima fonte di ispirazione. 


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